A Santa Casa de Paranavaí está vivendo o mais grave período de desiquilíbrio financeiro desde 2002 e a principal razão é o elevado custo de medicamentos e insumos, cujos preços foram se elevando durante a pandemia da Covid-19 e estão se mantendo mesmo com a drástica redução de casos de coronavírus. Para se ter uma ideia, a ampola de 2 ml de Dipirona Sódica, um medicamento largamente usado no hospital, teve seu preço majorado em 1.373,68% considerando o preço de antes da pandemia, que se iniciou em março de 2020. Segundo o gerente financeiro do hospital, Marcelo Cripa, em 2019, este medicamento custava R$ 0,38 e neste ano ele chegou a ser comprado por R$ 5,60.
“Se considerarmos apenas as receitas do hospital, poderíamos afirmar que, de modo geral, os valores se mantiveram nestes anos. Mas quando se avalia a variação das despesas no mesmo período é que se vê claramente a razão do desequilíbrio financeiro”, explica ele.
Em recente reunião com a diretoria da Santa Casa, Cripa apresentou alguns números que revelam as causas da crise que o hospital está enfrentando. Enquanto a Dipirona teve um aumento de preços de mais de 1.300%, outro insumo muito usado, o soro fisiológico, teve seu valor reajustado em 504,53%. A Santa Casa utiliza mais de quatro mil litros deste soro por mês.
Máscara – Outro item que impactou as finanças da instituição foi a máscara descartável tripla. Antes da pandemia, o custo unitário era de R$ 0,09. Já em 2020, no auge da pandemia ela estava sendo comercializada por R$ 3,00, ou seja, uma variação de 3.233,33%. Os preços das máscaras caíram, mas ainda são 46,44% maiores que antes da pandemia.
O anestésico Propofol (10 mg/ml ampola de 20 ml) é outro exemplo de aumento estratosférico de preço. Em 2019 seu custo era de R$ 5,50; em 2021 o custo passou para R$ 34,56, um aumento de 528,36%. O preço deste anestésico baixou e agora é R$ 13,15, mas ainda é 139,09% a mais do que antes da pandemia.
“Temos medicamentos e insumos que seus preços hoje são praticamente os mesmos de 2020 quando começou a pandemia. Mas neste meio tempo tiveram elevados aumentos provocando o início do processo do desiquilíbrio financeiro”, explica Cripa.
A exagerada elevação nos preços de insumos e medicamentos, o aumento do período médio de internamento e a redução na oferta de leitos hospitalares – estes dois últimos itens por conta da pandemia -, gerou uma situação, no mínimo curiosa: as despesas do hospital aumentaram consideravelmente e houve uma redução de internações.
Em 2019 as despesas do hospital chegaram a R$ 50.368 milhões. Naquele ano, foram registradas 14.085 internações, perfazendo um custo médio por pacientes de R$ 3.576. Ano passado as despesas subiram mais de 28%, passando para 64,757 milhões, mas o número de internações caiu 22%. O custo por paciente subiu para R$ 5.909, ou seja, variação de 65,26%.
“Tivemos que deixar leitos disponíveis para os pacientes de Covid-19. Por isso houve redução de internamentos. Além disso, foram suspensas as cirurgias eletivas, inclusive as particulares e de convênios, o que ajudou a abalar a situação financeira do hospital”, pondera Marcelo Cripa.
Doações – Além disso, em 2020, quando estourou a pandemia houve uma grande comoção social e várias empresas e pessoas físicas fizeram doações em dinheiro, insumos, equipamentos de segurança e alimentos, mitigando as despesas adicionais que a Santa Casa passou a ter com a nova realidade. Mas agora, as doações caíram drasticamente, agravando o período de pós-pandemia do hospital.
AJUDA EMERGENCIAL – Vivendo um momento que os administradores do hospital qualificam como “angustiante”, pois em alguns momentos têm que decidir qual fornecedor vai pagar e qual vai ter que esperar e com dificuldades até mesmo para quitar a folha de pagamento e os serviços médicos, a direção do hospitais filantrópicos deposita sua confiança numa ajuda emergencial do Governo Federal.
Esta ajuda foi definida ainda em 2020, através de lei aprovada e sancionada naquele ano, que previa o repasse de R$ 2 bilhões para as santas casas e outros hospitais filantrópicos, além de hospitais públicos. Parte deste recurso só foi liberada no final daquele ano. A Santa Casa de Paranavaí recebeu R$ 3,2 milhões. O restante deveria ser liberado no ano seguinte, mas isto não aconteceu, mesmo o governo tendo anunciado que o dinheiro já estava reservado.
“Nossa esperança é que este recurso seja liberado este ano. A informação que temos é que o recurso continua reservado, mas até agora não recebemos nada. Se fosse liberado uma nova parcela com o mesmo valor de 2020, de R$ 3,2 milhões, amenizaria a situação atual. Tomara que este recurso não demore”, diz o gerente financeiro do hospital.