Dados revelam que o nível de estoques nos bancos de sangue no Brasil está mais baixo do que no período crítico da pandemia da Covid-19. A explicação para isso é que o número de doações subiu menos do que o de cirurgias eletivas que voltaram a ser realizadas. Para se ter uma ideia, o Hospital Universitário Cajuru, referência no atendimento SUS em Curitiba, realiza cerca de 147 mil atendimentos por ano – entre urgências, emergências, cirurgias e consultas laboratoriais. Para isso, utiliza cerca de 410 bolsas de sangue todos os meses no atendimento aos pacientes.
“No atendimento de emergência, muitas vezes não dá para saber o tipo sanguíneo do paciente e por isso procuramos ter sempre estoque de bolsas O-, que são do tipo universal. São momentos em que cada segundo faz a diferença. É muito comum pacientes graves precisarem de transfusão de sangue no internamento”, explica o coordenador médico do Pronto Socorro do hospital referência em trauma, José Fernando Rodriguez.
Planejamento de cirurgias eletivas – Além das cirurgias, os hemocomponentes também são habitualmente utilizados em tratamentos de hemofílicos, pessoas com câncer e transplantados. No caso das cirurgias eletivas, existe um planejamento cirúrgico feito com, no mínimo, uma semana de antecedência em que a equipe médica prevê todos os hemocomponentes e medicamentos que serão necessários para o procedimento.
A coordenadora de enfermagem do bloco cirúrgico do Hospital Marcelino Champagnat, Íris Andriani, explica que as cirurgias costumam ser pré-agendadas no hospital, que é referência em procedimentos de alta complexidade, e sendo assim, a equipe médica encaminha o planejamento cirúrgico com uma semana de antecedência. “Já temos uma previsão de medicamentos e hemocomponentes que vamos precisar antes do início de cada procedimento. Quando está prevista alguma transfusão, normalmente o paciente é internado pelo menos 6 horas antes da cirurgia, para dar tempo de verificarmos a tipagem e já providenciarmos as bolsas”, conta.
Em geral, o hospital utiliza uma média de 200 bolsas de sangue mensais, mas, algumas vezes, acaba precisando de mais, como aconteceu em outubro de 2020, na cirurgia inédita no Brasil que retirou 32 kg de um tumor nas pernas da jovem Karina Rodini, que sofre com neurofibromatose. “Nesse caso, já sabíamos que seria preciso mais de 30 bolsas de sangue uns 20 dias antes do procedimento e já começamos as solicitações para o Hemobanco”, complementa Íris.
Agência transfusional – Geralmente, os hospitais têm um banco de sangue que serve como referência, que realiza a gestão do estoque centralizado e baseado no consumo de hemocomponentes por cada instituição cliente. Existe um estoque central, além de estoques em todas as agências transfusionais dentro dos hospitais. São estabelecidos estoques mínimos de cada hemocomponente, com a finalidade de garantir a segurança do processo de atendimento aos pacientes.
Junho Vermelho – No mês de junho, tradicionalmente as doações de sangue diminuem – seja pelas férias escolares ou pelo frio e aumento de doenças respiratórias. Podem doar sangue pessoas com idade entre 16 e 69 anos (menores de idade precisam estar acompanhados de um responsável legal), bem alimentadas e bem de saúde, e pesando mais de 50 kg. Doenças respiratórias deixam o doador inapto enquanto doente. Outro ponto que precisa de atenção são as vacinas contra covid-19. Quem tomou Coronavac só pode doar sangue após 48 horas. Quem tomou Astrazeneca, Pfizer ou Janssen, somente após 7 dias.
Homens podem doar até quatro vezes ao ano com intervalo mínimo de dois meses e mulheres três vezes ao ano, com intervalo de três meses.