RIBEIRÃO PRETO, SP (FOLHAPRESS)
O estoque brasileiro de suco de laranja atingiu em 2023 o segundo menor volume dos últimos 13 anos, cenário que ocorre num momento em que a oferta global está escassa.
As indústrias brasileiras tinham, em 31 de dezembro do ano passado, 463.940 toneladas de suco estocadas, total ligeiramente superior às 434.943 toneladas do ano anterior, mas insuficiente para acalmar um mercado que tem sentido os efeitos dos problemas climáticos e de pragas em seus pomares de laranja.
Os dados foram divulgados nesta quinta-feira (7) pela CitrusBR (Associação Nacional dos Exportadores de Sucos Cítricos), que reúne as gigantes exportadoras de suco do país, após levantamento feito por auditorias independentes junto às empresas e consolidado por uma auditoria externa.
O aumento no estoque, de 6,7%, é visto quase que como um “empate técnico” com o saldo anterior para o setor, por equivaler praticamente a apenas um navio carregado da fruta.
“É um estoque que não muda o cenário já existente”, disse o diretor-executivo da CitrusBR, Ibiapaba Netto.
Recém indicado para ocupar a presidência da câmara setorial da citricultura no Ministério da Agricultura, o executivo afirmou que a restrição de oferta continua impactando o setor e que a expectativa dos citricultores é com a estimativa da próxima safra a ser apresentada pelo Fundecitrus (Fundo de Defesa da Citricultura) em maio.
A atual safra no cinturão citrícola, formado pelo interior de São Paulo e pelo Triângulo/Sudoeste Mineiro, foi reestimada há três meses com 2,12 milhões de caixas a menos.
Variedades de laranja como pera rio e valência não estavam atingindo os tamanhos esperados pelo fato de chover menos que a média histórica nas áreas produtoras.
Isso fez com que a safra 2023/24, reestimada, ficasse em 307,22 milhões de caixas de 40,8 quilos cada, inferior à safra 2022/23, estimada em 316,95 milhões de caixas.
Um outro problema para o setor é o greening, principal praga da laranja e que já atinge quase quatro em cada dez plantas em São Paulo. O psilídeo transmissor das bactérias do greening o inseto Diaphorina citri, que mede de 2 mm a 3 mm tem apresentado resistência a alguns grupos de inseticidas utilizados no dia a dia da citricultura.
Durante todo o ano passado, a produção do parque citrícola brasileiro foi alvo de preocupações em outros países.
Como o Brasil responde por cerca de 75% do comércio internacional de suco de laranja no mundo, qualquer abalo registrado internamente provoca reflexos em outros países.
Mas, além das questões brasileiras, outros países produtores também têm sofrido. Nos Estados Unidos, os reflexos do furacão Ian reduziram drasticamente a safra da Flórida, que também sofre com o greening. México e Espanha também tiveram problemas com estiagem e falta dágua, respectivamente.
A francesa Unijus (associação dos fabricantes de sucos de frutas) relatou como inédita a escassez de concentrados de laranja “observada no mercado mundial” e citou que a pressão aumentou sobre o Brasil.
Por isso, uma próxima safra ainda menor, caso ocorra, será vista por citricultores ouvidos pela Folha como um agravamento de uma crise de oferta que já se arrasta há pelo menos quatro safras.
“Houve uma série de problemas no campo que variaram de secas extremas a períodos de calor intenso que prejudicaram a produção”, disse o diretor-executivo da CitrusBR.
Fonte: AEN