O menino pobre, vendedor ambulante de jornais, sai da redação com seu pacote.
A plenos pulmões, vai ao mercado municipal e brada aos ouvidos moucos:
Extra, extra! Fim das guerras na Terra. Um acordo mundial de paz entre as nações encerrou todos os conflitos. Extra, extra!
Olha o jornal, saindo agora da redação!
Não houve quem não se interessasse pela animadora notícia. Comerciantes de frutas, atacadistas de secos e molhados, verdureiros, ambulantes deram ligeira pausa na agitação da feira pública e muitas mãos ávidas fizeram as moedas chegar mais depressa ao bolso do moleque encantador.
A notícia não era falsa. Era o editorial, estampado na primeira página como manchete e trazendo o pensamento de um articulista desconhecido.
Em histórica reunião da ONU – Organização das Nações Unidas – na noite de ontem, líderes e embaixadores credenciados de todos os países, com assento no prédio em Nova York, decidiram, coletivamente, adotar uma postura histórica, que vai alterar os rumos da civilização no planeta.
São estes os principais pontos da resolução do milênio:
Todas as guerras em curso, pequenas ou grandes, estão suspensas, por tempo indeterminado, permitindo que as partes em conflito busquem uma solução negociada, sob patrocínio de mediadores indicados pela ONU;
As nações que assinam essa resolução abrem mão de investimentos em armas, munição, artefatos de destruição de qualquer espécie, doravante direcionando tão vultosos recursos para edificação de escolas e hospitais;
As pátrias mais ricas financiarão projetos de longo curso em países pobres ou em desenvolvimento, com ênfase na qualificação profissional, alfabetização de crianças e jovens e acesso ao mercado de trabalho, em condições que permitam o resgate da dignidade da pessoa humana;
As religiões serão amparadas e respeitadas em seus locais de culto, facultando que cada um encontre seu alimento espiritual sem o travo da intolerância e do fanatismo;
A casa será chamada lar e sua intimidade é inviolável, permitindo que os pares, unidos pelo amor, decidam os melhores rumos da prole e das próprias vidas;
Propõe-se às nações, que ora assinam esta resolução, sugerirem aos seus cidadãos a abolição de muros e cercas, e o compartilhamento da mesma internet, podendo cada um chorar em público sem receio de ter sua ferida exposta;
A religião universal passa a ser o amor, sustentando quatro colunas: tolerância para quem pensa diferente, paciência no trato com os mais carentes, fraternidade sem fronteiras e perdão incondicional de ofensas e agressões.
* * *
Mal vendeu seu último exemplar, disputado por feirantes e compradores, o menino saiu correndo, ébrio de felicidade, e desapareceu numa viela pobre.
Quem leu com atenção logo percebeu que se tratava de um artigo enviado à redação do jornal por um leitor anônimo, que optou por assinar com duas letras: J C.
Nada mais que isso.
E por mais que fosse procurado na pequena cidade, o moleque jornaleiro nunca mais foi encontrado. Seu paradeiro, até hoje, é discutido em intermináveis rodas de conversa.
Redação do Momento Espírita com base em
mensagem do Espírito Marta, psicografia de
Marcel Mariano, em 3.11.2023, em Salvador/BA.
Correspondência para:
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