PAULO EDUARDO DIAS
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A instabilidade energética criada pela escassez de chuvas, que afeta diretamente as hidrelétricas, principal fonte energética no país, além das recentes altas na conta de luz, tem ajudado a crescer a busca pela instalação de energia solar.
O aumento na quantidade de imóveis inseridos ao sistema por radiação solar pode ser notado em números da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica). Entre 1° de janeiro e 5 de novembro do ano passado foram realizadas 125.880 conexões em residências pelo país, enquanto em igual período deste ano, o montante saltou para 205.225 novas instalações, um crescimento de 63%.
Atualmente, ainda de acordo com dados da agência, existem mais 494 mil consumidores da modalidade pelo país.
Antes considerada como uma ferramenta para reduzir custos em grandes estabelecimentos comerciais ou construções maiores, a energia solar passou a ser instalada em imóveis residenciais e o kit pode ser comprado em lojas e magazines comuns, com preços que variam entre R$ 1.000 e R$ 15 mil, dependendo do modelo.
Responsável pelo departamento de expansão da Kinsol, uma das empresas que atuam no mercado, Ronaldo Vieira diz ter registrado um aumento de 70% nas procura, de acordo com ele, “por causa do aumento nas tarifas provocado pela crise hídrica”.
Vieira afirma que os equipamentos são de longa durabilidade e com garantia de eficiência energética por 25 anos. “Energia elétrica sustentável, obtida por meio de um recurso natural infinito, que é o sol. Equipamentos de longa durabilidade. Após a instalação, o cliente fica imune aos reajustes das concessionárias”
O especialista em energia solar Roberto Valer, que possui doutorado em energia pela USP (Universidade de São Paulo), afirmou que o produto é uma solução importante para diversificar a matriz energética e dar mais segurança ao setor.
“É uma energia modular, com flexibilidade para se instalar tanto um sistema pequeno na casa de uma família de baixa renda quanto em uma grande indústria”, afirmou.
O especialista afirma ainda que tem visto cada vez mais interessados em verificar a viabilidade de instalação em imóveis residenciais e comerciais.
O engenheiro elétrico Júlio Gonzalez, 55 anos, que mora com a mulher e dois filhos em uma casa em Cidade Ademar (zona sul da capital paulista), instalou recentemente o equipamento em sua residência e espera ter uma redução de até 95% na conta de luz, que girava entre R$ 500 e R$ 600.
Gonzales afirmou ter investido R$ 23 mil em todo processo de instalação e faz as contas para recuperar a grana. “Esse dinheiro parado na caderneta de poupança me daria R$ 70 mensalmente. Numa renda fixa, no máximo de R$ 120 a R$ 150. Por isso, os R$ 23 mil estão rendendo R$ 500 por mês, quando deixo de pagar 90% ou 95% da minha conta de luz.”
O empresário Bruno Gatti, 41 já comemora a redução de valores na casa de seus pais, em Indaiatuba (99 km de SP). “Fizemos a instalação no fim de maio. A conta ficava entre R$ 280 e R$ 320. Agora, as últimas três foram de R$ 50, R$ 60 e R$ 75 [respectivamente]”, afirmou.
De acordo com Gatti, a conta só não ficou abaixo dos R$ 50 em virtude de bandeiras tarifárias que aumentaram a energia elétrica. “Com essa economia de R$ 200 mensais, o sistema vai se pagar em 70 meses, porque o investimento ficou em R$ 14 mil”, estimou.
Diante do sucesso na casa dos pais, segundo ele, uma vizinha também se interessou pela energia solar, e já pensa em adquirir um produto semelhante. “Ela ficou interessada depois que viu a instalação dos meus pais e viu a economia na conta de energia”, afirmou o empresário.
EMPRESAS SE ADEQUAM
Enquanto os interessados em adquirir os produtos correm para achar o melhor custo-benefício, as empresas correm para se adequar aos pedidos. “Notamos um aumento na procura desde o início da pandemia, mas com mais força neste ano”, disse o sócio da Neosolar, Pedro Pintão.
“Acreditamos que os principais fatores para esse crescimento acelerado seja o aumento no preço de energia, risco de apagão e procura das famílias por uma fonte sustentável e mais econômica. Diversos fatores tornam a energia solar uma solução muito vantajosa”, afirmou.
De acordo com o comerciante, a instalação para uma família com quatro pessoas, que consome, em média, 400 kWh por mês, são usados seis painéis de 550 Wp. O sistema custa, aproximadamente, R$ 16 mil. Já uma família com as mesmas quatro pessoas, mas com um alto consumo, na casa de 1500 kWh, são necessários 23 painéis de 550 Wp, sob um custo de R$ 57 mil. Ambos os valores já com a instalação das placas no telhado.
Para dia nublados ou de chuva, ele explica que, nos casos dos sistemas que não utilizam bateria de armazenamento, a energia solar se junta à da rede elétrica, garantido que haverá fornecimento 24 horas por dia, de uma fonte ou de outra. O mesmo funcionamento se dá durante à noite.
Já quando há excesso de energia solar produzida pelo sistema durante o dia (mais do que a residência necessita), esse excedente é jogado na rede elétrica e pode ser consumido pela vizinhança, por exemplo.
Ainda há opção de um sistema que pode contar com uma ou mais baterias, que são capazes de armazenar energia solar para utilização em momentos sem sol.
Pedro Pintão ainda explicou que a manutenção de um sistema de energia solar geralmente é simples e barata, sendo basicamente a limpeza das placas solares com água. “Pode-se utilizar uma esponja macia, mas com a preocupação de não causar riscos e diminuir a eficiência do painel”.
De acordo com o especialista, a frequência de limpeza depende do nível de sujidade e quantidade de chuvas. “Geralmente recomenda-se que seja feita a cada três ou quatro meses, mas isso pode variar. Como a chuva ajuda na limpeza das placas, a necessidade é menor quando há chuvas frequentes”.
O comerciante ainda detalhou que, como prevenção, é importante verificar as conexões elétricas, aperto de parafuso, como em qualquer instalação, a fim de antecipar e mitigar problemas.
Por se tratar de uma instalação elétrica, o especialista em energia solar Roberto Valer alerta que é preciso um projeto feito por um engenheiro e instalado por uma equipe qualificada. “Dá para comprar o sistema fotovoltaico em lojas comuns, mas as pessoas têm que se atentar à qualidade das instalações”, disse.
A instalação de energia por radiação solar ainda requer aviso para empresa fornecedora de energia elétrica de sua região, com a finalidade de homologar o serviço.
A Enel, responsável pela distribuição de energia em São Paulo, afirmou que o pedido de homologação pode ser feito pela internet e também pode-se obter informações pelo email captacao.sp@enel.com. Um parecer, segundo a empresa, é emitido em até 60 dias.
Os documentos necessários também estão disponíveis na internet.
Como funciona a energia solar
Painel solar instalado no telhado converte a luz do sol em energia elétrica (corrente contínua)
Equipamento inversor converte a corrente contínua em corrente alternada, o que possibilita o funcionamento de eletrodomésticos, por exemplo
Mesmo em dias sem sol, a energia é consumida normalmente, já que a compensação é realizada pela energia convencional
Se a geração de energia solar for maior que o consumo da casa, a energia extra vai para a rede da distribuidora e gera um crédito de energia, que será utilizado automaticamente
Fonte: Engenheiro elétrico Júlio Gonzalez