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MULHERES QUE LUTAM

Dia Internacional da Mulher marca luta por igualdade de direitos

REINALDO SILVA

reinaldo@diariodonoroeste.com.br

“Deus é mãe

E todas as ciências femininas

A poesia, as rimas

Querem o seu colo de madona”

Ícone brasileiro da luta pelos direitos das mulheres, Elza Soares cantou: Deus há de ser fêmea, fina, linda. Deus há de entender, há de querer. Uma das vozes negras mais ativas e marcantes das últimas décadas, a cantora morreu em 2022, aos 91 anos de idade, por causas naturais.

Elza Soares denunciou a violência contra mulheres e pregou a igualdade de gêneros. Nos versos da canção “Deus há de ser”, que abre esta reportagem, ela exalta a divindade da figura feminina.

Cantar é homenagear e homenagear é reconhecer a importância das mulheres.

Nesta quarta-feira, 8 de março, Dia Internacional da Mulher, o Diário do Noroeste presta homenagens em uma série especial que pretende contar histórias de lutas e conquistas, a começar por 1917, ano da Revolução Russa e que marca o movimento de mulheres operárias por melhores condições de trabalho, pelo fim da exploração.

“Elas entravam no sistema fabril e ganhavam menos que os homens”, conta Isabela Candeloro Campoi, professora da Universidade Estadual do Paraná (Unespar), campus de Paranavaí, doutora em História e presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher.

O mundo vivia a primeira grande guerra (1914-18) e a Rússia enfrentava conflitos pelo fim do czarismo, culminando na tomada de poder pelos socialistas. Segundo a professora Isabela, a participação das mulheres foi fundamental para a concretização da revolução operária e o 8 de março é também para lembrar do papel que tiveram em 1917.

Somente em 1975 a Organização das Nações Unidas (ONU) estabeleceu 8 de março como o Dia Internacional das Mulheres, sendo celebrado atualmente em mais de 100 países.

No ano em que a data foi oficializada, o Brasil vivia a ditadura militar (1964-85) e o presidente era Ernesto Geisel.

O regime autoritário impedia manifestações populares e com as mulheres não foi diferente. A efervescente luta pelos direitos femininos em todo o mundo precisou ser camuflada no Brasil, em vez de ganhar as ruas em protestos, elas se reuniam para palestras e ações pontuais para tratar sobre mercado de trabalho, salários e direitos reprodutivos.

Debates – Em 2023, como em 1975, as discussões ainda são necessárias. Mesmo exercendo as mesmas funções, mulheres ganham menos do que homens e a equiparação salarial é pauta recorrente. Mas não é o único problema no âmbito do mercado de trabalho.

A professora Isabela Candeloro Campoi questiona a legislação que fixa a licença-maternidade em quatro meses e a licença-paternidade em 20 dias. A discrepância desprivilegia as mulheres trabalhadoras e desequilibra a divisão dos cuidados com as crianças. A situação também compromete o acesso delas às vagas de emprego.

No âmbito da saúde, as mulheres enfrentam dificuldades que precisam ser discutidas sem paixões, mas como políticas públicas efetivas. É o caso da laqueadura, cirurgia para ligadura de trompas com objetivo contraceptivo, impedindo que a mulher engravide novamente.

Até 2022 o procedimento só era permitido a mulheres com 25 anos de idade ou mais e dependia do aval do cônjuge. A Lei Federal 14.443 modificou as exigências, passando para o mínimo de 21 anos, sem a necessidade de autorização do homem.

A mudança é positiva, avalia Isabela Candeloro Campoi, mas a aplicação prática ainda está longe de ser ideal. Em alguns municípios, o Sistema Único de Saúde (SUS) não oferece laqueadura e as mulheres precisam ir para outros centros caso queiram se submeter à cirurgia.

Outro aspecto destacado pela professora é a organização familiar, que coloca a mulher na condição de cuidadora e exime os homens da responsabilidade com as crianças. “O peso da maternidade coloca esse papel sobre as mães, mas os homens também precisam estar presentes e questionar essa exigência do patriarcado.”

De forma resumida, o termo patriarcado se refere à dominação masculina não apenas no ambiente doméstico, mas nos diferentes espaços sociais, no mercado de trabalho, nas atividades esportivas e assim por diante.

Homenagem – Há que se questionar, sempre, sem esquecer que as homenagens são imprescindíveis. O viés comemorativo do Dia Internacional da Mulher é para mostrar que elas são os pilares da sociedade e têm ganhado cada vez mais espaço como trabalhadoras, líderes e agentes políticas.

Isabela Candeloro Campoi utiliza uma frase conhecida para ressaltar que à mulher cabe decidir os rumos que pretende seguir – lugar de mulher é onde ela quiser.

E se é para homenagear, que seja com as palavras de Elza Soares, “que tudo vá para melhor, se for mulher, Deus há de ser”.

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