Aleksa Marques / Da Redação
O início dos anos de 1990 foi marcado pelas paqueras na Praça dos Pioneiros na cidade de Paranavaí. Como não havia muitas opções de lazer, paquerar ao embalo de músicas românticas de décadas anteriores era o programa de domingo preferido dos jovens. E foi em um desses finais de semana que José Augusto de Figueiredo, de 65 anos, começou a vender pipoca na praça. Aquele janeiro de 1991 mudaria para sempre sua história.
Ele foi comprar uma pipoca e, conversando com o casal de pipoqueiros, fez uma proposta para que eles vendessem o carrinho. O proprietário refletiu e concordou em vender, já que eles estavam com a idade avançada e cansados daquela rotina. “Seo” Augusto lembra que o carrinho tinha 1,60m, quatro rodas, poucos acessórios e que foram necessários alguns ajustes.
“No outro dia fui buscar no pátio do posto, levei para casa e ‘dei um trato’. Deixei bem limpo e arrumadinho e no outro domingo já comecei a trabalhar. No começo foi difícil, pois eu não tinha experiência. Mas aos poucos fui pegando prática e estou aqui até hoje”, lembra o pipoqueiro.
Antes de fazer a alegria das famílias com esse grão branquinho, ele fazia cobranças em uma loja de móveis. Nascido em Amaporã, “seo” Augusto conquistou muitas coisas e ajudou também o pai a construir a própria casa, com muita luta, disposição e pipoca.
Certa vez, ele lembra que deixou o carrinho todo pronto para trabalhar e colocou na calçada de casa para buscar algo que havia esquecido. Para seu azar, tinha uma rampa e ele não colocou os calços nas rodas. De repente, ele ouviu um barulho e logo pensou o pior. Seu companheiro de trabalho havia atravessado a rua, batido no meio fio e estourado as duas rodas dianteiras. “Naquele dia eu não fui trabalhar. Fiquei muito magoado. Mas arrumei tudo durante a semana e voltei para a atividade”, apontou como um dos acontecimentos tristes que já passaram pela sua trajetória.
Qual o segredo da pipoca perfeita? Uma pitada de amor, outra de carinho, uns temperos especiais que ele levou anos para aprimorar e o bacon usado para dar ainda mais sabor. Essa é a magia para uma pipoca deliciosamente apetitosa e quentinha saindo da pipoqueira.
E mesmo que você descubra quais são ingredientes usados, não vai ficar com o mesmo gosto. É igual tentar reproduzir aquela sopa que sua mãe fazia quando você era pequeno. Chega próximo, mas não é a mesma coisa.
Na pipoca doce, além do corante cor-de-rosa que dá um charme, o pipoqueiro da praça ainda acrescenta um pedaço de coco in natura, para dar um toque especial. “O que mais tem aí dentro, “seo” Augusto?”, perguntei. Ele deu risada.
Qual a pipoca mais vendida? Ele revela que não somente as crianças gostam de seu trabalho. “Os pais não ficam para trás, não”, brincou. A doce tem maior aceitação segundo ele, mas a salgada também faz a alegria de todos. “Difícil escolher uma só. A solução é levar logo um pacote de cada”.
Gosta do que faz? “Eu amo o que faço e faço com muito carinho. Aí dá tudo certo, né?”, afirmou. Quem já teve o privilégio de comprar um pacote de pipoca com ele, sabe da simpatia escondida atrás da máscara que ele usa por questões de higiene.
Enquanto esperava a minha vez, uma criança pediu “duas pipocas, por favor”. Ele, de imediato, colocou duas unidades do grão dentro do pacote. A menina ficou tão surpresa que caiu na gargalhada. Não é só estourar pipoca, é a arte de alegrar as pessoas, pensei.
“Seo” Augusto tem duas irmãs e quatro irmãos, não casou e não teve filhos. Mora há algumas quadras da Praça dos Pioneiros e falou que ainda tem muito chão pela frente e muita pipoca para estourar. “Até quando o Pai me der saúde e disposição e meus clientes me prestigiarem, estarei aqui.”
Em um domingo de bastante movimento, ele chega a vender até 100 pacotes de pipoca durante seu horário de trabalho, das 15h às 19h. Quando chove, ele não consegue trabalhar, mas faça frio ou calor, José Augusto estará na Praça dos Pioneiros.
De forma tímida, ao final da entrevista, ele agradeceu sua família pelo apoio de tantos anos, os clientes pela confiança e seu pai, que faleceu há pouco tempo. “Todas as vezes que eu saía para trabalhar ele orava por mim e pedia ao anjo da guarda São Gabriel e São José Operário que me protegesse”, finalizou de forma saudosa.
Da próxima vez que comprar pipoca com ele, a experiência terá um sabor diferente: uma pitada de “conheço um pouco da sua história”, com um toque de “o que será esse tempero que ele acrescentou” e “eu sei que ele faz com muito amor e carinho”. Segredos desse pipoqueiro que há mais de 20 anos brinca com as crianças e agrada os adultos.