Igor Mateus / Da redação
Pioneira de Paranavaí, Nilza Alves Souza Carvalho completará 96 anos no dia 20 de dezembro. O amor pela arte e a literatura começou ainda jovem por influência de sua mãe, a professora Odete Alves de Souza. Nilza fala com orgulho que já leu mais de 50 livros. Seu poema favorito é “Meus 8 anos” de Casimiro de Abreu. À reportagem, ela declamou, cantou e pintou.
“A poesia é algo muito lindo. Desejo que todas as pessoas tenham contato com a arte, pois tenho certeza que seriam mais felizes, conseguiriam viver menos estressadas, contemplando as coisas boas que existem na terra”, disse.
Nilza nasceu em 1928 na cidade de Urandi, na divisa entre os estados da Bahia e Minas Gerias. Casou-se com 19 anos, mudou-se para São Paulo e depois, com cerca de 25 anos, chegou a Paranavaí. Seu esposo, Exupério Borges de Carvalho, comandava uma equipe de trabalhadores nas lavouras de café entre as décadas de 1950 e 70 – principal fonte econômica da cidade até 1975 quando aconteceu a famosa geada negra, que destruiu praticamente todos os pés de café e, consequentemente, inviabilizou o crescimento pujante de Paranavaí.
Desde que chegou à cidade, sempre morou na mesma casa localizada na Rua Serafim Antônio Costa, Centro. No total, o casal teve 11 filhos. Um deles é conhecido por muitos de Paranavaí, principalmente pelos católicos. Trata-se de Edmilson Borges de Carvalho, frei carmelitano que por anos celebrou missas no Sítio Cercado, em Curitiba, e nas Paróquias São Sebastião e Nossa Senhora das Graças (Distrito de Graciosa) em Paranavaí.
“A relação da minha mãe com a cultura, faz com que ela tenha uma alma contemplativa porque consegue enxergar a vida com leveza, mesmo que exista as durezas do dia a dia. Então a poesia tem esse poder de transportar, de ir além, de conservar a cultura de um povo. Essa é a real dimensão da arte, faz com que a pessoa saia de si mesma e enfrente a realidade da vida enxergando os traços do divino”, comentou o frei.
“E para mim como sacerdote carmelita, é fundamental esse traço da minha mãe que eu também herdei. A capacidade de poder de enxergar a própria reflexão teológica com a presença do mistério, que vai guiando a nossa vida e fortalecendo a gente. De enxergar em tudo na vida os traços do artista do universo”, complementou.
“AMO DECLAMAR” – O gosto pela declamação quase fez com que Nilza se apresentasse no Festival de Música e Poesia de Paranavaí – Femup, mas de última hora uma gripe impossibilitou sua apresentação. “Ainda tenho vontade, quem sabe no próximo ano eu vá, né?”.
A única apresentação pública foi em 24 de novembro de 2017 no auditório Sobral Pinto da Pontifícia Universidade Católica – PUC de Curitiba. “Foi na solenidade da banca do meu doutorado em teologia sistemática. Ela fechou com chave de ouro minha defesa”, revelou o frei.
FILHOS – Na entrevista, Nilza afirmou que não tem medo da morte, “mas fico triste quando deixá-los (os filhos). Já estou muito velha, né? (risos)”.
Os nomes dos filhos são: José Carlos Borges, Eden Borges de Carvalho, Eunília Carvalho de Freitas, Vera Lúcia B. Carvalho Toneti, Maria Nilzete Carvalho de Oliveira, Frei Edmilson Borges de Carvalho, Nilton Borges de Carvalho e Sandra Mara Borges de Carvalho. Três filhos são falecidos: Rosangela Borges de Carvalho, Carlos Roberto Carvalho e Maria Carvalho.
A filha caçula, Sandra Mara, morava em Curitiba, mas há cerca de sete anos se mudou para Paranavaí. É ela quem passa os dias cuidando da mãe. “Ela tem dificuldade para andar, mas é muito lúcida, sempre trabalhou muito e foi independente. Infelizmente, o corpo dela já não acompanha mais a cabeça. Ela gosta muito de pintar aqueles livros com desenhos de mandalas, faz fuxico e ninho de abelhas (tapetes e panos artesanais) e já leu muitos livros. É um exemplo de ser humano”, comenta Sandra.