Final de ano é sinônimo, para muitas pessoas, de alegria, confraternizações, recordações dos desafios superados, projeções do futuro e reflexões. Para outras, contudo, quando dezembro chega algo que vem do interior não as deixam confortáveis. Bate um aperto no peito, há um sentimento de medo, incerteza, frustração e até tristeza. Esse contraste revela a singularidade de cada um e quando se trata de saúde mental, essa sensação de que algo não está bem pode estragar o clima festivo.
O quadro meio depressivo, conforme explicam psicólogo e psiquiatras, está muito relacionado ao fato de que as celebrações trazem consigo uma mensagem de fechamento de ciclo e abertura de um novo. As reflexões sobre o que se pretendia fazer ao longo do ano e que não foi possível colocar em prática trazem frustrações.
Outros se culpam por não conseguirem se desligar dos pensamentos para aproveitar a alegria que contagia. Há ainda os que não querem rever determinados familiares e aqueles que sofrem por antecipação, com quadros ansiosos, pensando no que deverão mudar para que o ano que vem chegando seja diferente.
A mente enfrenta um turbilhão de pensamentos, sentimentos e emoções.
O diretor clínico do Muitas pessoas se sentem desconfortáveis e não sabem o que fazer Hospital de Saúde Mental Professor Frota Pinto (HSM), da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa), psiquiatra Helder Gomes Moraes Nobre, destaca que um dos maiores problemas ocorre quando há o questionamento sobre os sentimentos e a sensação de desconexão do que a pessoa “deveria estar sentindo”.
“Nós temos de lembrar que cada pessoa é única e vai reagir de forma diferente. Nesse encerramento de ciclo, é muito importante que a gente possa refletir sobre os acontecimentos para tentar ressignificar situações para o próximo ano”, orienta.
A ressignificação está ligada a percepção que a pessoa tem dos fatos. Cada uma vê o mundo a partir dos seus condicionamentos, do que foi absorvendo ao longo da vida e que formou sua mentalidade.
O que ela percebe como sendo algo ruim, por exemplo, necessariamente não é. Basta ela ter um olhar diferente e mesmo que seja algo desagradável é possível tirar lições. A pessoa, na prática, ressignifica o episódio. E fazendo isso ela se foca, no caso de algo que precisa ser resolvido, na solução. Não fica se lamentando ou se fazendo de vítima.
No enfrentamento do que dezembro significa, é importante a pessoa não criar resistências ou ficar julgando as coisas. Segundo a psicoterapeuta Myriam Durante, do Hospital Santa Mônica, de São Paulo, as pessoas deveriam pensar em agradecer pelo que deu certo e não deixar pensamentos negativos fluírem.
Embora não seja fácil, é possível evitar entrar nesse quadro depressivo, de acordo com a psicoterapeuta.
“Independente da causa dessa melancolia profunda, o primeiro passo é se propor a ter um final de ano diferente, enfrentando a situação de frente. Ninguém fica triste porque quer, mas é fato que a pessoa se acostuma a ser triste e muitas vezes se acomoda nessa situação, não buscando uma solução”, destaca. Em muitos casos, a busca por terapia pode tornar tudo mais fácil, mas a busca pelo autoconhecimento e entendimento de como as coisas funcionam na vida podem ajudar a sair do quadro depressivo.
Pensamentos e emoções não podem ser evitados, mas o que fazer com eles é uma escolha. Quando um pensamento negativo surgir, ou uma emoção, é possível mudar o foco e não alimentar eles. É possível provocar um pensamento em algo positivo e no caso de uma emoção, como raiva de alguém, por exemplo, técnicas de respiração profunda ajudam a aliviar a tensão física para evitar uma explosão.
A mente é perita em criar problemas quando a pessoa já tem um conceito formado sobre determinada coisa. A Ceia de Natal será horrível porque fulano vai estar presente. Quem pensa assim já provoca um turbilhão de pensamentos e passa a ver a festa, que era para ser um momento de alegria, como algo ruim. Isso pode ser resolvido pensando sobre estratégias que podem ser usadas para evitar estresse.
O que não deu certo ao longo do ano não é motivo para ficar deprimido. Nem tudo sai como é planejado. O importante é que o foco precisa estar na solução do que não deu certo e não na lamentação por não ter saído como o idealizado. O que deu errado deixou lições e elas devem ser usadas para que em 2024 seja tudo diferente.
O isolamento no final do ano não é a melhor escolha. A vida apresenta desafios para todas as pessoas. O que as fazem diferentes é como cada uma os enfrenta. Então, o melhor caminho é participar de comemorações escolhendo pessoas que possam contribuir de alguma forma para que o momento seja especial.
Nas festividades, estar presente no agora é muito importante.
A pessoa deve evitar que a mente fique perdida em pensamentos do passado e do futuro. No primeiro caso, a depressão surge. No segundo, vem a ansiedade.
No agora não há nada disso. Basta de esforçar para curtir o momento presente.
Se envolver com os preparativos das festas pode contribuir para o final de ano seja alegre. Ninguém é obrigado a ser alegre, mas também não tem que usar isso como desculpa para ficar triste. O envolvimento, a colaboração, é um aspecto positivo que pode ser trabalhado.