REINALDO SILVA
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Pastagens e lavouras cobertas de branco. A geada que se espalhou por municípios de todo o Noroeste do Paraná na madrugada de quarta-feira (30 de junho) comprometeu produções rurais e causou prejuízos. Foi o dia mais frio do ano, com registro de 1,4 grau em Paranavaí e os termômetros marcando abaixo de zero em diferentes regiões do Paraná, resultado de uma massa de ar polar que se instalou sobre o Sul do Brasil, mas já começa a se deslocar lentamente, deixando o vislumbre de elevação gradativa das temperaturas a partir desta quinta-feira (1º).
De acordo com o Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento (Seab), os pastos de produção pecuária foram os mais afetados. Ainda não é possível calcular as perdas, mas o ressecamento dos gramados vai exigir que os pecuaristas aumentem os investimentos com a compra de ração e complementação alimentar para os rebanhos. A orientação é que nos dias de frio mais intenso, os produtores protejam os animais em ambientes cobertos.
Da mesma forma que as pastagens, a geada comprometeu as lavouras. De acordo com o Deral, não existem muitos meios para proteger as plantações, especialmente as mais extensas. Quem cultiva dentro de estufas tem mais garantias contra os efeitos das baixas temperaturas. A preocupação é com os pequenos agricultores, que têm produção em menor escala e, na maioria das vezes, perdem todo o trabalho.
Não foi o caso de Alceu de Freitas. Ele é responsável pela manutenção de uma horta em Paranavaí: prepara a terra, planta, cultiva, colhe. A pequena propriedade fica na área urbana e oferece alface, rúcula, couve, salsinha, cebolinha, coentro e outras variedades de hortaliças. Na manhã de ontem, por volta das 6h, quando chegou ao local, ele jogou água sobre as plantas para empurrar os flocos de gelo e evitar que comprometessem o desenvolvimento das folhas. Aparentemente, a técnica funcionou. “Não perdemos muito.”
A preocupação do produtor é que a constância do frio afete as plantações de maneira definitiva. Entre segunda e terça-feira, Paranavaí alcançou a marca de 2,2 graus, até então, o registro mais baixo do ano. A previsão para esta quinta-feira indicava mínima de 5 graus. Com o deslocamento da massa de ar polar, a expectativa é que na sexta-feira (2), as temperaturas variem de 9 a 25 graus. A meteorologista do Sistema de Tecnologia e Monitoramento Ambiental do Paraná (Simepar) Lídia Mota informa que pelo menos até a próxima semana, todos os dias terão céu claro.
Alívio para agricultores e pecuaristas, principalmente aqueles que amargaram prejuízos com a geada de ontem e já sentiam os efeitos da estiagem que se estendeu por um longo período, desde meados de 2019 até o final do ano seguinte. As chuvas volumosas que caíram sobre o Noroeste do Paraná em dezembro de 2020 e janeiro deste ano sinalizavam recuperação, mas a escassez de precipitação não contribuiu para a recuperação do solo. No caso do milho (segunda safra), as perdas já se acumulavam antes mesmo da chegada do inverno.
Cenário urbano – Na última segunda-feira (28 de junho), ventos frios derrubaram as temperaturas e a sensação térmica em Paranavaí e anunciaram a intensidade do inverno, estação que teve início no dia 21 de junho e vai até 22 de setembro. Na manhã de ontem, a geada transformou a paisagem urbana, como aconteceu no lago do Parque Ouro Branco. Às 7h, o fotógrafo do Diário do Noroeste, Ivan Fuquini, registrou a névoa sobre a água, resultado da condensação da umidade em forma de vapor, que acontece em períodos de baixas temperaturas.
Os paranavaienses precisaram incrementar o uso de vestimentas para se proteger do frio. Calças compridas, casacos mais pesados, gorros, luvas e cachecóis deixaram os guarda-roupas e acompanharam as pessoas que precisaram sair de casa. As peças típicas de inverno deverão ser vistas com frequência durante todo o inverno, que, segundo o Simepar, será marcado por massas de ar seco de origem polar, com quedas bruscas de temperatura em períodos de 24 e 48 horas.
Difícil para quem sai de casa antes mesmo do nascer do sol e enfrenta as madrugadas gélidas da estação. Célio Augusto atua na varrição de ruas, avenidas e lugares públicos de Paranavaí há oito anos. O frio sempre fez parte da rotina de trabalho nos dias de inverno, mas ele conta que nunca vivenciou sensação térmica tão baixa como terça e quarta-feira.
A boa notícia para quem não tem afeição pelo frio ou precisa enfrentar as intempéries no dia a dia é que podem ocorrer veranicos, ou seja, períodos com temperaturas mais altas, provocadas por massas de ar quente e seco. São de rápida duração e marcados por céu claro.
Abordagem social – Desde que as noites de Paranavaí ficaram mais frias, a equipe municipal de Abordagem Social está mobilizada para acompanhar e acolher pessoas em situação de rua. Na segunda-feira, foram 14 intervenções e duas pessoas aceitaram ir para o Centro da Juventude para passar a noite, com alimentação incluída. O grupo de Centro de Referência de Assistência Social (Creas) também fez busca ativa na terça-feira e retirou quatro pessoas das ruas temporariamente.
Com as rondas diárias, é possível realizar testes rápidos para Covid-19 e oferecer alimentação, banho, transporte e pernoite. As pessoas que optam por permanecer na rua recebem cobertores e itens de higiene pessoal e equipamentos segurança individual. A orientação é: se houver alguma situação que precisa ser verificada, basta fazer contato pelo telefone do plantão da Abordagem Social, (44) 99156-5064.