ADÃO RIBEIRO
O Rio Paraná nunca esteve com o nível da água tão baixo como nos dias atuais, garantem moradores e frequentadores de tantas décadas. Estudos científicos também apontam nesta direção. Com pouca água, o rio acaba revelando histórias que estavam repousadas no seu leito.
Um exemplo dessa realidade é que se tornou visível nas últimas semanas na área do Porto São José, em São Pedro do Paraná, uma embarcação que antes repousava numa profundidade de até cinco metros. O flagrante é da semana passada, feito pelo fotógrafo Guto Costa.
Frequentador há 40 anos dos seus 60 vividos e hoje empresário estabelecido no porto (possui marina e atende com opções de passeios), Edson Pinelli explica que a estrutura revelada se trata de uma “chata boiadeira”, usada para transportar o gado até as ilhas. O naufrágio aconteceu há pelo menos 50 anos, detalha.
Ele fala ainda que o canal central do rio naquele trecho, chamado canalão, chegava a 20 metros de profundidade e hoje não passa dos 12 metros.
A profundidade do rio reflete a crise hídrica vivida nacionalmente. No entanto, revela um cenário particular no chamado Complexo Ilha Solteira, composto por 21 represas de usinas hidrelétricas nos rios Tietê, Parnaíba e Paraná. As represas são interligadas e o nível controlado.
Na época da seca, a prioridade é garantir a produção de energia elétrica e a água acaba represada, refletindo ao longo dos rios. Na região de Rosana, divisa de São Paulo com o Paraná, está a Hidrelétrica Sérgio Motta.
Em resumo, as represas resultam em impacto direto no rio, inclusive na fauna e na flora, com consequência ambientais.
Turismo – Do ponto de vista do turismo, Pinelli vê que é o momento de investir em infraestrutura pública e também em opções de lazer. Cita que o cenário atual fez surgir uma série de prainhas de água doce, se tornando atrações para os visitantes.
Pesquisas apontam o crescimento do chamado turismo regional, isto é, a preferência das pessoas pelo lazer sem ter que percorrer grandes distâncias.
Tanto que muita gente da macrorregião Noroeste tem casas ou se hospedam nas estruturas em cidades no trajeto dos rios. Essa tendência faz movimentar o mercado de lanchas, barcos e outros equipamentos, além do setor de gastronomia, pousadas, entre outros.
O conteúdo que publicamos hoje se baseia na constatação e experiências vividas nos dias atuais. Mas, Pinelli sugere a complementação com conteúdos de pesquisadores sobre as mudanças no rio e suas consequências para a vida aquática. O material foi solicitado e será publicado com a interpretação técnica dos estudiosos.
Foto histórica – Edson Pinelli tem 60 anos de idade e cita outra lembrança importante: as famosas cheias do Rio Paraná, fenômeno que ocorria anualmente até a implantação das barragens. Ilustra com uma foto “daquele tempo”, mostrando uma rua alagada e moradores das casas buscando alternativas de adaptação aos dias de cheia do rio.