ADÃO RIBEIRO
“Zé do Povo”. Quem viveu a década de 1990 deve se lembrar dessa expressão. José Augusto Felippe, hoje com 67 anos, foi um jovem prefeito de Paranavaí na gestão 1993/1996, sucessor do tio Rubens Felippe, mandato 1989/1992. Muito popular, era conhecido como “Zé do Povo” e até hoje é chamado desta forma por eleitores, amigos e admiradores. Na última quinta-feira, José Augusto visitou a redação do Diário do Noroeste e falou sobre diversos temas. Um dos mais relevantes é que encerrou a carreira política, descarta ser candidato novamente. Para quem duvida, uma prova: não está filiado a partido político.
Não ser filiado e não pretender retomar a busca pelo voto não significam que esteja fora do exercício legítimo da cidadania. Tanto que ele não se nega a dar sua opinião sobre os temas envolvendo a vida pública. Antecipa que, se procurado por um jovem, vai sempre incentivar a participação política, pois entende que os bons devem ocupar o espaço na vida pública, sob pena de ver maus gestores no poder.
Para quem pensa em decepção, pode tirar o “cavalo da chuva”. José Augusto entende que cumpriu o seu papel. Engenheiro civil, foi secretário de Viação e Obas de Rubens Felippe. Na época não existia reeleição. Por isso, se candidatou para dar continuidade à gestão, pois quatro anos se mostravam insuficientes para a execução do projeto audacioso de mudar a cidade. Tanto que assumiu vários projetos em andamento e concluiu todos – pelo menos 12 obras. Entende ser o seu grande legado.
Conquistas – O ex-prefeito cita o caso do Distrito Industrial de Paranavaí (DIP). Rubens Felippe comprou a área e coube a ele os primeiros passos. No final da gestão, deixou 13 indústrias implantadas, incluindo um condomínio industrial com 12 microempresas, entre elas a Tooling, hoje uma grande empresa, gerando empregos e riquezas para o Brasil. “Esse foi um grande projeto, que representou continuidade da gestão e mudança para Paranavaí”, ressalta. Na mesma linha, Paranavaí trabalhou pela avicultura (abatedouro de aves) e citricultura.
José Augusto avalia que a educação foi outra marca importante. Em seu mandato veio para a cidade a Unipar, despertando a cidade para a cultura universitária. Também houve projeção para a Unespar (universidade pública), desencadeando um processo que culminou em outras conquistas. ”Sim, foi um divisor de águas”, concorda.
Na saúde, José Augusto entende que também deixou sua marca. Na sua gestão foi criado o Pronto Atendimento (PA). Até então, o serviço era prestado na Santa Casa, gerando confusão entre PA e Pronto Socorro. Por muitos anos a partir da sua decisão, o PA e a Secretaria de Saúde funcionaram no antigo Hospital Santa Margarida (Rua Getúlio Vargas).
No mandato foi assinado o compromisso do Hospital Regional, estrutura junto à Santa Casa. Entende que houve demora na conclusão, mas hoje a estrutura faz parte de uma unidade de saúde indispensável para o povo. O Hospital Regional foi concluído na gestão Mauricio Yamakawa. “A saúde é também uma grande alavanca no setor econômico. Depois disso, muitas especialidades vieram”, recorda-se. “Foi uma administração de oito anos. Rubens começou e eu dei andamento”, resume.
Economia – A implantação da citricultura e da avicultura foi divisor de águas. No entanto, o despertar para a cadeia produtiva da mandioca igualmente contribuiu, apresentando produtos de mais valor agregado no mercado (fécula etc.).
Para que haja um novo salto, José Augusto pensa ser importante fazer planejamento de longo prazo. Na sua visão, o órgão público é um incentivador da iniciativa privada. Para fazer frente, o município deve estar preparado.
Instigado, discorda da proposta de reversão do Parque de Exposições Artur da Costa e Silva para o município, como propõe o prefeito Carlos Henrique Rossato Homes (KIQ). Pensa que se a estrutura estiver pouco utilizada, que se chame a Sociedade Rural e outras entidades para debater, um estudo cuidadoso para encontrar o melhor caminho.
Engenheiro civil, José Augusto avalia que o poder público deva ser motivador do desenvolvimento. Porém, reforça, a iniciativa privada será o indutor do desenvolvimento, incluindo as áreas de ciência e tecnologia. Compara que o prefeito seja uma espécie de gerente e precisa estar atento. Os projetos são carimbados. É fundamental a iniciativa privada, reitera.
Conselho – Sobre a participação dos jovens na política, José Augusto antecipa que sempre vai incentivar. A política é o instrumento para desenvolver uma cidade. Mas, para se posicionar, é preciso saber o que vai fazer e estar preparado para o jogo da política. “Deve ter perfil e vontade de trabalhar”, diz. Concorda que a lida política pode resultar em perdas financeiras, pois exige dedicação exclusiva. Então, orienta que a política não dá ganhos financeiros.
Prefeitura – Sobre o atual prefeito, José Augusto opina que a cidade está bem cuidada. Mas, do ponto de vista das obras, afirma não ver grande projeção. No geral, entende que a administração tem um saldo positivo.
Quanto ao Governo Federal, vê que a infraestrutura está dando um salto, uma mudança grande. São ferrovias, construção de estradas, construção de aeroportos. Por isso, defende a continuidade.
No plano estadual, “vai pelo mesmo caminho”. O ex-prefeito não vislumbra uma candidatura competitiva contra o governador Ratinho Júnior, postulante à reeleição.
Social – A pandemia teve reflexo direito no desenvolvimento. O desemprego, por exemplo, é fruto, em parte, do novo coronavírus. Ainda assim, opina que falta um olhar mais generoso para as classes sociais mais vulneráveis. “O preço encontrado no supermercado é absurdo”, indigna-se, cobrando que a população tenha um salário para fazer frente ao novo cenário. “Não basta reajustar pela inflação”, adverte. Complementa que muitos empresários têm melhorado o ganho do trabalhador por conta própria.
Por fim, José Augusto fez um elogio ao Diário do Noroeste pela iniciativa de ouvir as pessoas da cidade. “Quero parabenizar. Essa empresa (DN) tem uma história e faz parte da nossa rotina. Vou renovar minha assinatura”, compromete-se o gestor.