REINALDO SILVA – reinaldo@diariodonoroeste.com.br
O Noroeste do Paraná reúne aproximadamente 80 indústrias de transformação de mandioca, entre farinheiras e fecularias. Todas têm enfrentado o mesmo problema: picos e quedas de energia frequentes comprometem a produção e causam prejuízos.
“Já houve muitas promessas, mas ainda não tivemos resultados”, lamenta o presidente do Sindicato das Indústrias de Mandioca do Paraná (Simp), João Eduardo Pasquini. Pela importância da região para toda a cadeia produtiva e pela relevância econômica do setor, a situação já deveria ter sido resolvida.
Pasquini explica: quando o funcionamento de uma máquina é interrompido por picos de energia, os produtos que estão nos fornos ou nos secadores queimam e se tornam impróprios para o consumo humano.
A retomada dos trabalhos pode levar de 40 minutos a uma hora, tempo necessário para a limpeza dos equipamentos e a retomada da produção. De acordo com Kleber Hudson Canassa, a paralisação pode reduzir a produção de 200 toneladas de fécula de mandioca por dia para 150 toneladas.
Um exemplo prático: em eventual avaria, a troca de um inversor de frequência pode custar R$ 150 mil para a indústria. O dispositivo é utilizado para controlar a potência consumida pela carga por meio da variação de frequência entregue pela rede.
Além de responder por uma fecularia em Querência do Norte, Canassa é presidente da Associação dos Produtores de Arroz Irrigado do Paraná (Apai-PR). O setor também é prejudicado pelas oscilações no fornecimento de energia elétrica. A manutenção de uma bomba de irrigação queimada pode levar até quatros dias, “com importantes perdas de produtividade”.
As reclamações se acumulam na mesma medida dos prejuízos. Canassa estima que as perdas superem a marca de R$ 1 milhão por mês, considerando somente as indústrias de transformação de mandioca da região.
Sociedade civil – Mas há outros setores na mesma situação. O presidente da Sociedade Civil Organizada do Paraná (Socipar), Demerval Silvestre, fala da produção leiteira e das granjas de frango. Também cita a repercussão sobre o setor turístico: “Se você pegar Porto Rico e o Porto São José [no município de São Pedro do Paraná], os investidores estão preocupados”.
A Socipar tenta uma audiência com o presidente da Copel, Daniel Slaviero. A intenção é reunir empresários da Região Noroeste e apresentar números que comprovem a dimensão dos danos causados pela oscilação de energia elétrica.
“Queremos buscar alternativas. Sabemos que faltam investimentos nas redes de transmissão. Se algo vai ser feito, então quando? Isso é urgente”, diz Silvestre.
Ratinho Junior – Em recente visita ao Noroeste do Paraná, o governador Carlos Massa Ratinho Junior participou da entrega de unidades habitacionais para moradores de Loanda e Marilena. Na ocasião, falou ao Diário do Noroeste sobre o problema de fornecimento de energia na região.
“O governo tem ciência. Inclusive, tive uma reunião com a Copel e os diretores que cuidam da parte de expansão da Copel. Vamos, em março, anunciar investimento que passa de R$ 2 bilhões, maior investimento da história da Copel.”
Ratinho Junior calcula que de 2014 para cá, a companhia tenha investido a média de R$ 400 milhões por ano em melhorias no sistema de energia. Com o valor previsto para 2024, será possível ampliar as subestações da Copel e aprimorar toda a rede. “Além disso, teremos um reforço adicional aqui na região.”
O governador afirma que, em especial da região de Porto Rico, o crescimento urbano advindo de investimentos na estrutura turística sobrecarregou a rede de energia. “Há necessidade de haver novo planejamento. Com esse investimento de R$ 2 bilhões, a ideia é que isso seja estancado e pare de ter esse tipo de pico.”
Copel – A Copel informou que se manifestará sobre o tema e adiantou por meio da assessoria de imprensa:
“A Copel preza pela qualidade dos serviços e tem realizado investimentos expressivos no sistema elétrico em toda a Região Noroeste, inclusive nas localidades citadas pela reportagem. A empresa segue empreendendo ações a fim de reduzir a ocorrência de falta de luz em toda a região, que tem investimentos de R$ 199 milhões previstos para 2024.”
*Matéria atualizada em 3 de fevereiro de 2024, às 13h49.*
Queima de inversor provavelmente não tem nenhuma relação exclusiva com o tal alegado “pico de energia” proveniente da rede. Falta investimento nas instalações internas das indústrias, principalmente em medidas de proteção contra surto elétrico. Em todo atendimento industrial que realizo nunca identifiquei aqui na região nenhuma indústria que tenha investido na proteção contra surto. É um tema aparentemente desconhecido, onde poucos engenheiros têm o conhecimento técnico para tal, porém o investimento garante o aumento da vida útil dos eletrônicos, evitando a queima precoce.