Em entrevista exclusiva ao Diário do Noroeste, o tenente-coronel Radamés e o major Braz destacam a importância da prevenção, o papel da comunidade e os principais crimes a serem enfrentados na região, incluindo furtos, roubos e a violência contra mulheres
ADÃO RIBEIRO
O 8º Batalhão de Polícia Militar de Paranavaí é composto por 22 cidades e aproximadamente 250 mil habitantes. Criado em 1968 e instalado oficialmente em 1970, o BPM é responsável pela prevenção a crimes e repressão imediata aos criminosos. Vive os desafios comuns à segurança pública do País com as particularidades locais. Para abordar o tema, o Diário do Noroeste ouviu com exclusividade o tenente-coronel Radamés Luciano Vinha, comandante da unidade, acompanhado do subcomandante, major Ricardo Antonio Braz.
Um dos assuntos de grande preocupação é a zona rural. Radamés cita os desafios para cobrir uma área de mais de 6,7 mil metros quadrados dos 22 municípios, sendo 98% fora do perímetro urbano. Para o enfrentamento, a PM conta com a Patrulha Rural, um grupo específico que faz o chamado cercamento tático e também o patrulhamento preventivo para barrar a incidência desses crimes.
Outra preocupação é a vigilância permanente visando a impedir que grupos criminosos organizados façam ações coordenadas em cidades para violência e roubos, o que ficou conhecido popularmente como “novo cangaço”, termo já em certo desuso. Na região não há registros de tais ações, mas em outras áreas do Estado aconteceram invasões com violência e roubos generalizados.
Violência contra a mulher – O comandante também falou de um drama que afeta a vida em sociedade: a violência contra mulheres. Ele revela que na região há, em média, 200 registros por mês e que 50% dos casos são verificados em Paranavaí.
A PM criou de forma pioneira no Paraná a Patrulha Maria da Penha, em Paranavaí, que faz o atendimento após a abordagem inicial sempre que há agressão ou ameaça contra mulheres.
A Patrulha mantém os atendimentos periódicos e visitas depois da ação imediata. A ideia é verificar o cumprimento das decisões judiciais, confortando a mulher neste momento difícil, garantindo a aplicação prática de eventuais medidas protetivas e se precavendo em relação a novas ameaças.
A experiência mostra que a violência doméstica está relacionada em sua maioria ao consumo de álcool ou outras drogas. Mas a estrutura social acaba pesando, ou seja, a falta de recursos materiais contribui para esse ciclo. No entanto, o militar adverte que há casos de violência em outras classes socias. ”São causas diversas”, sintetiza.
Patrulha pioneira – O subcomandante da unidade, tenente Braz, lembra que o projeto-piloto de Patrulha Maria da Penha se tornou referência e hoje integra a política pública do Estado. Policiais de outros batalhões vêm a Paranavaí conhecer o funcionamento, diz.

Foto: Ivan Fuquini
Ele diz ainda que houve melhora na proteção à mulher com a Patrulha. Opina que uma das razões para o aumento dos registros é o trabalho policial que gera a consciência de que é preciso denunciar todo tipo de violência.
Trânsito – Major Braz foi comandante do antigo Pelotão de Trânsito e tem larga experiência em Paranavaí. Ele desfaz o mito de que a cidade tem um trânsito difícil. Na sua perspectiva, ainda falta educação para o trânsito por parte do condutor. Exceder a velocidade e cruzar vias com o semáforo vermelho são duas infrações recorrentes. “Por que tanta pressa?”, indaga, lembrando que a cidade é relativamente pequena e que o deslocamento não representa uso de parte relevante do tempo das pessoas. Na visão do subcomandante, é preciso investir na educação dos jovens desde a primeira habilitação.
Abusos ao volante – Um dos problemas recorrentes do trânsito paranavaiense acontece na Avenida Paraná, especialmente aos finais de semana. Braz comenta que o jovem pode se divertir, mas tem que respeitar a legislação, o que inclui o volume das músicas e também de carros e motos com escapamentos adulterados. A Avenida Paraná é uma área comercial e residencial
O coronel Radamés complementa que, embora haja o direito à diversão, a lei precisa ser respeitada. Não haverá tolerância para infrações como empinar motos e escapamentos irregulares. Qualquer componente alterado do veículo só é permitido com a homologação do Detran, alerta.
Tráfico e consumo de drogas – Acabar definitivamente com o tráfico e o uso de drogas é missão impossível. Mas o combate existe em todos os níveis. No caso da Polícia Militar é feita abordagem com grandes resultados, diz o comandante.
Uma das soluções é cerco tático e de inteligência. Fazer com que a região seja desanimadora para o traficante. Objetivo é blindar, sintetiza. Nesta perspectiva, os policiais trabalham para fazer um cerco forçando o traficante a desviar. O trabalho da PRF nas rodovias federais e da PRE nas estaduais completa esse serviço.
Ele sugere que o formato seja adotado por outros comandos das áreas próximas para que o projeto tenha efeito ampliado. “A área não ficará livre dos pequenos traficantes”, adverte.
O oficial complementa que nem sempre quando se apreende grande quantidade se está fazendo prevenção. “Pode ser só um chamariz para passar quantidades maiores”. ressalta. Hoje há mais prevenção do que apreensão, o que é positivo, analisa.
Ele também fala sobre o pequeno tráfico e sobre o usuário, muitas vezes impactando na política de segurança pública. Questões de legislação e sociais também constam das preocupações do comandante na missão de combater a venda de drogas.
Na área da prevenção, a PM aposta em iniciativas como o Proerd – Programa Educacional de Resistência às Drogas e à Violência -, que funciona com crianças do ensino fundamental, mostrando os riscos das drogas para a saúde e para a segurança.
Braz acredita que a educação tem uma contribuição determinante para desestimular o primeiro contato com as drogas. Enumera exemplos gratificantes de adultos que passaram pelo Proerd e dão testemunhos. “Um aluno já é uma vitória”, analisa, sinalizando que a maioria aprendeu a ficar longe desse flagelo. A quantificação dos resultados depende de estudos apurados, complementa Radamés.
Os oficiais advertem que só atuação policial não resolve, mas é preciso que outros órgãos públicos atuem na solução. A droga é a porta para outros delitos.
Exemplo prático – Um exemplo prático é a região do Terminal Urbano de Passageiros de Paranavaí. São vários problemas, desde consumo de álcool a pequenos delitos e crimes graves. O local revela que é preciso integração entre os serviços públicos. São pelo menos três dezenas de pessoas com problemas de drogadição e outros em situação de rua que se revezam na área, proporcionando insegurança para quem preciso transitar pelo local.
Radamés complementa o tópico afirmando que há boa vontade das lideranças. Por fim, uma reflexão necessária de que nem todos na situação de vulnerabilidade querem sair do ambiente por várias razões. Em outras palavras, na visão do comandante, é preciso mesclar oportunidade para quem desejar sair das drogas e repressão para quem comete crime.
Conhecimento da região – O coronel Radamés demonstra conhecimento da região. Mesmo recém-chegado (há cinco meses), cita dados que remetem à colonização nas primeiras décadas do século 20.
A história de violência pela posse da terra, o declínio regional com o fim do grande ciclo do café e a retomada criaram necessidades e, por consequência, as características do Noroeste de um povo acolhedor, unido e que sabe atuar em conjunto. Ele agradece e elogia a receptividade nos 22 municípios de abrangência da unidade, inclusive por parte dos gestores.
Veja a entrevista na íntegra no canal do YouTube do Diário do Noroeste.