Aleksa Marques / Da Redação
O vento era tranquilo quando chegamos ao sítio Nossa Senhora Aparecida na estrada rural Cristo Rei em Paranavaí. Os pássaros cantarolavam enquanto descansavam na sombra da mangueira, tomando banho na areia gelada. O sol entrava pela copa das árvores iluminando o caminho. Enquanto isso, o casal de pombinhos fazia bolachas de pinga no interior da residência. Um ajudando o outro, serenos e sem pressa. Um pouco diferente das décadas anteriores e eu vou te contar o por quê.
O ano era 1941 quando o agricultor aposentado Antônio Baggio, hoje com 89 anos, começou a trabalhar na lavoura de café. Ainda menino, aos 8, os pais o tiraram da escola para poder ajudar na roça. Ana Narecci Baggio, hoje com 84 anos de idade, iniciou um pouco mais tarde, aos 16, mas também teve que abdicar dos estudos para ser um braço a mais para carpir e colher os grãos.
Ele nascido em Tabapuã, interior de São Paulo e ela, em Cambé, norte do Paraná. Ele de uma família de 7 irmãos e ela, de 9. Os dois com histórias parecidas, vindos de famílias de agricultores, seguiram o caminho dos pais e hoje, colhem os frutos do trabalho árduo.
Conheceram-se em Santa Maria, distrito de Alto Paraná e casaram em 1959. Tiveram três filhos, um falecido ainda pequeno, e outros dois que seguiram a profissão: José Cláudio Baggio e Waldecir Carlos Baggio são igualmente agricultores. Os netos tiveram contato com o campo, mas não seguiram a tradição.
A vida não é fácil na roça
“Quando eu ainda era uma menina, meu pai me chamava para limpar o tronco do pé de café, naquela época chamado de ‘pião do pé de café’, porque as minhas mãos eram menores e eu conseguia colher tudinho”, conta Ana que disse já ter sido picada por uma aranha, por conta do trabalho no campo.
‘Seo’ Antônio sempre pegou pesado e confirma que o serviço nunca tinha fim. Férias? Nem pensar. “Tinha que plantar, colher, colocar para secar, guardar em sacos, levar para o depósito, cuidar de tudo o tempo todo e ainda tinha o restante do sítio”, lembra ele que tratava de mais de 50 mil pés de café onde mora atualmente.
Em meio a tudo isso, eles passaram por duas grandes geadas: a de 1955 e a de 1975. “Foi muito triste. Olhava para tudo e só dava vontade de chorar, não sobrou nem um pé de manga. Só ficaram dois pés de laranja lima, porque parece que ele é mais resistente ao frio”, recorda Maria Aparecida Baggio, de 83 anos, irmã de Antônio, também nascida e crescida na mesma roça. Ela trouxe consigo uma caixa de metal recheada com fotografias antigas e mostrava com orgulho as recordações de uma vida inteira baseada na agricultura. “Essas fotos aqui são de quando nosso sítio era repleto de café, dava até gosto de ver”, falava enquanto apontava para as fotos em cima da mesa.
Perguntado sobre fazer o que gosta, Antônio dá uma resposta certeira. “É tudo o que eu aprendi, é o que eu sei fazer e faço até hoje o que eu consigo”. Todas as manhãs ele ao lado de dona Ana varrem o quintal, levam sal ao gado, trocam os animais de lugar, cuidam arrumações necessárias para o bom funcionamento do lugar. “O mais pesado quem faz é o caseiro. Hoje em dia a gente aproveita mais a vida mesmo”, falou dona Ana enquanto abria a massa de bolachinha de pinga com um pote de vidro de azeitona ao lado do marido.
Enquanto posavam para as fotos perto dos cafeeiros plantados como forma de recordação, relembravam com orgulho os anos como agricultores e de tudo o que conquistaram por conta do café. Hoje, a tristeza é não ter a disposição de antigamente para conseguir desenvolver as atividades. “A gente ama isso tudo, nunca moramos na cidade e não queremos. Quando chega a noite, não tem barulho, é uma paz. Não tem nada melhor que esse sossego e o canto dos pássaros”, encerrou o agricultor que deve tudo o que tem à terra.
Fotos/Ivan Fuquini