Durante encontro técnico, profissionais trocaram experiências, compartilharam conhecimentos e conheceram diferentes possibilidades para a cultura da laranja
REINALDO SILVA
Da Redação
Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Nesta terça-feira (27), os três estados do Sul do Brasil consolidaram uma parceria importante para conter o avanço do greening, uma ameaça real e crescente para a citricultura. Em evento realizado em Paranavaí, profissionais técnicos compartilharam experiências e conversaram sobre a importância de coordenar as ações de combate à doença.

Foto: Guto Costa
O chefe da Divisão de Auditoria e Gestão Estratégica da Secretaria de Agricultura do Rio Grande do Sul, Alonso Duarte de Andrade, confirmou o objetivo: “Fazer um trabalho unificado de defesa agropecuária. É um conjunto, são várias engrenagens para funcionar. A gente quer trazer o que tem de bom no Rio Grande do Sul e aprender tanto com Santa Catarina quanto com o Paraná o que têm feito, quais as experiências positivas e os gargalos encontrados”.

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A gestora da Divisão de Defesa Sanitária Vegetal da Companhia Integrada de Desenvolvimento Agrícola de Santa Catarina (Cidasc), Fabiana Alexandre Branco, avaliou: “Essa troca de conhecimento enriquece as agências com o objetivo único que é expandir a defesa sanitária. Isso é muito importante”.

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Os grupos catarinense e gaúcho permanecem na Região Noroeste nesta quarta-feira (28), quando se reunirão com o prefeito de Paranavaí, Mauricio Gehlen, e o secretário municipal de Agricultura, Tarcísio Barbosa. Tratarão sobre as medidas adotadas pelo poder público para erradicar árvores contaminadas em propriedades não comerciais e, assim, garantir efetividade no controle do greening.
Produção – O Paraná é o terceiro maior produtor de laranja do Brasil, atrás apenas de São Paulo e Minas Gerais. Em 2024, os citricultores paranaenses colheram 860 mil toneladas da fruta. 40% da produção se concentra na Região Noroeste, de forma mais expressiva em Paranavaí. De acordo com a prefeitura, a cadeia citrícola responde por 30% do Produto Interno Bruto (PIB) do município.
Dada a importância da cadeia produtiva de laranja, a chefe da Sanidade da Citricultura da Agência de Defesa Agropecuária do Paraná (Adapar), Caroline Garbuio, classificou o greening como “uma grande preocupação”. “A doença está avançando, a gente está tendo perdas.” A Adapar estima que 30% dos pomares comerciais da região tenham sido contaminados.
O Sudoeste do Paraná enfrenta esse mesmo problema. Por isso, as práticas bem-sucedidas de erradicação de árvores cítricas no Noroeste deverão ser aplicadas também naquela região. A operação BIG Citros é um exemplo. As três primeiras letras escolhidas para o nome da ação, coordenada pela Adapar, apontam o objetivo de baixar a incidência de greening (BIG), o que tem se mostrado possível graças à atuação conjunta do estado, dos municípios, da indústria e dos produtores.
Conforme lembrou a chefe da Sanidade da Citricultura da Adapar, o avanço do greening se tornou evidente em meados de 2022. De lá para cá, considerando todos os instrumentos de combate à doença, foi possível perceber a redução de aproximadamente 30% na incidência de contaminação das árvores, resultado que aponta “uma luz no fim do túnel”.
Diretor da empresa Agro Pratinha, Elton de Souza Pratinha disse que é muito difícil pensar em um cenário em que o greening seja totalmente eliminado, pelo menos em curto ou médio prazo. Enquanto isso não se torna possível, é preciso manter margens mínimas de árvores contaminadas, abaixo de 6%.

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Ele citou o caso de São Paulo, que em 2024 produziu 13,6 milhões de toneladas de laranja. Em algumas regiões, as plantas doentes representam 70%, 80% dos pomares, “um nível muito alto”. Na média, o índice de contaminação no estado é de 40%.
Segundo Pratinha, a produção paranaense deve chegar ao equivalente a 16 milhões de caixas de laranja em 2025. “É um bom número, mas dá para crescer mais. Se o Paraná voltar a plantar um pouquinho mais forte, a gente consegue produzir 22 milhões de caixas tranquilamente.”
A título de comparação, os Estados Unidos da América chegaram a produzir 250 milhões a 280 milhões de caixas de laranja. A contaminação dos pomares por greening resultou em uma drástica redução, e atualmente são apenas 15 milhões de caixas. “Foi o maior produtor mundial, hoje não tem mais produtividade significativa”, disse a engenheira agrônoma Marlene Fátima Calzavara.
Atuação conjunta – A engenheira agrônoma destacou a urgência de envolver todas as prefeituras da região no combate ao greening, considerando a relevância econômica da cadeia produtiva citrícola. “O quanto significa em arrecadação de impostos e empregabilidade?”, questionou. “Outros municípios, como Guairaçá, Terra Rica, Alto Paraná, Nova Esperança, São João do Caiuá e Cruzeiro do Sul, estão iniciando o processo, porque sabem que essa cultura é importante para toda a região.”
Nesse sentido, acrescentou Marlene Fátima Calzavara, é fundamental expandir a atuação para além dos limites territoriais não só da Região Noroeste, mas também do Paraná. “Sozinho, ninguém consegue.” Estreitar laços com as autoridades sanitárias de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul pode se mostrar uma estratégia eficiente na busca por alcançar proteção dos pomares em todo o Sul do Brasil.

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Nos dois estados vizinhos, diferentemente do Paraná, as produções de laranja estão em pequenas propriedades e integram as atividades da agricultura familiar. Entre os polos de consumo estão as escolas públicas que recebem as frutas por meio de programas municipais e estaduais de incentivo.
Essa realidade põe Santa Catarina e o Rio Grande do Sul em estado de alerta. “A gente tem uma preocupação muito grande em relação à fitossanidade, em especial em relação ao HLB [sigla utilizada para designar o greening], porque, caso essa doença entre lá, a gente vai ter um problema não só econômico como social também”, concluiu o chefe da Divisão de Auditoria e Gestão Estratégica da Secretaria de Agricultura do Rio Grande do Sul, Alonso Duarte de Andrade.

Foto: Guto Costa