REINALDO SILVA
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Uma comissão de ética multidisciplinar deve apurar o suposto caso de racismo durante a fase municipal dos Jogos Escolares 2023. O anúncio foi feito pela Prefeitura de Paranavaí, organizadora do evento, depois que alunos e professores se manifestaram nas redes sociais apontando que atletas do Colégio Estadual Cívico Militar Flauzina Dias Viegas teriam sofrido injúria racial.
Em nota divulgada na manhã de ontem, a Administração Municipal informou a convocação de árbitros, treinadores, representantes das escolas, atletas e pessoas que compartilharam publicamente informações sobre o suposto fato. Também serão ouvidas a APP-Sindicato, a Associação Negritude de Promoção da Igualdade Racial (Anpir) e a Guarda Municipal.
De acordo com a nota, se ficar constatado que houve qualquer crime, os relatórios serão enviados à Polícia Civil e ao Ministério Público, além do comitê de ética dos Jogos Escolares, responsável pelas sanções desportivas.
A nota afirma que “o município de Paranavaí organiza os Jogos Escolares há décadas e até o momento, nunca houve registros de casos de preconceito” e termina dizendo que “repudia veementemente qualquer situação de preconceito e vai apurar os fatos para que o caso seja esclarecido”.
É o que espera o presidente da Anpir, Celso José dos Santos, que foi até o Núcleo Regional de Educação (NRE) para cobrar atitudes enfáticas de combate ao racismo dentro da competição. Na ocasião, o diretor Emerson Branco explicou que os fatos divulgados nas redes sociais estão sendo investigados.
A Anpir sintetizou o problema em uma nota de repúdio: “Em dois jogos os atletas, em sua maioria negros, foram hostilizados e ofendidos racialmente, por ‘supostos torcedores’ e em função da sua condição social e de moradia”.
O texto da Associação Negritude de Promoção da Igualdade Racial cobra medidas práticas. “Esperamos que os árbitros tenham registrado nas súmulas essas manifestações racistas e preconceituosas, e que os organizadores da competição tomem atitudes para que fatos lamentáveis como esses não mais ocorram, sobretudo em jogos de natureza estudantil.”
Para a Anpir, os Jogos Escolares têm como objetivo o congraçamento. O desporto não pode se tornar palco para estímulos à guerra, “onde as ofensas e o racismo sejam utilizados como armas para desestabilizar os adversários”.
Manifestação – Os estudantes não ficaram alheios à discussão. Na tarde de ontem, antes da partida que definiria o time campeão do futsal, os atletas se reuniram no centro da quadra e levantaram uma faixa contra o racismo e o preconceito. Outras com conteúdo similar foram afixadas em diferentes pontos do Ginásio de Esportes Noroestão.
A disputa pelo título colocou frente a frente alunos do Colégio Estadual Bento Munhoz da Rocha Neto – Unidade Polo e do Colégio Nobel.
O jogo teve lances emocionantes e muitos gols, 10 no total. A partida terminou com o placar de 6 a 4 para a equipe da Unidade Polo.
De um lado e de outro, os atletas receberam incentivos constantes das respectivas torcidas, que ensaiavam provocações uma à outra, mas sem palavras ofensivas de cunho racista ou de preconceito social. Tudo como manda a boa política desportiva.
Como disse o professor Celso José dos Santos, presidente da Anpir, esporte é congraçamento.
Escolas – A direção do Colégio Estadual Cívico Militar Flauzina Dias Viegas informou ao Diário do Noroeste que está conversando com a comunidade escolar para entender o que aconteceu durante as partidas de futsal na semana passada. Depois de colher os depoimentos, enviará um relatório detalhado à comissão organizadora dos Jogos Escolares e ao Núcleo Regional de Educação.
Diante do ocorrido, o Colégio Nobel publicou uma carta aberta à comunidade expressando “total repúdio a qualquer tipo de comportamento racista ou discriminatório”. O texto diz que é responsabilidade de todos os participantes e espectadores garantir que eventos esportivos ocorram de maneira justa, respeitosa e inclusiva. “Não toleramos comportamentos que desrespeitem a dignidade humana e que vão contra os princípios de igualdade e diversidade.”
O Colégio Paroquial Nossa Senhora do Carmo também se manifestou em carta aberta à comunidade. “Não compactuamos, em nenhuma circunstância, com qualquer atitude racista e/ou preconceituosa. Somos favoráveis de que, apurados os fatos, os ‘supostos torcedores’ sejam identificados e responsabilizados por atitudes desrespeitosas, discriminatórias e preconceituosas.”