LUCIANO TRINDADE
DA FOLHAPRESS
Zlatko Dalic, técnico da Croácia, terminou de forma abrupta a entrevista que concedia nesta segunda-feira (12), em Doha, no Qatar, na véspera do confronto com a Argentina pelas semifinais da Copa do Mundo.
Ele ficou incomodado ao ser incitado por um jornalista egípcio a comentar sobre um suposto “futebol chato” dos croatas no torneio.
“Jogamos pelo resultado e estamos na semifinal da Copa do Mundo. É aí que a história termina”, bradou o treinador.
A linha pragmática adotada por Dalic é consequência das transformações pelas quais o elenco croata passou nos últimos anos, desde o histórico vice-campeonato mundial em 2018. A começar pelo envelhecimento de Luka Modric, principal referência técnica do time.
Aos 37 anos, ele ainda é capaz de ditar o ritmo de uma partida e descolar lances geniais, mas não tem mais a intensidade física que exibiu na Rússia.
Além disso, a equipe perdeu peças importantes, como Ivan Rakitic, que dividia com o camisa 10 a construção das jogadas e se aposentou da seleção, e o atacante Mario Mandzukic, que pendurou as chuteiras.
Já a nova safra de jogadores tem como alguns de seus expoentes atletas com maior poder de combate defensivo, como Marcelo Brozovic e Mateo Kovacic. Daí a tendência de segurar mais as partidas, como ocorreu com o Brasil, nas quartas de final.
No duelo com os brasileiros, a Croácia teve apenas uma finalização certa: o chute de Petkovic, que empatou a partida no segundo tempo da prorrogação e forçou a decisão por pênaltis, vencida pelos europeus por 4 a 2.
Foi a segunda vez nesta edição que o time de Dalic disputou o tempo extra. Já havia sido assim diante do Japão, nas oitavas de final. Na ocasião, também, sobreviveu à disputa por pênaltis.
Com 240 minutos jogados em um intervalo de uma semana, fora acréscimos, o treinador admite que sua equipe esteja exausta. “Tem sido cansativo chegar à prorrogação em duas partidas. Estamos esgotados, mas estamos na semifinal da Copa e seguimos fortes.”
Não é inédito. Em 2018, a Croácia jogou a prorrogação nas oitavas, nas quartas e nas semifinais, a caminho da decisão na Rússia
Foi assim que passou por Dinamarca, Rússia e Inglaterra. Contra os dois primeiros, a vitória foi nos pênaltis. Diante dos ingleses, o triunfo foi obtido no tempo extra, 2 a 1, naquela que é considerada por Dalic como a maior vitória de sua seleção.
“Para mim, a semifinal contra a Inglaterra foi o maior [jogo da Croácia] de todos os tempos, e [o duelo com o] Brasil foi o segundo. Amanhã [contra a Argentina], pode ser ainda maior, o maior da história”, afirmou.
Ele só não gostaria de ter de sofrer tanto, afinal faz 24 anos que a Croácia não consegue vencer uma partida de mata-mata da Copa do Mundo sem precisar jogar uma prorrogação. A última vez foi na edição de 1998, na França, a primeira que disputou como nação independente após o desmembramento da antiga Iugoslávia.
Nos campos franceses, os croatas também avançaram até a semifinal. Venceram o México nas oitavas (2 a 1) e a Alemanha (3 a 0) nas quartas. Perderam para os donos da casa nas semifinais, por 2 a 1. Terminaram com um terceiro lugar, após bater a Holanda (2 a 1).
O histórico, porém, não é algo que costuma animar o técnico Zlatko Dalic, nem mesmo quando o favorece.
Será seu segundo confronto com a Argentina como treinador. O primeiro é recente, foi disputado em 2018, na fase de grupos do Mundial na Rússia. Na segunda rodada do Grupo D, os croatas venceram por 3 a 0. Modric marcou um dos gols.
Depois do surpreendente empate da Argentina na estreia com a Islândia (1 a 1), a derrota naquele jogo deixou o time de Messi em situação bastante delicada. Só uma vitória contra a Nigéria, na última rodada, salvava a equipe -como acabou acontecendo.
“Essa partida de 2018 não tem nada a ver com a partida de amanhã”, desconversou o treinador croata.
Ele, no entanto, está confiante de que possa surpreender novamente um dos gigantes do futebol. “A seleção croata há quatro anos transformou um sonho em realidade para todos os países pequenos, demos a esses países o direito de ter esses sonhos. Quatro anos atrás, ninguém esperava que a Croácia chegasse à final.”