Especialista e liderança sindical de Paranavaí destacam importância da data para promover igualdade e representatividade
Cibele Chacon – da redação
O Dia da Consciência Negra, celebrado em 20 de novembro, é uma data que convida à reflexão sobre a história, a cultura e a contribuição da população negra para a sociedade brasileira. Feriado nacional, a data homenageia Zumbi dos Palmares, líder quilombola símbolo da resistência contra a escravidão, e reflete a luta contínua contra o racismo e a desigualdade.
Para Celso José dos Santos, especialista em história e cultura africana e afro-brasileira e presidente da Associação Negritude de Promoção da Igualdade Racial (ANPIR), o Dia da Consciência Negra é fruto de uma luta secular. “É o reconhecimento da história, das lutas e da ancestralidade da população negra, antes e após o escravismo criminoso. Para mim, ver nossa cidade comemorando esse feriado é saborear uma vitória de anos de luta pela aprovação do feriado municipal nessa data”, afirmou.
A discussão sobre “consciência humana” em substituição à “consciência negra” também foi abordada pelo especialista. Ele considera o discurso como uma tentativa de apagamento das lutas negras. “É preciso ter consciência humana, mas isso não exclui a necessidade de olhar para o racismo, o preconceito e a discriminação. Negar essas lutas é perpetuar privilégios e a exclusão”, argumentou, reforçando a desigualdade nos mercados de trabalho, educação e representação política.
A educação é apontada por Celso como o caminho fundamental para mudanças. Mas ele alerta que a implementação da Lei 10.639/03, que trata do ensino de história e cultura africana e afro-brasileira, ainda é limitada. “Apenas 47,7% das redes estaduais implementam a Educação para Relações Étnico-Raciais (ERER). No Paraná, esse número é ainda menor, 31,1%. Precisamos ampliar isso para que brancos e negros conheçam e reconheçam essa história”, frisou.
REPRESENTATIVIDADE – Leila Vanda Aguiar da Silva, presidente do Sindicato dos Empregados no Comércio de Paranavaí (Sindoscom), um dos mais significativos em termos de números, compartilhou como sua trajetória pessoal e profissional influencia sua atuação sindical. “Sempre acreditei que, sendo um exemplo, poderia fazer mais por aqueles que não eram vistos ou ouvidos. Minha vivência como comerciária e minha luta pessoal me fizeram sentir na pele a luta dos trabalhadores”, explicou.
Leila enxerga sua posição como mulher negra na presidência de um sindicato representativo como um marco de inclusão e representatividade. “Se eu cheguei até aqui, todas as mulheres negras também conseguem. Não foi fácil, mas nunca foi sobre ser fácil. É sobre fazer valer a pena e lutar pela legitimidade dos direitos dos trabalhadores”, destacou.
RACISMO ESTRUTURAL – A luta contra o racismo estrutural é outro desafio destacado por Santos. Para ele, o combate passa pelo reconhecimento do problema, implementação de ações afirmativas e punição exemplar de casos de racismo. “Não se combate o que não se reconhece. E para aqueles que não aprendem pelo amor ou pela educação, a dor também oferece ensinamentos”, pontuou.
A presidente do Sindoscom também enfatiza que o racismo estrutural ainda é um obstáculo diário, especialmente em cargos de liderança. “Vivemos em um país patriarcal, onde uma mulher negra é vista como incapaz de liderar. Meu maior desafio é ser ouvida e promover mudanças inspiradoras”, disse. Ela acredita que mais mulheres negras em posições de liderança, tanto no sindicalismo quanto em outras áreas, podem transformar estruturas historicamente desiguais.
A mensagem de Leila para outras mulheres negras é clara: “Lutem fervorosamente e mantenham a fé. O sistema sempre será um obstáculo, mas sem luta não há vitória. Incentivem seus filhos a acreditarem que podem ser o que quiserem, pois somos todos iguais.”
Tanto para Santos quanto para Leila, o Dia da Consciência Negra, mais do que um momento de reflexão, é um convite à ação para governos, empresas e indivíduos. Seja por meio de políticas públicas, representatividade ou atitudes no dia a dia, eles reforçam que a luta pela igualdade racial é coletiva e contínua.