P: Fujii sensei, por favor, conte-nos como foi o início de sua prática no Judô?
- Comecei minha prática na modalidade em uma academia da minha cidade com 5 anos de idade, minha mãe me levou e gostei. Não sabia muito bem o que estava fazendo, mas minha mãe gostava e não me deixou parar, porém não demorou muito e me apaixonei. Comecei minha prática de Judô em Nagoya, na província de Aichi.
P: Fujii sensei, por favor pode descrever um pouco de sua trajetória como atleta da seleção japonesa júnior (Under 21) dos anos de 1997 a 2000 do Japão?
R: Com 10 anos fui para Tóquio competir, e lá treinei até os 18 anos. Neste período fui campeã nacional de Judô, no ensino fundamental e no ensino médio.
P: Fujii Sensei, por gentileza pode nos falar como foi sua estadia na Inglaterra, primeiro a frente da equipe de Judô da Universidade de Bath e depois da seleção inglesa, que conquistou duas medalhas na Olímpiada de Londres, 2012?
R: Quando terminei o curso de Educação Física, graduação e mestrado, pensei em estudar Inglês, foi quando surgiu a oportunidade de ensinar Judô na Inglaterra. Naquele país o Judô não é o esporte mais popular, não tem muita gente treinando. Nós praticávamos 2x na semana, e íamos, de carro, com uma van, treinar na França, porque o Judô francês sempre foi de excelência reconhecida.
P: Fujii Sensei, como eu penso, o convite para treinar a Seleção brasileira veio após a conquista das medalhas dos Jogos de Londres, por favor pode dizer um pouco mais sobre o convite?
R: Em Londres, a equipe feminina ganhou duas medalhas, em 2012, uma de prata e outra de bronze. Nesse período as equipes brasileira e inglesa sempre treinavam juntos, se preparando para as olimpíadas do Rio de Janeiro, 2016. Devido a essa boa relação, trocando orientações e experiências, veio o convite da equipe brasileira. Aleguei que naquele momento não poderia assumir, porque meu contrato com a seleção inglesa estava vigente. Ao terminar o contrato fui treinar a seleção brasileira em 2013, chegando em maio no Brasil. No começo trabalhei com todas as equipes e categorias. Em janeiro de 2016 orientei muitos treinos técnicos com a Sara Menezes, judoca que havia sido medalha de Ouro em Londres.
P: Fujii Sensei, por obséquio, como vivi no Japão durante alguns anos que treinei Judô na Universidade de Tsukuba, posso afirmar sobre a enorme diferença de idiossincrasia entre ambas culturas, também no judô. Como foi sua adaptação no judô ocidental?
R: Na verdade está adaptação começou na Inglaterra, lá não existia hierarquia – sempai e kohai, ou seja, veterano e calouro, nem mesmo a cultura japonesa era levada em conta. Em minha formação nipônica sempre procuro respeitar as pessoas e suas culturas, com o passar dos tempos fui me acostumando. No Brasil tudo foi diferente, eu gosto de pessoas, e por ser um país com um povo bem acolhedor, minha sensação foi de estar em família.
P: Fujii Sensei, por favor, comente como foi conquistar a medalha de bronze, para o Brasil, com o atleta Daniel Cargnin, nos Jogos Olímpicos de Tokyo, 2020?
R: O esforço foi dele, a família incentivou, mas sempre ajudei nos seus objetivos. Quando cheguei na seleção, ele era um atleta da base. Depois participamos no campeonato “Open” europeu, onde todos nossos atletas perderam. Convoquei uma reunião depois do campeonato e dei amparo psicológico aos atletas. Usei técnicas de motivação e entre elas afirmei que a olimpíada seria amanhã, por isso todos os que quisessem ganhar medalhas deveriam redobrar os esforços, para melhorar. Logo após nossa reunião o Daniel veio me dizer que não queria experiência, e sim a medalha, aí foi quando notei que ele era diferente dos outros atletas. Treinamos forte até os jogos e a medalha veio.
P: Fujii Sensei, infelizmente a senhora não dirige mais a nossa seleção. Por favor quais são os conselhos para o Judô Brasileiro?
R: No Judô moderno, atual, não é só planejamento, não é um planejamento isolado que conquista medalhas, mas o treinamento no Dojo – local de treinamento e no Shiay jo – local de competição. Essas experiências são as partes mais importantes. Em 2016 tínhamos bastante apoio, bastante dinheiro, mas foi esquecido a parte principal, o
treinamento prático. Não é somente a parte física que ganha medalha, o principal é treinar Judô.
Esta quebra de paradigma em uma modalidade predominantemente masculina, foi um marco para o Esporte brasileiro e mundial. Oxalá tenhamos outras mulheres empoderadas assumindo seleções olímpicas, equipes de futebol, e esportes os quais são verdadeiros feudos de homens, porque a expertise não é condicionada ao gênero e sim a qualificação das pessoas. Fujii Sensei demonstrou isso com muita galhardia, sendo a responsável direta e indiretamente por três medalhas olímpicas em um desporto que ainda é considerado por muitos como arte marcial e arte guerreira de samurais.
Agradecemos imensamente a Fujii sensei por haver nos dado seu precioso tempo, e a parabenizamos por haver sido a pioneira em dirigir a seleção masculina de Judô, quebrando preconceitos sobre o gênero, em um mundo predominante masculino. Inclusive a sucessora da Professora Fujii como técnica da seleção brasileira é a atleta Sara Menezes, campeã Olímpica em Londres, e que foi treinada pela Fujii Sensei. Efetivamente a Professora Fujii, além de quebrar paradigmas contribuiu muito para tornar o Judô brasileiro ainda mais eficiente e vencedor.
Parabéns pelo êxito e auguramos muita sorte em sua vida pessoal e professional.