Língua portuguesa falada no Brasil tem nuances que permitem brincar sem medidas, fazer trocadilhos, criar novos vocábulos… Tudo isso pode ajudar na hora de empreender
REINALDO SILVA
Da Redação
Ah, a língua portuguesa, mãe da criatividade. É possível brincar sem medidas, fazer trocadilhos, criar novos vocábulos, emprestar termos de outros idiomas.
Veja o que diz o professor de português Gustavo Peres:
“Percebemos como o nosso país consegue ser plural devido às múltiplas culturas que nós recebemos, que nós acolhemos, e isso vai interferir positivamente na forma como utilizamos a língua. A gente se adapta muito facilmente às circunstâncias.”

Foto: Gustavo Romano
Trocando em miúdos, dá para afirmar, sem medo de errar, que a imaginação do brasileiro vai longe. No mundo do empreendedorismo, lançar mão da originalidade e da diversão pode se tornar uma estratégia de sucesso. Tem gente que acerta na mosca.
Em Paranavaí, os nomes de algumas empresas chamam a atenção – e só para que fique claro, este texto não tem qualquer cunho publicitário; digamos que se trata de uma ode aos engenhosos autores.
Para deixar o carro limpinho, tinindo, no jeito, uma opção é o lava a jato “Ensabuadão”. Se está procurando roupas e acessórios usados, tem o “Brechópping – Era seu agora é meu”. Quando o animalzinho de estimação adoece, a “Arca de Noé” salva. O cano de casa quebrou? “Kicano”.
Vale tudo para ganhar os clientes e fazer com que a marca conquiste espaço no mercado.



“Quando nós pensamos que o nosso idioma é muito amplo em empréstimos linguísticos, entendemos como brincar com as palavras funciona, principalmente para o marketing, por exemplo, para a criação do nome de uma empresa. Então, acho que isso é o mais mágico”, acrescenta o professor Gustavo Peres.
A empresária Creuza Moura conta como surgiu a ideia de Kicano. Além da referência ao sistema de encanamento hidráulico, o nome permite uma variação da palavra quicando, com a supressão da letra “d”, muito comum na comunicação informal.
“Quando a gente pensou numa loja de hidráulica, apareceram vários nomes. Só que o Kikano ficou lá em cima, porque falava, ‘quebrou o cano?’, ‘quebrou que cano?’. Então voltamos ao Kicano. Sempre que a gente brincava, voltava ao Kicano. E a ideia seria uma brincadeira mesmo, para a pessoa ouvir o nome e fixar. Vai ‘quicano’, vai ‘quicano’, que você chega na Kicano. Foi isso. Uma brincadeira.”
De acordo com Gustavo Peres, o coloquialismo permite a aplicação de expressões orais aglutinadas, que usam e abusam do duplo sentido. “O brasileiro tem muito disto, do humor ácido, do humor que proporciona dualidade nas palavras.”
Pegou a visão? Então segue o baile.
No âmbito técnico, propriamente empresarial, o gestor do Sebrae Paraná em Paranavaí, Silvio Tupina Junior, dá a letra.
“A marca tem que estar vinculada ao produto, ou à metodologia, ou ao histórico. Qual que é a missão da empresa? Qual que é a visão? Não faz sentido a empresa ter um produto que não remeta à marca.”
Se o empresário quer “entregar tudo” sem “flopar”, precisa primeiro definir a mensagem a ser apresentada ao cliente. “Qual é a primeira imagem que quer que ele tenha da sua empresa ou do seu produto? Isso vale um ponto de atenção, porque faz total diferença”, reitera o gestor do Sebrae/PR. Afinal, complementa, “a primeira coisa que vem em mente é o nome, a marca. Então, qual é a comunicação visual que vou usar para atingir o público?”.

Foto: Arquivo DN
Nomes criativos transformam empreendimentos em experiências, causam impacto, chegam chegando. E para resguardar a integridade de ideias inovadoras, a dica de Silvio Tupina Junior é formalizar a empresa e fazer o registro da marca “para não ter, eventualmente, lá no futuro, problemas com outras marcas próximas”. A orientação também vale para produtos e serviços.
“Da hora” mesmo é deixar a criatividade correr solta. E se pintar o estrangeirismo, use com moderação, como sugere o professor Gustavo Peres. “Manter a originalidade da nossa língua, do nosso idioma, é palavra de ordem, é fundamental para que a gente mantenha o nosso tradicionalismo, a nossa cultura. É a ideia do Brasil com ‘s’. O nosso Brasil é com ‘s’. Isso não vai mudar. Isso faz parte de quem a gente é e da nossa essência.”