REINALDO SILVA
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As geadas se espalharam por todo o Paraná. No dia mais frio do ano, pastagens e lavouras ficaram comprometidas e os produtores tiveram prejuízos. A avaliação é do pesquisador em agrometeorologia Pablo Nitsche, do Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (IDR-PR), que assegura: “Os danos são imediatos”. Na noite de domingo (18), os termômetros registraram 5,7 graus em Paranavaí, com queda gradativa até o início da manhã, quando a temperatura mínima chegou a 0,9 grau.
Foi o segundo período de geada neste inverno. Antes, o Estado já havia enfrentado dois dias seguidos do fenômeno meteorológico, 29 e 30 de junho, também com parte da produção rural prejudicada. Aliás, 2021 tem sido um ano complicado para agricultores e pecuaristas. Em abril e maio, o Paraná passou por longa estiagem, situação que se repete desde meados de 2019. Trata-se de uma das maiores crises hídricas da história.
Nitsche afirma que as pastagens são sensíveis ao frio, a grama queima e seca. Os produtores que não dispõem de fontes alternativas de suplementação alimentar para os rebanhos são os que mais sentem os efeitos da geada. “Os efeitos são maléficos.” Foram atingidas principalmente as áreas de baixada, onde o frio se concentra de forma mais densa. No início da manhã de ontem, o prefeito de Santa Cruz de Monte Castelo, Fran Boni, compartilhou nas redes sociais imagens de gramados cobertos de branco.
Não foi a única atividade rural afetada. O pesquisador do IDR-PR cita duas das principais culturas do Noroeste do Paraná que sentiram os efeitos da geada: a mandioca e a cana de açúcar. De maneira simplificada, explica que o frio intenso congela o líquido que circula pela planta e há uma expansão celular. O resultado é a morte. Assim, a produção diminui e os agricultores acumulam perdas. No caso da cana de açúcar, por exemplo, é preciso rebrotar, ou seja, há atraso no processo de cultivo.
Outras lavouras – As culturas anuais geralmente permitem a contratação de seguros contra intempéries e a maioria dos produtores tem. É uma possibilidade de reinvestir nas lavouras e recuperar a produtividade, aponta Nitsche. Entre as mais prejudicadas pela geada de ontem está a safra de milho – as plantações que resistiram à estiagem de abril e maio agora foram perdidas.
A falta de chuva no bimestre citado também teve efeitos negativos sobre o ciclo de produção de trigo, sendo necessário atrasar o plantio. Dessa forma, analisa Nitsche, os danos das geadas do inverno corrente podem ter sido menos expressivos.
Dia mais frio – De acordo com o Sistema de Tecnologia e Monitoramento Ambiental do Paraná (Simepar) ontem teve a menor temperatura deste ano em diversos municípios do Estado. Para se ter uma ideia, no dia 30 de junho Paranavaí chegou a 1,4 grau, marca um pouco mais alta do que a de ontem, 0,9 grau. A expectativa é de pequena elevação nesta terça-feira (20), com mínima de 5 graus, aumentando pouco a pouco até o final de semana. No domingo (25), a máxima pode chegar a 34 graus.
A queda brusca de temperatura é uma característica do inverno. Desta vez, foi provocada pela chegada de uma massa de ar polar que deixou o tempo frio e seco, informa o meteorologista do Simepar Samuel Braun. Em Paranavaí, da mesma forma que nos demais municípios paranaenses, foi preciso recorrer ao uso de roupas mais grossas e outros acessórios para espantar os efeitos do frio.