Tela do celular, tela do computador, tela do laptop, tela do tablet, tela do mini game, tela da TV… Num mundo cada vez mais digitalizado, as telas estão cada vez mais presentes em nossas vidas.
No entanto, quando se trata de crianças, o convívio demasiado com esse ‘mundo virtual’ pode acarretar prejuízos futuros, especialmente ao desenvolvimento da linguagem.
A falta de interatividade como meio real, ou seja, com as pessoas de fato, é vista com preocupação pelos médicos, que sugerem limitar essa relação com as telas, até pelo menos os seis anos de idade.
Nota técnica divulgada no último dia 16, pela Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial (ABORL), recomenda o tempo máximo de uma hora/dia para crianças com idades entre dois e seis anos. Aos menores, por sua vez, a recomendação é não fazer o uso de telas.
O documento tem como base mais 30 referências bibliográficas, entre estudos, teses e pesquisas publicadas pelo mundo, e é assinado por três especialistas, dentre eles o Dr. Gilberto Bolivar Ferlin Filho, otorrinolaringologista e foniatra do Hospital Paulista.
“As interações sociais exercem um papel fundamental no desenvolvimento cerebral ao longo da vida, repercutindo no aprendizado de linguagem, na capacidade cognitiva e até mesmo na constituição psíquica do indivíduo. Nesse contexto, a forma como os pais ou cuidadores interagem; a quantidade e qualidade desses diálogos; as brincadeiras, as leituras… tudo isso afeta diretamente a taxa de aquisição e o desenvolvimento da linguagem, sobretudo nos primeiros três anos de vida”, destaca o médico.
De acordo com ele, o atraso no desenvolvimento da fala e da linguagem é frequente em bebês que ficam passivamente expostos às telas por períodos prolongados. “Estudos sugerem que a exposição excessiva a telas pode reduzir a interação verbal entre os pais e as vocalizações naturais das crianças, o que afeta as interações familiares cruciais para a aquisição e o desenvolvimento da fala e da linguagem, incluindo a aquisição de palavras, a formação de estruturas de frases e a compreensão da linguagem”.
Outras consequências relacionadas, segundo o Dr. Ferlin, são o sedentarismo, a obesidade, a falta de concentração, isolamento social, distúrbios do sono, ansiedade, depressão e a irritabilidade. Ou seja, problemas comportamentais que costumam estar vinculados ao uso excessivo de mídias eletrônicas.
“Hoje em dia, um dos grandes desafios dos pais e dos educadores é criarem oportunidades de as crianças explorarem o mundo real que as cerca; os movimentos; as brincadeiras; os jogos e demais interações multissensoriais do seu ambiente. É uma competição difícil, tendo em vista o enorme grau de atratividade das mídias eletrônicas, mas é preciso insistir”, destaca o especialista.
Campanha – A exposição excessiva às telas entre crianças é o tema central de uma campanha de conscientização promovida neste mês pela Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial (ABORL-CCF) com o apoio do Hospital Paulista. O objetivo é orientar pais, familiares e responsáveis, além de compartilhar conteúdos informativos com o público.
O assunto também foi pauta da 2ª Semana da Foniatria da ABORL-CCF, realizada entre os dias 16 e 20 deste mês, que contou com a participação de vários médicos especialistas em Foniatria, subespecialidade da Otorrinolaringologia responsável por diagnosticar distúrbios de linguagem humana e comunicação.