ADÃO RIBEIRO
Aposentado das urnas sim; da política nunca. Este pode ser um resumo das convicções do empresário Mauricio Yamakawa, 59 anos, prefeito de Paranavaí na gestão 2005/2008. Ele visitou a redação do Diário do Noroeste nesta semana e falou sobre diversos assuntos, incluindo embates eleitorais, o desenvolvimento de Paranavaí e região, além dos desafios a serem superados por quem pretende disputar as eleições do ano que vem.
Considerado um político habilidoso e famoso por seus discursos, Yamakawa reitera ser quase impossível que seu nome apareça novamente nas urnas eletrônicas para disputar votos. No entanto, adverte que as pessoas fazem política todo dia, seja na família, no trabalho ou na sociedade. Por isso, pretendente continuar militando e ajudando companheiros nos pleitos eleitorais.
Sobre as razões para deixar a batalha das urnas, lembra que se trata de um custo muito alto. No seu caso, comenta, deixou as empresas para se dedicar exclusivamente à causa pública.
Na vida de Yamakawa não há espaço para arrependimentos. Tanto que não vacila ao afirmar que valeu a pena toda a experiência política, apesar de alguns revezes inesperados. Ele disputou a Prefeitura por duas vezes após ter sido chefe do Poder Executivo. Nas duas não conseguiu se eleger, fazendo 6.690 votos na última vez, em 2016.
Sobre a gestão em curso, entende que se trata de um sucesso eleitoral, já que o prefeito Carlos Henrique Rossato Gomes (KIQ) foi reeleito com ampla margem. Ressalva que se trata de um tempo novo, novos discursos e com marketing muito eficaz. “Recebo qualquer eleição como o recado das urnas”, cita, complementando que talvez o seu discurso não se enquadre neste momento do eleitorado.
O legado – Na condição de prefeito de Paranavaí – gestão 2005/2008 – Mauricio Yamakawa considera que a educação é o seu grande legado. Cita a conquista do Instituto Federal (IFPR), além da Universidade Aberta do Brasil (UAB), uma instituição privada de grande projeção (Unifatecie) e expansão e apoio para duas então existentes (Unespar pública e Unipar privada).
“A ideia foi tornar Paranavaí uma cidade universitária”, reforça, apontando que a educação de base teve igual apoio no seu governo, o que valeu a conquista do prêmio Prefeito Amigo da Criança.
Na gestão Yamakawa, Paranavaí celebrou a parceria com a cidade de Toyohashi – Japão. Na época, a cidade recebeu o prefeito da cidade japonesa e seu secretário de educação. No mandato também houve a visita do cônsul do Japão no Brasil, algo inédito para os paranavaienses. A cidade ganhou um posto de saúde (Chácaras Jaraguá), edificado com recursos vindos do Japão.
Maurício aproveita para lamentar que não houve o esperado apoio do seu sucessor para as instituições de ensino recém-conquistadas, especialmente para o IFPR, cujo o compromisso era ajudar na divulgação e na consolidação regional. “Ele cresceu por méritos, mas poderia ser muito maior com o apoio institucional”, avalia.
Experiências – Sobre as derrotas políticas, Yamakawa concorda que pode ter havido erros estratégicos. No entanto, avalia que manteve suas convicções e lealdade aos companheiros. Instigado, ele critica que na época teria havido perseguição de grupos rivais na política, trabalhando contra a liberação de recursos, o que comprometeu em parte os resultados de sua gestão. “Não entendo que pessoas trabalhem contra a cidade”, resume, preferindo omitir nomes ou se estender nas críticas.
Na sua gestão, o mau estado de conservação da malha asfáltica pesou nos índices de aprovação. Ainda assim, entende que conseguiu bons resultados com parcerias feitas através do deputado federal Ricardo Barros e com o então ministro das Cidades, Márcio Fortes. A situação da malha asfáltica foi prejudicada ainda por duas grandes chuvas que destruíram quarteirões inteiros e provocaram situação de emergência, recorda. Na zona rural, as estradas foram praticamente todas destruídas e sete pontes acabaram afetadas total ou parcialmente.
