Por Gregório José
A crescente legião de profissionais “overeducated” (supereducados) no Brasil revela não apenas uma desconexão alarmante entre o sistema educacional e as demandas do mercado de trabalho, mas também um flagrante desperdício de talentos. A falta de oportunidades condizentes com a formação acadêmica desses indivíduos não apenas frustra as expectativas dos graduados, mas também representa um prejuízo significativo para a sociedade como um todo.
O termo “overeducated” é um paradoxo doloroso: indivíduos altamente instruídos, investindo tempo, recursos e esforços em formações, para se encontrar subutilizados em posições que exigem qualificações muito inferiores às que possuem.
Levantamento inédito revelou uma realidade preocupante para recém-formados em cursos de graduação no Brasil, como Direito, Enfermagem e Administração. A pesquisa, conduzida pela Geofusion, empresa especializada em geomarketing e inteligência geográfica de mercado, apontou que apenas 10% dos graduados conseguem obter um cargo compatível com o nível de instrução na CLT.
Os números são reveladores e variam consideravelmente de acordo com a área de formação. Apenas 9% dos graduados em Direito atuam em cargos de nível superior. No caso de Enfermagem e Administração, 7% e 3% dos graduados, respectivamente, atuam em suas áreas. Já a Medicina apresenta 100% dos recém-formados atuando na área.
O investimento público e privado em educação superior é subaproveitado, resultando em má alocação de recursos. Instituições de ensino superior, muitas vezes vistas como pilares para o desenvolvimento da nação, falham em proporcionar aos graduados um caminho claro e eficaz para o mercado de trabalho.
A falta de oportunidades adequadas aos “supereducados” contribui para a desmotivação e a desvalorização profissional. Os anos dedicados ao aprimoramento acadêmico, em vez de serem uma garantia de ascensão profissional, se transformam em frustração e desencanto. Isso não apenas prejudica o bem-estar individual, mas também mina o potencial de inovação e contribuição para o desenvolvimento da sociedade.
A persistência desse cenário também levanta questões sobre a dinâmica do mercado de trabalho e as barreiras que impedem a absorção eficiente de talentos qualificados. A rigidez nas estruturas organizacionais, a falta de reconhecimento das competências adquiridas durante a formação e a resistência às mudanças são obstáculos que precisam ser enfrentados. A análise considerou quase 100 mil egressos de 2018, último período disponível nas bases de dados federais utilizadas, e combinou informações dos Ministérios da Educação e Trabalho.
A sociedade perde quando indivíduos altamente educados não conseguem aplicar seus conhecimentos e suas habilidades. Urgem ações concretas e políticas públicas que promovam uma integração educacional e o mercado de trabalho. Enquanto esse desafio persistir, continuaremos a desperdiçar o potencial de uma geração de profissionais talentosos e comprometidos.
Gregório José é jornalista, radialista, filósofo, pós-graduado em Gestão Escolar, Ciências Políticas e Mediação e Conciliação, com MBA em Gestão Pública