Com preços acessíveis e curadoria de qualidade, setor conquista consumidores e se consolidam como opção econômica e sustentável
Cibele Chacon
Da redação
O segmento de brechós tem registrado um crescimento expressivo no Paraná, impulsionado por mudanças no comportamento dos consumidores e pelo fortalecimento da moda sustentável. Segundo levantamento do Sebrae/PR, entre 2014 e 2024, houve um aumento de mais de 87% no número de empresas ligadas ao setor. Somente em 2024, foram abertas 132 novas empresas, superando a média anual de 90 registros nos últimos cinco anos. Esse cenário demonstra que, além de ser uma opção consciente para os consumidores, o setor se tornou uma oportunidade promissora para empreendedores.
Em Paranavaí, essa tendência se confirma. Brechós têm atraído um público cada vez mais diverso, interessado não apenas na economia, mas também na qualidade das peças e na sustentabilidade. Para Célia Aparecida de Carvalho Lima, dona de um brechó há mais de três anos na cidade, a ascensão desse mercado reflete uma mudança de mentalidade.
“Pela situação atual do planeta, envolvendo poluição e desperdício, as redes sociais têm ajudado a impulsionar a moda sustentável. Além de trazer benefícios financeiros, contribui para a redução do descarte têxtil”, explica Célia.
Apesar do preconceito inicial em relação à compra de roupas de segunda mão, os brechós modernos mudaram a percepção do público ao investirem em curadoria e seleção de peças de qualidade. “Nos surpreendemos positivamente com a aceitação. O que impulsiona esse comércio é a satisfação de economizar, adquirir peças boas por preços justos e ainda colaborar com a sustentabilidade”, afirma a empresária.
A curadoria se tornou um diferencial importante para os brechós contemporâneos. Diferente dos modelos tradicionais, onde era comum encontrar peças desgastadas, os novos brechós priorizam uma seleção rigorosa, garantindo que as roupas sejam comercializadas em ótimo estado. “Hoje, um brechó moderno se preocupa em levar ao cliente uma peça praticamente nova”, destaca Célia.
A adesão do público de Paranavaí à moda sustentável tem sido crescente, e a clientela é bastante diversificada. “Desde adolescentes a idosos, todos consomem no brechó, seja para roupas de trabalho, do dia a dia ou até mesmo para festas”, conta Célia. A empresária acredita que o setor tem espaço para crescer ainda mais. “Nosso intuito é elevar a moda sustentável para outro patamar”, acrescenta.
CONSUMIDORES VALORIZAM QUALIDADE E EXCLUSIVIDADE – Entre os consumidores fiéis dos brechós está a podóloga Andréia Mataveli, de 49 anos, que descobriu o universo do second hand em 2016 e, desde então, não deixou de frequentar. “Pelo menos uma vez por semana eu vou, ou reservo alguma peça que me encanta nas postagens on-line. Os critérios principais para mim são preço, qualidade, exclusividade e sustentabilidade”, relata.
Para Andréia, os brechós são um verdadeiro tesouro para quem busca peças diferenciadas. “Tenho várias peças que considero um verdadeiro achado da vida. Peças de grife que jamais poderia comprar pelo preço original”, conta. Ela também observa uma mudança na percepção da sociedade sobre os brechós. “O preconceito diminuiu bastante, mas ainda existe. Hoje, os brechós têm curadoria, realizam reparos, vendem roupas limpas e cheirosas. São uma alternativa econômica e sustentável. Eu super indico”.
A aposentada Márcia Maria Sasso, de 52 anos, destaca que a curadoria faz toda a diferença na experiência de compra. “Isso é o principal, depois vem a sustentabilidade e o preço. Nos brechós encontramos peças variadas, desde linho até os básicos, e muitas vezes peças novas também. Acredito que esse mercado tem potencial para crescer cada vez mais”, avalia.
A estudante Rafaella Gonçalves dos Santos, de 22 anos, também é adepta do consumo em brechós, tanto físicos quanto virtuais. “Além de frequentar brechós aqui em Paranavaí, gosto de garimpar pelo Instagram. Já comprei várias peças incríveis, inclusive calça Levi’s e roupas da Colcci, que custariam muito mais em lojas tradicionais”, relata.
O BRECHÓ COMO UM NOVO MODELO DE CONSUMO – Para Célia, o conceito de segunda mão não se aplica apenas à moda, mas faz parte do cotidiano das pessoas de diversas formas. “As pessoas compram carros usados, alugam imóveis, utilizam talheres e pratos em restaurantes. Então, uma roupa que passa por um processo de curadoria se torna como nova, assim como qualquer outro item reutilizado”, pontua.
A empresária reforça que o maior desafio hoje é a valorização do trabalho realizado pelos brechós. “Sempre gostei de comprar em bazares e brechós. Quando cheguei aos 50 anos, quis trabalhar com algo que realmente me desse prazer, então abrimos o ‘Era Seu Agora É Meu’. O grande desafio é mostrar que uma peça bem curada tem valor e não deve ser comparada com os brechós tradicionais”, finaliza.
Diante do crescimento do setor e da aceitação crescente do público, os brechós se consolidam como uma alternativa cada vez mais viável e promissora, tanto para consumidores que buscam economia e exclusividade quanto para empreendedores que desejam investir em um mercado sustentável e em expansão.