ADÃO RIBEIRO
“Que judiação!”. Estas são as primeiras letras impressas no Diário do Noroeste pelo trabalho da caneta do jornalista Jorge Roberto Pereira da Silva. Era 1984 quando o jovem ingressou no DN pelas mãos do seu fundador – Euclides Bogoni. Jorge Roberto nos recebeu em sua casa na manhã desta quinta-feira para um longo e proveitoso bate-papo sobre o aniversário do DN, memórias e o futuro das comunicações.
Contextualizando o início da nossa conversa (Que judiação!): Estreante, Jorge Roberto e o fotógrafo Guto Costa (em início de carreira) foram incumbidos de fazer uma matéria sobre a situação do Bosque Municipal da Vila Operária. Encontraram um cenário desolador dos pontos de vista ecológico e social. A expressão é de Guto Costa, manifestada espontaneamente diante da situação vista na tradicional reserva paranavaiense.
Jorge Roberto conta que optou por começar deste ponto para passar a primeira impressão, ou seja, o que mais se aproxima da verdade, um ideal da profissão. Depois, foram milhares de palavras, seja como repórter, seja como editor-chefe, cargo que ocupou por cerca de duas décadas.
O jornalista lembra do início da carreira em 1977. Passou pelo rádio onde foi operador de som. Depois, peregrinou por redações de jornais impressos, incluindo o Diário do Norte do Paraná, de Maringá, e sucursais de grandes empresas como a Gazeta do Povo.
Se recorda que trabalhou muito em Paranavaí e Campo Mourão simultaneamente, captando as principais notícias das duas regionais. Morava em hotel (Príncipe Hotel) e na Pensão da Dona Zélia.
Quando conheceu a sua esposa (Cida, com quem tem duas filhas), decidiu que estava na hora de se estabelecer em Paranavaí. Pediu uma vaga na redação do DN e foi contratado. Logo de saída emplacou a matéria do bosque e certamente incomodou os políticos da época.
Em 1984 um repórter era generalista, ou seja, não tinha uma área específica de atuação. Por isso, escreveu sobre política, polícia, religião, entidades de classe e tantos outros assuntos. Após um período, Jorge Roberto deixou o DN para trabalhar na sucursal da Folha de Londrina. Com o fechamento da representação da Folha, voltou ao DN, agora na condição de editor-chefe. Ele ressalta a generosidade de Euclides Bogoni, o patrão/pai como os seus colaboradores o chamavam.
Jorge Roberto se impôs o desafio de “revolucionar” o DN, inserindo novo layout e sessões distintas, separando por temas e valorizando a capa, ou seja, a primeira página, espaço nobre destinado às manchetes.
O jornalista compôs uma equipe que se destacou nos anos 1990. Era formada por articulistas como Saul Bogoni, Ivo Cardoso e Neodo Noronha Dias. Na região estava Francisco Carlos Soares, o Chicão, homem de personalidade forte e que fez história na Amunpar – Associação dos Municípios do Noroeste Paranaense. Chicão foi parceiro de Bogoni em quase toda a trajetória do DN até os anos 2000.
Ainda nesta equipe de profissionais estavam Benedito Praxedes Júnior, Dinei Feitosa (que passou pelos diversos setores do DN e também foi editor-chefe), Dorival Ferreira, além dos repórteres fotográficos Guto Costa e Robson Fracaroli, hoje advogado. Egresso do rádio, Adão Ribeiro chegou a este time por intermédio de Jorge Roberto, no início da década de 1990.
Futuro do jornal impresso – Observador atento, o experiente jornalista esperava mudanças nos meios de comunicação. Porém, admite que vieram antes do imaginado. Mas ressalta que o jornal impresso sempre será sinônimo de confiança. “O que está escrito tem credibilidade”, resume, completando que a checagem é o critério essencial do bom jornalismo.
Aliás, ele lembra que gosta de textos completos. Assessor de imprensa de diversas empresas e entidades, Roberto não economiza nas palavras. Faz textos longos e cabe a cada veículo fazer a adaptação. Traçando um paralelo entre o passado e o tempo presente, ele admite sentir falta das grandes reportagens, aquelas que necessitam de muita pesquisa, várias fontes e temas sensíveis.
Sobre o futuro do impresso, comunga da ideia da formação de novos leitores. O trabalho, aponta, deve ser conjunto, integrando a educação formal (escola) e a informal (do lar). Os pais têm a missão de ensinar a importância da leitura. A escola irá lapidar esse gosto, agregando o conhecimento acadêmico.
A educação é citada por Jorge Roberto como a única saída para o desenvolvimento do País. Narra a sua experiência da visita ao Japão, onde constatou o milagre promovido pela educação. O Japão saiu arrasado da 2ª Guerra Mundial e apostou as fichas na formação das pessoas. Hoje é um dos maiores países do mundo e vanguarda na educação.
O apelido – Quem conhece o Jorge Roberto pode não saber, mas este nosso bate-papo vai entregar: no início da carreira o seu apelido era Parafuso. O jornalista não sabe exatamente o motivo, mas supõe que o apelido seja “obra” de um motorista do Diário de Maringá, seu Caetano. O homem, descrito por ele como inteligente e bem humorado, tinha a mania de dar nomes alternativos para os novos contratados.
Ele foi repórter policial por cinco anos na empresa e, quando chegou, já se deparou com o novo nome: Parafuso. O Caetano decidia aleatoriamente os apelidos dos novatos. “Acho que foi isso”, define.
Nota da Redação: O DN aproveita esta entrevista para homenagear a todos os colaboradores que passaram por essa casa em 68 anos de história. Mesmo os não citados (apenas por lapso de memória), sintam-se homenageados.