REINALDO SILVA
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A 14ª Regional de Saúde identificou o crescimento das notificações de casos suspeitos de dengue em municípios do Noroeste do Paraná. A situação se arrasta desde novembro de 2022 e revela o risco de epidemia da doença. A situação é mais preocupante em lugares onde o número de agentes de combate a endemias (ACEs) está abaixo do recomendado pela Secretaria de Estado da Saúde (Sesa). O descarte irregular de lixo é outra face do problema e indica a corresponsabilidade da população.
As ponderações são do chefe regional da Divisão de Vigilância em Saúde, Walter Sordi Junior, que conversou com o Diário do Noroeste e expôs as dificuldades para conter o avanço da dengue.
Começou falando sobre Marilena, com dois pontos de surto. Acontece quando o número de casos cresce de forma repentina em uma região específica – uma comunidade, um bairro, uma área da cidade. Para ser considerado surto, o aumento deve ser maior do que o esperado pelas autoridades. O próximo estágio, quando as confirmações se espalham por diferentes lugares do município, é a epidemia.
As notificações de casos suspeitos começaram a subir em dezembro do ano passado, chegando a 24 em uma semana. Depois 12 e 14. Na primeira semana de janeiro de 2023, foram 28. Considerando todo o período epidemiológico, iniciado em agosto de 2022, já são 179 notificações. Marilena tem 7.220 habitantes, conforme a prévia do censo demográfico divulgada recentemente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O DN aguarda retorno da Secretaria Municipal de Saúde para fazer uma análise da situação.
Combate a endemias – Em Marilena, como em outras cidades da Região Noroeste, a quantidade de ACEs é menor do que o número preconizado pela Sesa. A proporção ideal é um agente para 800 imóveis, mas Marilena conta com um para 1.078.
Em Paranavaí, a diferença é ainda maior; cada ACE é responsável por 1.268 imóveis. O chefe municipal da Vigilância em Saúde, Natan Gonçalves Tobias, reconheceu a dificuldade. “Paranavaí possui em média 57.600 imóveis, a quantidade de ACEs ideal seria 72, porém, no momento, temos 58.” Segundo ele, a contratação de mais 26 agentes está prevista para os próximos meses.
Os dados da Regional de Saúde indicam que também estão com defasagem na equipe de ACEs Loanda, Santa Isabel do Ivaí, Terra Rica e Paraíso do Norte. Os demais municípios estão seguindo as diretrizes da Sesa.
Voltando a Paranavaí, o chefe municipal da Vigilância em Saúde explicou por que há grande quantidade de notificações de casos suspeitos de dengue, mas baixa positividade. “Decorre dos exames realizados por laboratórios particulares, que, devido à procura, realizam em grande quantidade e têm a obrigação de notificar todos, em sua maioria com resultado negativo.”
De acordo com Natan Gonçalves Tobias, é possível perceber que grande parte dos testes de dengue com resultado negativo é realizada juntamente com o de Covid-19, dando positivo para a doença causada pelo coronavírus.
Alto risco – Esta semana, a Prefeitura de Paranavaí divulgou o resultado do primeiro Levantamento de Índice Rápido do Aedes (Lira) de 2023, que apontou alto risco de infestação e ritmo acelerado de proliferação do Aedes aegypti, mosquito transmissor da dengue. A média do município é de 4,5, sendo o ideal abaixo de 1.
Em novembro de 2022, as vistorias feitas pelos ACEs de Paranavaí apontaram índice de infestação de 1,5, valor classificado como de médio risco.
Natan Gonçalves Tobias destacou que a diferença em apenas dois meses se deve à incidência de chuva, maior agora do que antes. É que o mosquito da dengue depende de água para completar o ciclo reprodutivo. Quando os ovos depositados em qualquer superfície ficam em contato com água limpa e parada, eclodem.
População – O papel dos moradores é determinante no combate à dengue. Sem a colaboração da comunidade, o poder público não consegue evitar o avanço da doença. Walter Sordi Junior, da 14ª Regional de Saúde, citou práticas que devem ser combatidas insistentemente, seja por meio de campanhas de conscientização, seja pela observância da lei, com punição se assim for necessário.
O primeiro ponto destacado pelo chefe regional da Divisão de Vigilância em Saúde é o descarte irregular de resíduos. Muitas pessoas utilizam fundos de vale, terrenos baldios e até mesmo as vias públicas para jogar o lixo.
A limpeza de quintais também é essencial. Todos os reservatórios de água precisam ser devidamente vedados. Vasos de plantas não podem acumular água, bebedouros de animais têm de ser higienizados regularmente.
Da mesma forma, o combate à dengue depende da roçada de calçadas e terrenos vazios, afinal o mato alto esconde criadouros do Aedes aegypti.
Na tarde de ontem (18), o Diário do Noroeste acompanhou o trabalho de uma equipe de ACEs no Jardim Simone. Em determinada propriedade, onde não há construção, pouco minutos foram suficientes para perceber como os depósitos de água ficam camuflados sob a vegetação. A situação se repete em outros bairros.
Sordi Junior argumentou que as ações para destruir os focos de Aedes aegypti são urgentes. Diante do quadro atual, os meses seguintes poderão trazer novos surtos de dengue e, provavelmente, epidemia.