GABRIELLA SALES
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Precisar sair da praia correndo para o hospital devido a uma crise alérgica pode ser um pesadelo de férias, especialmente para quem tem crianças. Reações alérgicas podem ser difíceis de prever e a tendência é estar mais exposto a elas durante o verão e viagens de férias. O que se pode fazer, muitas vezes, é ficar atento para se antecipar e procurar o serviço de saúde mais próximo já nos primeiros sintomas.
Uma reação alérgica pode ser entendida como uma reação de hipersensibilidade do sistema imunológico diante do contato com uma substância.
Clóvis Galvão, médico alergista e imunologista da Faculdade de Medicina da USP, explica que o organismo reconhece aquele composto como agressor e cria uma reação de defesa exagerada, com sintomas prejudiciais.
O calor do verão e a fuga da rotina, que leva ao contato com novos ambientes e substâncias, podem aumentar os riscos de uma reação alérgica. “No verão, ficamos mais expostos a alguns fatores, como picadas de insetos, uso de cosméticos diferentes e alimentação fora da rotina”, afirma Galvão.
O QUE PODE CAUSAR ALERGIA?
Em geral, não é possível dizer o que pode ou não causar alergia, pois isso depende do organismo de cada pessoa. Contudo, há alguns compostos que são mais comumente alergênicos.
É o caso de frutos do mar, que muitas vezes não fazem parte da alimentação cotidiana. Leite, ovo, soja e castanhas são outros alimentos potencialmente alergênicos. Segundo Galvão, cerca de 70% a 80% das alergias alimentares podem ser atribuídas a eles.
Produtos cosméticos, como filtro solar, maquiagem e hidratantes também podem causar alergia na pele, chamada de dermatite de contato. No período de férias e exposição ao sol, as ocorrências podem se intensificar devido à tendência de usar uma variação maior de produtos do que no dia a dia e, também, porque algumas substâncias são expostas ao sol quando não deveriam.
Picadas de insetos são outro causador comum de reações alérgicas. No caso de insetos sugadores, muitas vezes as pessoas apresentam alergia a compostos da saliva deles, e as reações tendem a ficar limitadas à pele, sem gerar quadros graves.
Já os insetos com ferrão, como abelhas e vespas, tendem a causar reações mais graves devido ao contato com o veneno. Galvão relata que, nesses casos, pode ser feito o tratamento com vacinas após a exposição, para evitar novas ocorrências. Contudo, esse não é um tratamento preventivo e também não está disponível de maneira ampla para a população.
COMO EVITAR REAÇÕES ALÉRGICAS?
As reações alérgicas são difíceis de evitar, pois não há como prever o que pode levar alguém a ter uma reação alérgica antes de haver exposição àquele composto. Algumas pessoas podem até desenvolver alergias a substâncias que antes já consumiam sem apresentar nenhum sintoma.
Alex Lacerda, membro do departamento científico de Anafilaxia da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia, afirma que pode existir um fator hereditário, mas isso não é definitivo. “Não recomendamos evitar aquela substância só porque os pais são alérgicos, a não ser que haja algum sintoma suspeito.”
Quando já se tem confirmação da alergia, o importante é evitar o contato com aquele composto e manter o acompanhamento com o especialista, para ter um plano de ação em caso de exposição, que vai variar para cada pessoa.
Porém, quando não se tem conhecimento de nenhuma alergia, não é necessário evitar nenhum composto. O que se pode fazer é buscar opções mais seguras. No caso de cosméticos, por exemplo, é recomendado usar produtos de marcas estabelecidas, dermatologicamente testados e aprovados pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).
O QUE FAZER EM CASO DE REAÇÃO ALÉRGICA?
O mais importante para lidar com uma possível reação alérgica é ficar atento aos primeiros sinais. Vermelhidão, inchaço e coceira são manifestações bastante comuns. Lacerda destaca que é importante procurar uma unidade de saúde o mais rápido possível ao notar esses sintomas, sobretudo quando eles têm aparecimento e aumento rápidos.
A progressão de uma reação alérgica pode levar à anafilaxia. Esse quadro é caracterizado pela presença de sintomas em mais de um órgão. Em alguns casos, há comprometimento das vias aéreas e sintomas cardiovasculares, eventualmente resultando no choque anafilático -queda brusca da pressão arterial, que pode ser fatal.
O tratamento de uma reação alérgica pode ser feito com corticoides, anti-histamínicos e injeção de adrenalina. Porém, a automedicação não é recomendada. “Existem vários tipos de mecanismos de reação alérgica”, alerta Lacerda.
Cada um desses mecanismos é tratado de maneira diferente, e a medicação incorreta pode levar à piora do quadro. Os populares comprimidos anti-histamínicos -mais conhecidos como antialérgicos- não tratam a dermatite de contato, por exemplo. Por isso, é importante que um profissional de saúde identifique a reação para recomendar o tratamento correto.
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