GABRIELA BONIN
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Assim como os humanos, os animais também passam por situações de emergência que demandam um suporte profissional adequado para sua sobrevivência. Por isso, o trabalho em ambulâncias faz parte do dia a dia de alguns médicos veterinários, que cruzam cidades para transportar e atender cães, gatos e até mesmo animais silvestres ou de grande porte.
Algumas cidades paulistas contam com iniciativas municipais de UTI móvel, que oferecem atendimento gratuito de emergência a animais de rua. Já na capital, o serviço é somente particular e mais voltado ao transporte de cães e gatos que precisam de suporte.
Em Campinas (96 km de SP), um serviço de atendimento móvel de urgência a cães e gatos foi criado em 2015 e ficou conhecido como Samu Animal.
“Nosso recorte de atendimento são animais sem dono, atropelados ou doentes e encontrados em vias e logradouros públicos”, explica Paulo Anselmo, veterinário do Departamento de Proteção e Bem Estar Animal (DPBEA) da Prefeitura de Campinas.
A UTI móvel fica à disposição 24 horas por dia e conta com um médico veterinário, um auxiliar e um motorista. Uma equipe de regulação faz uma triagem ao receber o chamado, buscando manter o atendimento exclusivo para animais de rua, sem ser acionado por tutores e donos de cães ou gatos.
“O Samu não é só a viatura, há todo um atendimento de retaguarda”, esclarece Anselmo. A ambulância tem todos os equipamentos necessários para o primeiro atendimento no local, mas, depois, o animal é levado ao DPBEA, onde passa por exames e, no caso de trauma, cirurgias.
Uma vez recuperados, os animais são colocados para adoção. “Temos em média 1,5 atendimentos de cães e gatos por dia, considerando os 365 dias do ano. 41% das causas são atropelamentos”, diz o veterinário. O serviço consegue salvar mais da metade dos animais atendidos, já que, por serem casos graves, a taxa de letalidade é de 47%.
Segundo Anselmo, o objetivo é trabalhar para que o serviço do Samu Animal deixe de ser necessário. “Temos uma estrutura de castração móvel que castra 200 animais de rua por dia. Além de diminuir a letalidade, queremos diminuir a quantidade de animais abandonados para minimizar a necessidade do serviço de urgência”, defende.
A cidade também conta com um veículo de transporte de animais de grande porte, como bovinos e equinos. Não é uma UTI móvel, mas o veículo possibilita trazer os animais para serem atendidos pelo departamento.
Uma iniciativa semelhante atua em Bragança Paulista (87 km de SP): o SamuVet. A ideia surgiu como parte do trabalho de conclusão de curso de Medicina Veterinária do tenente do Corpo de Bombeiros da Polícia Militar, Claudio Zago.
A proposta de Zago foi acatada pela prefeitura e, em 2019, o serviço móvel de urgência e emergência veterinária foi implementado no município. Desde então, uma ambulância atua no atendimento de animais de rua sem tutor vítimas de trauma ou doenças.
Após os primeiros socorros, os animais resgatados são levados ao Abrigo Municipal de Cães e Gatos, que conta com uma clínica onde exames e cirurgias são realizados. Todo o trabalho é fruto de uma parceria com a Associação de Proteção aos Animais Faros d’Ajuda, que administra o serviço terceirizado.
“O objetivo principal é a qualidade de vida do animal”, diz o tenente e médico veterinário que coordena o SamuVet. A média é de dez atendimentos por dia, explica Zago. “Atendemos não só a área urbana da Bragança, mas também a área rural.”
De acordo com o profissional, o serviço foi criado para atender cães e gatos, mas oferece os primeiros socorros também para animais silvestres, caso necessário. No atendimento, os veterinários estabilizam os parâmetros vitais e encaminham os animais para a Associação Mata Ciliar, ONG que executa trabalhos com espécies silvestres e faz a soltura das recuperadas.
Questionada pela reportagem sobre iniciativas semelhantes na capital, a Prefeitura de São Paulo afirma que o atendimento clínico e cirúrgico aos animais é realizado por meio dos hospitais veterinários públicos, exclusivo aos munícipes e, prioritariamente, àqueles assistidos por programas sociais.
“A Cosap (Coordenadoria de Saúde e Proteção ao Animal Doméstico) informa que o transporte do animal até o Hospital Veterinário deve ser realizado pelo seu tutor”, diz a nota da administração.
CAPITAL PAULISTA
Em São Paulo, o esquema das ambulâncias animais é diferente. Os serviços existentes são oferecidos por empresas particulares, que estão disponíveis 24 horas por dia para dar suporte necessário no transporte de animais de estimação.
