REINALDO SILVA
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A Igreja Católica não tem a pretensão de resolver todos os problemas, antes, busca promover reflexões sobre questões importantes para a sociedade. Através da Campanha da Fraternidade, aborda situações que tocam a população. Desta vez, a educação. Em entrevista exclusiva ao Diário do Noroeste, o bispo de Paranavaí, dom Mário Spaki, explicou os principais aspectos do debate proposto pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e indicou caminhos que podem resultar em mudanças profundas na comunidade.
O tema de 2022 é “Fraternidade e Educação” e o lema bíblico, “Fala com sabedoria, ensina com amor”, trecho extraído do livro dos Provérbios. Na avalição de dom Mário Spaki, “todo o processo educativo está falhando. As pessoas se tornam cada vez mais violentas no trânsito, nas redes sociais, nos relacionamentos do dia a dia”.
Não se trata apenas da educação no âmbito escolar, mas de todos os agentes envolvidos na formação dos indivíduos, incluindo a família e a igreja. “A educação integral não está ligada a compartimentos, mas à sociedade como um todo”, diz o bispo. Ele cita um ditado africano que resume bem o pensamento: “É preciso uma aldeia inteira para educar uma criança”.
A Igreja Católica tem implicações diretas na formação educacional. Em nível acadêmico, conta com escolas e universidades. No aspecto religioso, oferece aulas semanais sobre a Bíblia e os preceitos cristãos, a catequese. Os ensinamentos se estendem até as celebrações, percorrem as pastorais e chegam aos grupos de reflexão. “A Igreja educa para a fé”, sintetiza dom Mário Spaki.
O bispo opina que a educação precisa levar em conta alguns valores fundamentais para a vivência em sociedade, por exemplo, respeito e solidariedade, pilares do cristianismo. “Sem isso, ficamos frágeis.”
No caso das crianças, há uma avalanche de conteúdos disponíveis nas redes de tevê aberta e nos canais por assinatura, além das plataformas digitais. É de suma importância conhecer o material antes de deixar que o público infantil tenha acesso. Fato é que o uso das tecnologias está, cada vez mais, substituindo os contatos interpessoais, e as consequências são preocupantes. “O relacionamento presencial é determinante. Somos feitos de carne e osso e não podemos terceirizar a convivência.”
Ainda em relação às mídias digitais, dom Mário Spaki chama a atenção para dois pontos díspares: ao mesmo tempo em que transmitem informações pertinentes, apresentam elementos desagregadores. “Informam muito, mas formam pouco.” A manipulação das notícias e a disseminação de mentiras, as chamadas fake news, preocupam o bispo de Paranavaí.
Mudanças – É a terceira vez que Campanha da Fraternidade aborda a temática da educação, também objeto de reflexão em 1982 e 1998. Desde então, muitas mudanças ocorreram na sociedade, como o fato de os meios de comunicação terem abrangência mais ampla do que antes. “Não só tecnicamente, mas com influência direta na essência do ser humano”, pondera dom Mário Spaki.
O advento das mídias digitais acelerou o processo de divulgação de informações. Tudo é muito rápido, imediato, com rotatividade muito grande. “Essa correria traz consequências”, diz o bispo. Especialmente durante a pandemia de Covid-19, com o isolamento social, a internet se consolidou como parte indissociável dos cidadãos, e toda a celeridade que a acompanha gerou problemas psicológicos para os consumidores. Nesse sentido, a educação também precisa ser uma ferramenta de transformação.
Quaresma – O começo da Campanha da Fraternidade coincide com a Quarta-Feira de Cinzas, celebrada ontem pela Igreja Católica, primeiro dia da Quaresma. São 40 dias de preparação para a Páscoa, quando, segundo a fé cristã, Jesus, filho de Deus feito homem, ressuscita.
Dom Mário Spaki ensina que, pela tradição da Igreja Católica, o período da Quaresma requer mais silêncio, pede reflexões. “Significa sair das coisas do mundo e se voltar para si mesmo.” Três práticas são necessárias: oração, caridade e jejum.
O bispo incentiva a abrir mão de alguns hábitos, o que chama de momentos de mortificação, principalmente na Quarta-Feira de Cinzas e na Sexta-Feira da Paixão. Sugere evitar o consumo de carne vermelha, mas não faz sentido comprar outros tipos de carne e preparar um banquete. Ao deixar de comprar o alimento, uma das possibilidades é destinar o dinheiro para entidades de assistência social.
Ao longo da Quaresma, os católicos são convidados a participar das vias sacras, procissões alusivas à caminhada de Jesus antes de ser crucificado. A comunidade também cria grupos de reflexão e promove encontros de oração.