ANNA VIRGINIA BALLOUSSIER
DA FOLHAPRESS
“Vamos orar abençoando seu pet”, diz um post que anuncia, para esta quinta-feira (27), o Culto Pet, voltado “apenas para animais de pequeno porte”.
Organizada no estacionamento da sede em Goiânia da Igreja Apostólica Fonte da Vida, a pregação causaria, nas palavras de um fiel, uma “cãofusão dos diabos”. Isso porque a ideia, para muitos evangélicos, carrega um inaceitável lastro pagão.
“Quem vai pregar é um pastor alemão?” e “Priscilla da TV Colosso vai dar a palavra?” entram na leva de ironias bem-humoradas entre as centenas de comentários na publicação, boa parte deles negativa.
Outros são mais diretos ao exprimir desaprovação. “Faz favor, ofereça isso às pessoas em situação de rua, deem a elas alimento natural e espiritual, elas poderão testificar as maravilhas do Senhor. Eu tenho 2 pets, mas isso aí não se justifica”, criticou uma seguidora. “Estão passando dos limites.”
“Que heresia! Significado de CULTO: homenagem prestada ao que é considerado sagrado ou divino”, rebateu outra conta no Instagram.
Em 2019, outra igreja, a Bola de Neve, virou motivo de chacota nas redes pelo mesmo motivo. Sites especializados, como o Gospel Mais e o Pleno News, repercutiram o culto para animais de estimação.
O Irmão Flash, um perfil de humor “webcrente” no Twitter, replicou uma chamada para a pregação, e um dos seguidores comentou na época como reagir “caso o cão se manifestasse”. Ou seja, se o cachorro incorporasse um espírito demoníaco, crença presente em algumas igrejas da linha pentecostal.
O pastor Renato Vargens, da Igreja Cristã da Aliança, viu pouca graça no tema. “Pois bem, agora resolveram fazer um culto pet, e, pasmem, tem muita gente defendendo essa prática”, escreveu numa rede social. “Realmente parece que o paganismo tomou conta de parte da Igreja e voltamos ao Egito antigo. Que Deus tenha misericórdia da Sua Igreja.”
Presidente da Fonte da Vida, o apóstolo César Augusto diz que a iniciativa, idealizada por um líder de sua igreja, é “muito positiva”.
A meta, segundo Augusto, é “levar a mensagem de Deus para as pessoas que estão carentes, precisam ir à igreja e geralmente não vão, mas se apegam a um animal. E aí elas vão levar o animal lá para receber oração, uma proteção ao bicho.”
Seria uma obra evangelística que usa os pets para atingir seus donos, portanto. “Nos EUA tem muito disso, não é algo que criamos. A Igreja Católica faz muito isso também. Essas pessoas estão muito isoladas. Acreditamos que, além de ser evangelístico, [o culto] pode até ajudar pessoas a se socializarem quando elas não têm uma ponte para se aproximar de outros.”
André Valadão, um dos líderes evangélicos mais influentes do Brasil, defendeu a abertura das igrejas para cerimônias do tipo. Nesta quinta, o pastor Igreja Batista Lagoinha respondeu um seguidor que, no Instagram, perguntou o que ela acha de fazer um culto pet.
“Sensacional”, disse. “O apóstolo Paulo falou o seguinte, vou fazer de tudo para com todos, para de alguma forma eu conseguir ganhar alguns para Jesus. Esse culto aí vai ser bom pra cachorro.”