PRISCILA CAMAZANO
DA FOLHAPRESS
Em toda eleição acontece a mesma história: junto aos políticos tradicionais, celebridades e candidatos com nomes curiosos surgem nas urnas, muitas vezes liderando a estratégia dos “puxadores de votos”.
Em 2022, o eleitor brasileiro poderá votar, por exemplo, no jornalista Marcos Uchôa, no lutador de MMA Wanderlei Silva, no técnico de futebol Joel Santana e, de novo, no humorista Tiririca. Além de muitos outros nomes, a lista abriga ainda os atores de filmes pornográficos Elisa Sanches e Kid Bengala.
Uchôa, que concorre à vaga de deputado federal no Rio de Janeiro pelo PSB, foi repórter da TV Globo por 34 anos, período no qual cobriu Olimpíadas, Copas do Mundo e conflitos.
Agora candidato, o jornalista usa a experiência na mídia para apresentar suas propostas contra a insegurança alimentar e a defasagem educacional após dois anos e meio da pandemia de coronavírus em vídeos nas redes sociais.
Nos últimos meses, Uchôa participou de diversos podcasts, num arco ideológico bem amplo. Foi, por exemplo, ao “Cara a Tapa”, apresentado por Rica Perrone, nome identificado com o bolsonarismo, e à TV Fórum, da Revista Fórum, de viés de esquerda. Nos programas, falou sobre futebol, ofereceu explicações à guerra entre Rússia e Ucrânia e, claro, discorreu sobre política, em uma posição anti-Bolsonaro.
Assim como Uchôa, outra personalidade com trajetória ligada ao futebol no pleito deste ano é Joel Santana, técnico que concorre a deputado federal pelo Pros no Rio de Janeiro.
Treinador de grandes clubes no Brasil e campeão por muitos deles, o “papai Joel” viralizou mesmo após uma entrevista, em 2009, quando treinava a seleção da África do Sul, em que seu inglês macarrônico virou alvo de gozações.
Mas a piada virou um ativo: Joel fez diversas peças publicitárias e a transformou em arma de campanha. “Já viu as minhas propostas para deputado federal? Não? You tá de brinqueichon uite me, bicho? Entre no meu site e confira a nossa proposta de job. Anda logo que o deadline é is short”, diz ele em um vídeo.
Quem não ficar de “brinqueichon” e acessar o site, porém, não encontrará as propostas de Joel, mas um resumo de sua carreira.
O mais próximo de uma indicação da plataforma do candidato é um trecho de sua biografia, na qual diz ter visto “muita gente indo para maus caminhos por falta de oportunidades e de instrução adequada que os levassem a se dedicar aos estudos”.
“É por isso que entro para a política, para tentar mudar a realidade de pessoas que acabaram não conseguindo as mesmas chances que tive.”
Hannah Maruci Aflalo, doutoranda em ciência política pela USP e diretora do projeto A Tenda das Candidatas, que oferece apoio a mulheres em campanhas eleitorais, lembra que o capital midiático é essencial para os partidos elegerem mais candidatos, devido à estratégia dos “puxadores de votos”.
“O que temos hoje é um sistema proporcional. Quando um partido tem um candidato que acumula muitos votos, isso vai mudar o quociente eleitoral, ou seja, quanto mais voto o partido recebe na soma de um candidato, mais cadeiras consegue”, afirma Hannah.
“As pessoas não sabem disso, votam no Tiririca, por exemplo, como um voto de protesto, mas na verdade elegem outros deputados que elas nem sabem.”
Tiririca, aliás, busca o quarto mandato. Filiado ao PL, sigla do presidente Jair Bolsonaro, ele cogitou não se candidatar em 2018, mas foi convencido pelo partido, justamente por ser um puxador de votos. Em 2010, o humorista que explodiu com a música “Florentina” foi o deputado federal mais votado do país.
Fora do campo do humor, a área de filmes pornográficos tem dois representantes de peso. Elisa Sanches e Kid Bengala.
Cheio de trocadilhos, Clóvis Basílio dos Santos, 67, candidato a deputado federal pela União Brasil diz que está “de saco cheio de tanta sacanagem na política” e, por isso, resolveu “inovar para meter o pau nessa bagunça”. “Pode apostar que eu vou entrar é com tudo.”
Numa toada muito mais sutil, sem referências a sexo, Elisa Sanches (Patriota) afirma que, se eleita, será “a deputada da saúde, da liberdade e da defesa da mulher”. As mensagens em tom mais sério, por outro lado, são acompanhadas de fotos em que aparece, por exemplo, vestida de Mulher Maravilha.
No Paraná, o lutador de MMA Wanderlei Silva é outro nome do esporte a tentar uma vaga na Câmara. Com o slogan “minha luta agora vai ser lá em Brasília contra a corrupção”, o candidato pelo PP faz campanha de blazer e luvas de boxe.
Nas redes sociais, celebrou o corte da taxa de importação de suplementos alimentares, como whey protein, e defende a valorização dos profissionais da área de segurança pública.
Menos conhecidos, mas com nomes que chamam a atenção, há uma lista grande de candidatos que aparecerão nas urnas com apelidos folclóricos, como Velho Barreiro (Patriota), Obama (PMN), Maria Vai com as Outras (PT), Ralado de Gel do Bode (PSOL), Palhaço Torradinha (DC) e Fatal, o Retorno (PRTB).
Para Hannah, essa é uma outra categoria de candidato, não necessariamente ligada ao capital midiático. “É o uso do humor na campanha, o que é extremamente válido. É uma outra forma de ganhar visibilidade.”