“Atendemos principalmente pacientes interhospitalares, ou seja, de clínicas de menor suporte para hospitais maiores. Por exemplo, clínicas de bairro que conseguem fazer um primeiro atendimento, mas não tem equipamento suficiente para manter aquele paciente por mais tempo”, explica Gabriela Caldas, 28, médica veterinária da Osgate, serviço de ambulância veterinária.
Segundo Gabriela, a Osgate também atende em casa animais que estejam passando mal e muito instáveis. “O transporte de carro pode ser muito perigoso, então o tutor nos chama, vamos até a casa dele, fazemos um primeiro atendimento e levamos o animal para um hospital”, relata.
Na maior parte dos casos, esclarece a veterinária, os atendimentos são para animais com alterações respiratórias ou dor intensa, o que faz com que o transporte precise ser feito com o suporte da ambulância.
A Osgate atende chamados na região metropolitana de São Paulo e em outras cidades, como Santos, Jundiaí e São José dos Campos. Os valores cobrados pela empresa dependem da gravidade do paciente e da distância a ser percorrida pela ambulância e, hoje, variam entre R$600 a R$1500 por atendimento.
De acordo com Gabriela, a média é de 40 a 60 transportes de animais por mês. “Trabalhar com emergência é muito difícil, porque você está lidando com pacientes muito graves, mas, ao mesmo tempo, é gratificante conseguir fazer algo por aquele animal e dar esperança para sua sobrevivência”, argumenta a profissional.
Para a médica veterinária da Vita Ambulância Veterinária, Camila Peloso Bello, 37, há uma dificuldade financeira no mercado, já que os equipamentos são caros e fazem com que o serviço tenha que ser oferecido com preços que não agradam a todos.
Camila é uma das sócias da Vita, serviço de ambulância que começou a atuar no começo deste ano. Atualmente, a média é de 25 atendimentos por mês e, a partir de dezembro, esse número salta para 50, segundo ela. O valor varia de R$350 a R$850 por transporte, a depender do trajeto e da demanda do animal.
“Fazemos de tudo para atender os chamados em até uma hora”, relata. “Ver os efeitos, a melhora e a recuperação dos animais é sempre muito satisfatório. Fazer a diferença é o que nos motiva.”
TUTORES SÃO GRATOS
Cuidar de seu animal de estimação em estado grave é um momento difícil para qualquer um. Em São Paulo, tutores que precisaram do serviço de ambulância pontuam a importância de profissionais empáticos e que fazem de tudo para ajudar seus pets.
É o caso do advogado Sergio Ridel, 77, que foi tutor de um cão pequinês chamado Napoleão. O animal tinha 15 anos e, em julho de 2020, precisou de atendimento médico por estar em seu processo terminal.
Napoleão passou 40 dias em uma UTI veterinária. Segundo Sergio, o estado de saúde do cão já estava muito debilitado, o que poderia fazer com que outros animais fossem priorizados na UTI. “A morte dele era uma questão de tempo e eu queria que ele morresse junto de mim”, relata.
Por isso, o advogado contratou o serviço de ambulância veterinária da Osgate. Durante cerca de um mês, a equipe fez o transporte diário de Napoleão da UTI para casa e vice versa. O objetivo era que o animal pudesse passar as noites em casa e, durante a manhã e tarde, recebesse atendimento no hospital veterinário.
“Os profissionais da equipe, seja a médica veterinária ou o motorista, foram os amigos que eu tive naquela hora triste”, conta Sergio. “O apoio emocional que eles me deram foi essencial, assim como a dedicação com o Napoleão.”
A estudante de medicina veterinária Maria Carolina Graf Simões, 21, também precisou do serviço de ambulância. Seu cachorro Floquinho, um lhasa apso, tinha 12 anos quando os tutores descobriram um problema no fígado.
Após um mês de tratamento em uma clínica no Butantã (zona oeste), seu estado de saúde foi se agravando, ele teve uma infecção generalizada e precisou ser transferido para uma UTI em Moema (zona sul).
“Eu estava desesperada, meu cachorro poderia morrer a qualquer momento e eu busquei ajuda”, conta Maria Carolina. Ela contratou o pessoal da Osgate para fazer o transporte do animal, que precisava se suporte respiratório.
“O que me marcou muito foi que toda a atenção deles foi para o Floquinho. Era exatamente o que eu queria naquele momento, que cuidassem dele”, diz a estudante. “Me deu alívio ver que eu fiz aquilo por ele.”
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