NICOLA PAMPLONA
DA FOLHAPRESS
Descobertas gigantes de petróleo e gás na Namíbia podem destravar a atividade de exploração na Bacia de Pelotas, no litoral do Rio Grande do Sul, após mais de 20 anos da perfuração do último poço. A expectativa do setor é que a região tenha características similares às do país africano.
Em dezembro, a ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás e Biocombustíveis) leiloa 165 blocos naquela bacia, incluídos na oferta de áreas exploratórias após manifestação de interesse de petroleiras. Ao todo, serão oferecidas 602 áreas e cinco contratos do pré-sal.
A bacia de Pelotas não é estreante em leilões da ANP, mas não tem hoje nenhum contrato de concessão ativo. A Petrobras chegou a explorar a bacia em diferentes fases, mas não teve sucesso. Perfurou seu último poço lá entre abril e maio de 2001 e não encontrou petróleo.
Executivos presentes em conferência do setor no Rio de Janeiro esta semana lembraram que a atividade de exploração observa similaridades com outras bacias – a pressão por poços na bacia da Foz do Amazonas, por exemplo, começou após descobertas na Guiana.
Na Namíbia, a anglo-holandesa Shell e a francesa TotalEnergies anunciaram recentemente uma série de descobertas que podem conter 11 bilhões de barris de petróleo, volume equivalente ao anunciado pela americana Exxon na Guiana.
Esse cenário leva diretor executivo da S&P Global, Ricardo Bedregal, a apostar que Pelotas será um dos focos do próximo leilão da ANP, ao lado da bacia de Sergipe-Alagoas. “É um prospecto parecido com o das descobertas na Namíbia”, afirmou, em palestra na OTC (Offshore Tecnology Conferece).
A superintendente de Promoção de Licitações da ANP, Marina Abelha, disse esperar grande interesse das petroleiras na região, já que a definição dos blocos oferecidos é iniciada a partir de manifestações do mercado. “Todos os 12 setores [de blocos] da bacia de Pelotas receberam declaração de interesse.”
O gerente-geral de Dados de Exploração e Tecnologia Aplicada da Petrobras, Otaviano da Cruz Pessoa Neto, reforçou que o setor busca sempre similaridades, mas disse que descobertas na África não garantem sucesso exploratório no litoral gaúcho.
“[A bacia de Pelotas] tem seus riscos”, disse. “A Petrobras já esteve lá, enfrentou suas dificuldades e agora está no mercado de novo. Vamos ver se ela vai ser plano de área para alguma companhia”, completou, evitando dizer se a Petrobras fará ofertas ou não.
Segundo ele, a estatal foi procurada pelas empresas descobridoras na Namíbia para comparar dados geológicos com os da bacia de Pelotas, mas que os resultados não foram muito animadores.
A última vez em que a região teve blocos arrematados em leilões do governo foi em 2004. As descobertas na Namíbia já têm movimentado, porém, a indústria do petróleo na Argentina e no Uruguai, que também teriam características semelhantes.
Ainda que decida apostar novamente no Sul, a Petrobras mantém a aposta na margem equatorial como plano A para renovar suas reservas. A empresa obteve em setembro licenças para perfurar dois poços na bacia Potiguar e espera autorização para poço na bacia da Foz do Amazonas em 2024.
A possibilidade de abertura de uma nova fronteira exploratória na região sul, porém, pode ajudar a reverter o que Bedregal chamou de “crise de exploração” do país, com a redução ano a ano de poços pioneiros em busca de petróleo, aqueles furados em áreas onde ainda não há qualquer descoberta.
Em 2022, disse, foram apenas 21 poços pioneiros (10 no mar e 11 em terra), contra um pico de 157 em 2008 (45 no mar e 113 em terra). O ciclo de queda nesse tipo de poço coincide com um foco total da Petrobras no desenvolvimento das reservas descobertas no pré-sal na virada da década.
Sem a descoberta de novas fronteiras, a produção nacional de petróleo passa a cair no início da próxima década, segundo estimativa da EPE (Empresa de Pesquisa Energética).