*Por Fernando Gambôa e Paulo Ferezin
Conforme o mundo emerge da pandemia da covid-19, empresas e consumidores percebem o aumento de preços de serviços e bens de consumo. Este efeito é global e, assim como a crise financeira global, entre 2008 e 2009, desta vez, a doença e as restrições sociais causadas por ela levaram o crédito por esse efeito na economia atual, porque reduziram a demanda, o que, por sua vez, deprimiram os preços.
À medida que a campanha de vacinação avança, as empresas e a população geral conseguem perceber quais foram os efeitos concretos da pandemia que ainda não terminou. Certos insumos para a produção e transporte de produtos vendidos estão registrando valores muito altos em relação aos apontados antes da crise sanitária. Mas, muitas dessas altas podem não durar pelos próximos trimestres enquanto outras aparecem com um caráter mais permanente. Tal incerteza deixa as empresas de consumo e varejo em dúvida. Manter os preços estáveis em uma tentativa de chamar clientes ou subir os valores das mercadorias para equilibrar as margens de gastos e lucros?
Diversos varejistas e empresários da indústria de consumo se deparam com processos inflexíveis de avaliação de preços e promoções e não conseguem responder adequadamente aos custos de insumos que aumentam rapidamente e à diminuição de estoques de produtos com alta demanda. Levando em conta a realidade tão dinâmica e conectada que vivemos, com um comércio digital em amplo crescimento, as empresas do setor devem encontrar a melhor maneira de redesenhar processos de preços e promoções para atender à demanda do cliente e enfrentar custos crescentes dos insumos.
Os mais afetados são os serviços de alimentos, bebidas, bens de consumo, varejo e restaurantes – basicamente onde existe a necessidade do trabalho presencial e, consequentemente, da manutenção dos protocolos de segurança e distanciamento social. Com toda a situação, profissionais do setor compreendem a incerteza quanto à temporariedade dos aumentos dos preços. O caminho atual da economia está diretamente ligado à trajetória do vírus e aos efeitos dele na população e, por isso, as empresas precisam pensar em como lidar com os impactos na rentabilidade e nos caixas.
A escassez de mão de obra, restrições nas cadeias de suprimentos e inflação de preços não devem necessariamente levar à falência de empresas que gerenciam proativamente as próprias estruturas de custo e receita para proteger as margens. Mas, é importante entender que a pandemia resultou na ativação de vários gatilhos comuns de melhoria de desempenho e em várias alavancas que podem ser acionadas para neutralizar o resultado financeiro negativo.
*Fernando Gambôa é sócio-líder de consumo e varejo da KPMG no Brasil e na América do Sul. Paulo Ferezin é sócio-líder do segmento de varejo da KPMG no Brasil