FRANCISCO LIMA NETO
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – “Para mim foi uma dor maior do que quando eu perdi meu pai. Eu me sentia protegida pelo Pedrinho como eu não me sentia protegida pelo meu pai.” Assim Iza Toledo, 52, psicanalista de Pedrinho Matador, define o que sentiu quando soube da morte dele, no último dia 5, em Mogi das Cruzes (Grande SP).
Ela escreveu a biografia “Serial Killer (?) Eu Não Sou o Monstro”, que conta a história de Pedro Rodrigues Filho, 68, que ficou conhecido pelo apelido por ter sido responsável por mais de cem assassinatos -ele passou 42 anos preso e foi solto em 2018.
“Eu perdi meu pai quando eu tinha 26 anos. Ele não era um homem carinhoso, era um homem muito reservado. Com o Pedrinho, a gente tinha uma convivência, a gente brincava. Ele não era o Pedrinho Matador, era o Pedrinho Rodrigues. Era a pessoa que ele tava descobrindo que ele era, que estava se transformando”, afirma a terapeuta.
Pedrinho deixou para trás a cidade de Mogi das Cruzes e foi morar em Itanhaém, no litoral paulista, no segundo semestre de 2021, depois de dois meses fazendo terapia online com Toledo.
Ele morava em um cômodo, na parte de baixo da casa onde a terapeuta vive com o marido, um médico.
“A gente conversava três vezes por semana, por duas horas. E foi ganhando confiança em mim e queria que eu escrevesse um livro que mostrasse o lado ruim dele, mas também o bom. Ele não queria ser santo, mas queria mostrar o que tinha acontecido com ele e por que ele tinha se arrependido e queria uma vida nova”, conta.
A abordagem com Pedrinho envolvia pet terapia, em que ele cuidava dos cinco cachorros da família. A escrita criativa também era utilizada para que ele se lembrasse de passagens de sua vida para o livro.
Ele passou a conviver com a família. “Havia um vínculo muito forte. Ele estava começando a viver agora. Nós passamos a ser a família do Pedrinho. As pessoas acham estranho porque elas são sórdidas e projetam no outro toda a sordidez que tem dentro delas”, avalia.
A terapeuta afirma que Pedrinho usava uma correntinha que ganhou de outro médico. Um dia, o paciente pediu a aliança da terapeuta para pendurar no colar.
“Eu disse que meu marido ia ficar bravo. Mas ele pediu a aliança do meu marido também e andava com as nossas alianças no pescoço. Dizia que com a corrente e a minha aliança e a do meu marido -ele era muito amigo do meu marido-, ele se sentia sempre protegido, era como se carregasse a família com ele”, conta.
Ela reclama que tem sido alvo de fake news desde a morte de Pedrinho.
“As pessoas me chamam de viúva do Pedrinho. Dizem que sou amante dele. Outras dizem que eu estou milionária, que ganhei muito dinheiro com ele, mas é tudo mentira. Além de eu não poder elaborar o meu luto, tenho que lutar contra essas fake news”, diz.
Ela afirma que todo o cuidado e convivência que teve com Pedrinho não significam uma romantização da criminalidade.
“Nós queremos levar uma mensagem de esperança para a sociedade. Uma demonstração de que o ser humano quando quer e é acolhido com humanidade, ele consegue se superar se regenerar, essa é a mensagem”, conclui.
Pedrinho foi assassinado na porta da casa de uma irmã, em Mogi das Cruzes. Ele foi atingido por tiros e depois degolado. Um dos autores do crime utilizava uma máscara do personagem Coringa, segundo relato de uma testemunha.
A história de vida e dos crimes dele vai ser tema de documentário e de uma série. O responsável pelas produções é o cineasta Fernando Grostein de Andrade.
Grostein conheceu Pedrinho Matador enquanto dava aulas de teatro para detentos na penitenciária Adriano Marrey, em Guarulhos.