Na visão do administrador, a construção do Centro Cívico está atrasada. Lembra que a ideia nasceu em sua gestão, portanto há mais de 12 anos, e que avançou até o fim do mandato. No entanto, passou durante as gestões seguintes por alterações e não saiu do papel. Agora a iniciativa ganha forma na região do Jardim Oásis. O ex-prefeito compara que Cianorte começou o projeto depois de Paranavaí e atualmente o Centro Cívico já está pronto e funcionando.
Eleições 2022 – Para as eleições do ano que vem, Yamakawa analisa que é preciso manter o entendimento político visando a apresentar candidaturas viáveis. No plano federal, vê que Tião Medeiros (atual deputado estadual e que pleiteará vaga na Câmara) tem buscado apoios e expandido sua área de atuação pelo Estado. Fala que se trata de um desafio, já que para ter sucesso na disputa por uma cadeira na Câmara Federal o candidato deverá ter cerca de 100 mil votos.
No plano estadual haverá um espaço a partir da mudança de Medeiros. Com isso, Paranavaí e região deverão buscar entendimento, apresentando candidaturas com potencial de votos. O ex-prefeito lembra que também é preciso atentar para o fato de que deputados estaduais e federais, mesmo sem domicílio eleitoral na área da Amunpar (Associação dos Municípios do Noroeste Paranaense), têm serviços prestados e não podem ser hostilizados. “É preciso muito diálogo”, reitera.
Yamakawa confirma que tem recebido contatos de outras lideranças tratando das questões eleitorais de 2022. O ex-prefeito defende um modelo de eleição distrital, de forma a garantir que as regiões estejam representadas nos parlamentos.
No Governo estadual ele tem ressalvas sobre a gestão, mas pensa que Ratinho Júnior deve ser reeleito para mais quatro anos no Palácio Iguaçu sem grandes dificuldades. “Este é o cenário atual”, avalia.
No ano que vem haverá também eleição para presidente. Eleitor de Jair Bolsonaro em 2018, Yamakawa aposta que ainda surja uma terceira via, portanto, para além do que considera polarização entre o atual presidente e o ex-chefe do Planalto, Luiz Inácio Lula da Silva.
Ao mesmo tempo, concorda que o tempo está ficando curto para a construção de uma nova ideia capaz de superar o debate entre os polos. Para ele, o Brasil precisa de entendimento e de posturas corretas, independentemente se de centro-esquerda ou de centro-direita. Ele se recorda que foi prefeito na gestão petista e que coisas boas aconteceram. Lamenta os graves problemas de corrupção que acabaram comprometendo o resultado final.
Futuro – Empreendedor, Yamakawa já liderou vários projetos na cidade, especialmente ligados ao agronegócio. Plantador de mandioca há mais de três décadas, ele também partiu para a indústria do setor. Atualmente é proprietário da empresa BeijuBom. O carro-chefe é a tapioca pronta, apenas para rechear e aquecer. Engenheiro agrônomo, Yamakawa desenvolveu o produto, devidamente patenteado na modalidade sem conservantes. Também trabalha no segmento de amidos.
Ele ressalta que o futuro apresenta grandes desafios para as novas gerações, sobretudo, no mercado de trabalho. Insiste que a educação é o caminho, focado em novas tecnologias. O mercado muda o tempo todo e, nesta perspectiva, as pessoas devem atentar para as tecnologias e como se atualizar profissionalmente, buscando independência.
Para os governantes, o desafio é fazer mais com menos dinheiro. É preciso rever a carga tributária, mas sem perder de vista a necessidade dos serviços públicos essenciais nas áreas da saúde, segurança, educação e a rede de proteção aos mais necessitados. Paranavaí também faz parte desse desafio e deve propor um planejamento estratégico, com metas claras a serem atingidas.