Aleksa Marques / Da Redação
-Alô, é do Cine Paranavaí? Eu gostaria de saber qual filme está em cartaz hoje, por favor.
– Hoje o filme é Ben-Hur, colorido, às 20h.
-Obrigado.
Era assim a conversa por telefone quando alguém queria saber a programação do cinema na década de 1950 na cidade. Feito isso, o namorado convidava gentilmente sua amada para uma sessão em um encontro romântico e cuidadosamente planejado. Colocavam suas melhores roupas, penteavam os cabelos e passavam a colônia reservada para momentos especiais. Ir ao Cine Paranavaí era um deles.
História viva do município, “seo” Osvaldo Del Grossi, filho de um dos precursores do cinema aqui em Paranavaí, o já falecido Silvério Del Grossi, relembra com orgulho do legado de sua família, que, juntamente com os outros tios, marcaram época e deixaram muitas lembranças na memória dos moradores da região.
“O primeiro cinema que tivemos na cidade foi o Cine Paramount do Manoel Paulino, um cinema mais antigo de madeira. E depois, em janeiro de 1953 começou a construção do Cine Paranavaí, que foi inaugurado no dia 10 de dezembro do mesmo ano. Era o início de um legado na indústria cinematográfica.” A construção imponente chamava a atenção e hoje corresponde ao Sicoob, no centro da cidade.
Ele lembra também que os médicos que iam assistir aos filmes, deixavam o número de telefone do hospital na recepção do cinema, caso alguém precisasse com urgência. Além disso, como a colônia japonesa era muito numerosa e duas vezes por semana tinha uma sessão exclusiva com filmes japoneses para atender a este público e também aos domingos, nas matinês.
“Fazíamos festivais de filmes Bang-Bang que lotavam as 1200 cadeiras disponíveis e, às vezes, as pessoas ficavam em pé. Outros filmes aclamados foram Bem-Hur, Love Story, Dio Come ti Amo, Marcelino Pão e Vinho e os clássicos do humor de Mazzaropi que vinham da distribuidora de Botucatu, no interior de São Paulo”, conta Osvaldo.
E não somente os moradores de Paranavaí participaram, toda a região estava presente inclusive as famílias das áreas rurais que aproveitavam os feriados para um pouco de diversão. Logo os negócios precisam se expandir devido à demanda de espectadores e mais uma porta foi aberta na cidade para a venda de pipoca quentinha, dos doces da bomboniere e dos convites que tinham preços acessíveis para aqueles tempos.
E em 27 de janeiro de 1961 a Cidade Poesia ganhava o aclamado Cine Ouro Branco, nome advindo da grande produção de algodão da época, onde hoje temos o Premier Shopping Business, na rua Manoel Ribas. A energia elétrica usada vinha de motores com geradores que a empresa possuía. Antes da chegada do xênon, o carvão era responsável por transformar as películas de 35mm em filmes refletidos nas telonas do cinema.
Um show à parte – A empresa da família Del Grossi foi responsável ainda por receber grandes shows em sua trajetória. Artistas como o rei Roberto Carlos, o cantor Miguel Aceves Mejía e seus Mariachis, a banda Os Incríveis e até mesmo o próprio Mazzaropi se apresentaram nas salas de exibição aqui em Paranavaí.
“Era incrível e a cidade toda ia à loucura vendo os artistas aqui de pertinho. Fico muito feliz em fazer parte dessa história que começou com meu tio, Alcides Del Grossi, quando ele abriu um cinema em Maringá e, anos depois, expandiu vindo para cá, explica.”
O FEMUP, Festival de Música e Poesia de Paranavaí, começou no Cine Paranavaí e, posteriormente, foi para o Ouro Branco até o seu fechamento na década de 1980. Osvaldo lembra que as opções de entretenimento cresceram muito naquela época e o cinema não reinava mais sozinho. Por este motivo, tiveram que fechar as portas primeiramente o Cine Paranavaí. Uma década depois, as portas do Cine Ouro Branco também se fechariam para sempre.
Mesmo em meio a tantos filmes, duas músicas ficaram gravadas na memória de quem passava pelo empreendimento. Chamadas de prefixos, as canções “Lisboa Antiga” e “A Summer Place”, tema do filme “Amores Clandestinos” de 1959, ficaram eternizadas pelo país na maioria das salas da época.
Antes do filme começar, os rapazes ficavam no corredor paquerando as moças sentadas em suas cadeiras. Quando o prefixo começava a tocar, eles sabiam que era a hora de sentar, pois o filme estava prestes a começar.
Para quem não viveu esta época, uma inspiração para a próxima vez que for ao cinema . Para quem sentou nas poltronas e assistiu a tantas películas graças à família Del Grossi, recordações que o tempo não será capaz de apagar.
Convidado pelo então coletor federal de Santa Isabel do Ivai, Edgar Santa Maria, fomos assistir Cauby Peixoto no Ouro Branco, em 1962. Fomos no jipe dêle, a única condução que se dispunha a enfrentar areiões e barreiros das estradas de então. Depois do show, jantamos juntos, Cauby, Edgar e eu, no Soccy Fruta (?), point na época. Edgar e Cauby eram amigos desde o Rio de Janeiro.