Ao mesmo tempo que a gordura corporal excessiva acende um alerta para o risco de doenças crônicas, a busca por soluções milagrosas para atingir o “corpo perfeito” também preocupa profissionais da saúde. Afinal, qual a diferença entre o peso ideal para a saúde e o peso ideal segundo determinado padrão estético?
Dados do estudo A Epidemia de Obesidade e as DCNT (doenças crônicas não transmissíveis) – causas, custos e sobrecarga no SUS, apontam que até 2030, 68% dos brasileiros poderão estar com excesso de peso e que 26% poderão apresentar obesidade. Nesse cenário, conhecer a diferença entre o peso ideal para a saúde e o peso ideal para o padrão estético vigente é essencial na hora de fazer escolhas mais adequadas, levando em conta os gostos e estilo de vida de cada um.
Segundo Sabrina Amaral, psicóloga consultora do Minuto Saudável, além de poder desencadear a desnutrição e distúrbios alimentares como bulimia e anorexia nervosa, as chamadas dietas milagrosas e radicais podem abalar o psicológico de quem já pode estar lidando com discriminação ou gordofobia.
“É preciso ter em mente que o processo de emagrecimento acontece de forma bem diferente quando ele é pautado por uma busca pela saúde. Nesse caso, ele tem objetivos viáveis, que não colocam a saúde em risco. Existe um acompanhamento nutricional e também psicológico, se necessário, para tratar possíveis questões emocionais que estejam relacionadas a problemas como compulsão alimentar, ansiedade ou comportamentos escapistas (álcool e drogas), por exemplo.
Dentro de uma perspectiva de saúde, endocrinologia e nutrologia, o peso é apenas um dos parâmetros utilizados para determinar se a pessoa está seguindo uma alimentação balanceada em todos os nutrientes, sem excessos ou carências. Além dele, existem as medições das taxas de gordura corporal e de massa magra, entre outros. E, ainda assim, é preciso levar em conta o metabolismo de cada pessoa, a tendência genética, como estão os hormônios e a situação de saúde como um todo.
“A reeducação alimentar cumpre um propósito, de levar a pessoa e perceber o que é bom para ela, sem abrir mão do prazer de comer. Muitas vezes é uma questão muito mais de ajuste das quantidades ingeridas de cada alimento do que de restrições absolutas”, explica a Dra. Bruna Marisa, Médica Ortomolecular consultora do Minuto Saudável.
Ainda segundo a médica, “vale ressaltar que a obesidade representa um alto fator de risco para o diabetes, pois, normalmente, os pacientes apresentam alterações das taxas metabólicas. Por isso, em todos os casos, é necessário fazer exames para checar uma série de parâmetros que indicam o que pode estar em excesso e o que pode estar faltando em termos de nutrientes, quantidades ingeridas e atividade física”.
Emoções e comida – Sabrina reforça que é preciso perceber a relação de como lidamos com as emoções, os sentimentos e em como isso interfere na forma como nos alimentamos. “A comida nos nutre e pode nos dar prazer, mas não pode assumir uma função compensatória para fugirmos do enfrentamento de conflitos interpessoais e situações de estresse. Apesar de trazer alívio momentâneo, a relação ansiedade-comida-conforto prende a pessoa em um círculo vicioso: ela come para aliviar a ansiedade, mas comer vai desencadear nela novos sentimentos disfuncionais (culpa, ansiedade, raiva, preocupação, tristeza, impotência e estresse), que vão aumentar ainda mais a ansiedade; e tudo começa novamente”, explica. Outro processo ocorre na anorexia e na bulimia, doenças também ligadas a fatores emocionais e que geram círculos viciosos.
Segundo ela, a Terapia Cognitivo Comportamental (TCC) pode ajudar a pessoa a mapear suas crenças disfuncionais em relação ao peso e sua relação com a comida; identificar os aspectos emocionais e traumas que podem ser reforçadores deste comportamento; reconhecer os gatilhos e pensamentos sabotadores que atrapalham o processo; e desenvolver ferramentas para lidar com tudo isso.
Por fim, é preciso lembrar que, para quem sofre com a compulsão alimentar, dietas rigorosas não são eficazes, pois é preciso haver prazer ao comermos, mesmo que em quantidades menores e com preparações menos calóricas. Sem isso, existe a tendência de readquirir os quilos perdidos.
“No final das contas, o corpo ideal é o corpo saudável, pronto para o estágio atual e preparado para os próximos estágios da vida. É preciso trabalhar três pilares: a mudança de mentalidade em relação aos alimentos, uma nutrição adequada priorizando comida de verdade, ou seja, o que vem da natureza, e a prática de uma atividade física que dê prazer. Em suma, o corpo ideal precisa ser sinônimo de saúde e bem-estar. Ideais estéticos podem até servir para nos inspirar a ser mais saudáveis, mas não podemos deixá-los nos prender a objetivos que, no final das contas, serão prejudiciais à nossa saúde”, finaliza a Dra. Bruna.