Minha preciosidade
Como acaba o amor entre um casal? Essa foi a pergunta que Roberto se fez naquela manhã.
Em sua juventude, ele lera muito a respeito, especialmente para não deixar que a chama da paixão se extinguisse, na medida da soma dos anos de matrimônio.
Lembrava de ter lido que o amor desaparece quando não existe reciprocidade, quando a outra pessoa não se comunica, quando deixa de haver um relacionamento físico, quando uma das partes se torna um fardo para a outra.
E ele se esforçara para que cada dia fosse único para ambos. Lembrava de comprar flores em comemoração nenhuma, somente para surpreender a esposa e a ver sorrir.
Telefonava, em pleno expediente, só para dizer: Amor, eu te amo!
Mas, muito cedo, Muriel, a esposa amada, sucumbira nas sombras do Mal de Alzheimer. Por que chegara tão cedo, apagando a luz dos seus olhos brilhantes?
Ele a olhava e via que ela continuava a ser uma mulher adorável.
Roberto deixara a profissão para se dedicar, inteiramente, aos cuidados dela. No entanto, tantas vezes, ele lhe falava, lhe falava, sem que ela conseguisse entender as palavras dele e muito menos lhe responder.
Certo dia, um aluno o encontrou, no supermercado e lhe perguntou, de chofre: Reitor, o senhor não sente falta do seu cargo, da sua atividade?
Ele jamais pensara antes a respeito. Lembrou do quanto lhe era gratificante seu trabalho. Ao mesmo tempo, se deu conta do quanto tivera que aprender para cuidar da casa, cozinhar, atender as necessidades todas de sua amada.
Naquela noite, em suas preces, abriu seu coração: Pai Celeste, eu gosto do que estou fazendo. Não tenho nenhum arrependimento. Atender a mulher que amo, estar ao lado dela, cuidá-la, me faz feliz.
No entanto, meu Pai, quando o treinador deixa o jogador no banco de reservas é porque não o quer no jogo. Então, me pergunto: por que me retiraste do jogo?
Na manhã seguinte, como habitualmente, ele saiu com a esposa a caminhar, ao redor do quarteirão. Andavam lentamente, dadas as dificuldades dela. Ele a segurava firme pelo braço, a fim de lhe transmitir segurança.
Um casal abraçado, andando na calçada…
Um andarilho passou por eles. Por um instante, olhou os dois e comentou: Muito bem. Gostei. Gostei disso.
E seguiu pela rua, repetindo: Gostei disso. Muito bem. Gostei.
Quando retornaram ao lar, as palavras daquele homem voltaram à mente de Roberto. Foi, então, que ele entendeu. O Senhor havia lhe respondido por meio da boca daquele andarilho.
Em voz alta, como se desejasse que os céus ouvissem, falou: Tu me respondeste, bom Deus. “Muito bem. Gostei.” Essa foi a Tua mensagem.
Entendi. Eu posso estar sentado no banco de reservas, mas se estás gostando disso e dizes que é bom, é isso o que importa…
Com certeza, Senhor, minha vida é mais feliz do que noventa e cinco por cento dos que vivem neste planeta.
Muriel é minha preciosidade. E se me permites estar ao seu lado, ouvir os seus silêncios, olhar seus olhos que parecem apagados, mergulhados no vazio, eu agradeço.
Obrigado, Senhor, por me permitir cuidar tão bem da minha preciosidade.
Redação do Momento Espírita, com base no cap.
Ela é minha preciosidade, de Robertson McQuilkin,
do livro Histórias para o coração 2, de Alice Gray,
ed. Limited Pres.
Correspondência para:
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