CARLOS PETROCILO
DA FOLHAPRESS
Fundado em 1924, o Athletico conquistou o seu único título do Campeonato Brasileiro há 20 anos, exatamente no dia 23 de dezembro de 2001. Um feito celebrado como o ponto de partida da agremiação no cenário do futebol brasileiro.
Em uma decisão improvável, na qual o Athletico eliminou o favorito São Paulo (com Kaká em campo) pelas quartas de final, e o São Caetano superou outro forte candidato, o Atlético-MG (de Marques e Guilherme no ataque), na semifinal, os paranaenses levaram a melhor.
Para Eugênio Machado Souto, 73, o técnico Geninho, a conquista premiou o nível de organização e estrutura do clube, algo incomum no futebol brasileiro naquela ocasião. Dois anos antes, em 1999, o Athletico havia inaugurado o centro administrativo e técnico Alfredo Gottardi, conhecido como CT do Caju, em Curitiba
Em uma área de 220 mil metros quadrados, com quatro campos com medidas oficiais e o outro com dimensões menores, cancha de areia, quadras, sala de musculação, piscinas, além centro médico (composto por profissionais de nutrição, psicologia, fisiologia e fisioterapia) e alojamento para mais de 80 pessoas.
“O clube já vinha iniciando uma evolução e, hoje, se equipara aos grandes. A infraestrutura, em 2001, era superior em comparação a maioria dos times brasileiros. Perdia apenas para São Paulo e Cruzeiro. O Atlético-MG estava começando com a Cidade do Galo”, recorda Geninho, em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo.
Antes de assumir o Athletico, o treinador comandou o Santos no primeiro semestre e deixou o time paulista após ter sido eliminado pelo Corinthians na semifinal do estadual. A derrota, com gol de Ricardinho aos 47 minutos do segundo tempo, deixou Geninho arrasado.
“Eu digo que, em 2001, sofri a minha maior decepção no futebol, em maio, e no final tive a minha maior alegria”, diz o técnico.
Geninho assumiu o Athletico após dez partidas naquele Nacional (foram 31 jogos, no total, com 19 vitórias, seis derrotas e seis empates).
Antes dele, Mário Sérgio, morto na queda do voo da Chapecoense em 2016, foi o comandante e não resistiu após quatro derrotas (São Paulo, Vasco, Palmeiras e Fluminense) e um empate (com o Santos).
O clima no vestiário estava péssimo depois de Mário Sérgio criticar a postura do elenco, após o empate com os santistas.
“Ou o Athletico acaba com a noite ou a noite acaba com o Athletico”, afirmou Mário Sérgio, irritado com a queda de rendimento em campo em meio aos boatos sobre os atletas caírem nas baladas.
Na estreia de Geninho, no dia 16 de setembro, o Athletico venceu a Portuguesa e, na sequência, ficou 11 jogos sem saber o que era derrota.
O Athletico terminou a primeira fase na vice-liderança, atrás somente do São Caetano. “O grupo realmente estava abusando [nas noites]. Fiz uma reunião com o grupo e mostrei os jornais. O Mário fez essa declaração, e eu a utilizei a nosso favor. Disse a eles, ‘os prejudicados são vocês’, e o grupo deu uma resposta muito rápido.”
Classificado às quartas de final do Brasileiro [o formato por pontos corridos foi adotado em 2003], o capitão da equipe, o zagueiro Nem, fez reunião com os demais jogadores. Como pacto pela conquista, o elenco pediu para morar no CT do Caju e o deixar somente com a taça ou em caso de eliminação.
“Os jogadores ficaram por mais de um mês ali, o CT é um verdadeiro SPA. Foi uma atitude dos jogadores”, conta Geninho.
Com elencos mais badalados, Atlético-MG e São Paulo eram os favoritos na briga pelo título. Depois de despachar a equipe paulista, o Athletico superou o Fluminense na semifinal.
No primeiro jogo da decisão, os paranaenses venceram o São Caetano por 4 a 2, na Arena da Baixada. Ilan abriu o placar, e Alex Mineiro marcou três gols. O time do ABC descontou com Mancini e Marcos Paulo.
Com a boa vantagem, Geninho recorreu à palestra motivacional na preleção do último jogo, no estádio Anacleto Campanella, em São Caetano do Sul (ABC paulista).
“Conversei com Suzy Fleury [psicóloga do time] e mandei confeccionar faixas de campeão. No vestiário coloquei em todos os atletas e disse: ‘independentemente do que acontecer hoje, vocês já são campeões. Vai depender de vocês para continuarem com esta faixa”, diz Geninho.
Alex Mineiro, artilheiro do time ao lado de Kléber Pereira (ambos com 17 tentos cada), marcou o gol da vitória, por 1 a 0, e o do título. Romário, pelo Vasco, balançou a rede 21 vezes e terminou como o goleador máximo da competição.
Missão quase impossível – De lá para cá, o Athletico conquistou duas taças da Sul-Americana (2018 e 2021) e outra da Copa do Brasil (2019). Nesta quarta-feira (15), o time tentará garantir mais uma Copa do Brasil, contra o Atlético-MG.
A missão, porém, é quase impossível depois de o time ter sido goleado por 4 a 0 no jogo de ida, no estádio Mineirão. A equipe rubro-negra terá que, pelo menos, ganhar com quatro gols de vantagem para tentar levar a decisão para os pênaltis, na Arena da Baixada.