A manhã começa com o barulho da reforma interminável na vizinhança, com direito a furadeira e marteladas. No caminho para o trabalho, as buzinas e os escapamentos das motocicletas atrapalham a música ou as notícias. Assim, os níveis de estresse dos moradores das grandes cidades aumentam consideravelmente, podendo causar, até mesmo, problemas cardiovasculares. O alerta é do Departamento de Cardiologia do Hospital São Vicente, em Curitiba.
O cardiologista Daniel Tosoni, parte do corpo clínico da instituição, avisa que a poluição sonora aumenta o risco de mortalidade cardiovascular. “Um mau planejamento urbano, que resulta no aumento dos barulhos, pode acabar desenvolvendo no indivíduo doenças como infarto, hipertensão arterial, insuficiência cardíaca e AVC”, completa.
Já existem alguns estudos para comprovar a relação. O mais recente, publicado pela Revista Circulation Research, da American Heart Association, trata da exposição prolongada a ruídos provenientes de carros, ônibus e aviões, principalmente. De acordo com os autores, para cada 10 decibéis (unidade de medida das ondas sonoras), o risco de desenvolver essas enfermidades aumenta em 3,2%.
Ruídos mais silenciosos também são prejudiciais, de acordo com uma pesquisa da Universidade de Harvard, que acompanhou mais de 100 mil voluntárias pelo período de 30 anos. Ao final do monitoramento, os pesquisadores verificaram que, a cada aumento de 3,67 decibéis, houve alta de 4% no risco de doenças cardiovasculares.
LEI DO SILÊNCIO AJUDA, MAS NÃO É SUFICIENTE
Diversas cidades do Brasil contam com legislação referente a limites de ruído, de acordo com áreas específicas. Em Curitiba, por exemplo, a chamada Lei do Silêncio (10.625/2002) regula os níveis de ruído e horários permitidos. Descumprimentos são punidos com multas e outras sanções, como o fechamento de estabelecimentos que façam uso de caixas de som sem o devido isolamento, por exemplo.
A noite, lembra Tosoni, é crucial para a saúde do coração, porque é quando o corpo pode e precisa descansar. Quando o barulho ocorre no período noturno e leva a interrupções frequentes no sono, pode ocasionar o aumento de estresse, ansiedade e insônia. “O sistema cardiovascular precisa de repouso para diminuir a pressão e a frequência cardíaca”, conta. “Por isso, medidas mais tecnológicas que garantam mais silêncio e multas mais rigorosas são essenciais! Mas, a curto prazo, podemos nos ajudar garantindo que o nosso ambiente seja o mais silencioso possível, com janelas e cortinas antirruídos, ou incluindo na rotina o uso de tampões de ouvido”, complementa.
É POSSÍVEL PREVENIR?
Se fugir da grande cidade para uma praia paradisíaca ou para o campo é impossível, há maneiras de amenizar os efeitos da poluição sonora no organismo. Uma saída, destaca o cardiologista, é buscar por períodos de férias ou descanso em locais como estes ou, ainda, buscar fazer atividades físicas que liberam endorfina e ajudam a relaxar. No entanto, é ainda mais importante manter os exames cardiológicos e o check-up de saúde em dia, como o teste ergométrico (de esforço), o ultrassom cardíaco e o doppler de carótidas.