NATHALIA GARCIA
DA FOLHAPRESS
O Ministério da Economia elevou a expectativa de inflação deste ano de 6,55% para 7,9% e manteve a projeção para o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) para 2022 em 1,5%.
As projeções do ministério divulgadas nesta quinta-feira (19) estão no Boletim Macrofiscal, atualizado bimestralmente pela SPE (Secretaria de Política Econômica). Os dados anteriores haviam sido anunciados pela pasta em março e são revisados periodicamente porque servem de referência para ajustar a execução orçamentária.
A taxa prevista de 7,9% para o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) supera a meta a ser perseguida pelo Banco Central. O valor fixado pelo CMN (Conselho Monetário Nacional) para este ano é de 3,5% -com 1,5 ponto percentual de tolerância para mais ou para menos.
Mais cedo, em evento em São Paulo, o ministro Paulo Guedes (Economia) disse que o Brasil já saiu “do inferno” ao se referir à inflação. “Nós já saímos do inferno, conhecemos o caminho e sabemos como se sai rápido do fundo do poço”, afirmou.
“A principal motivação dessa revisão foi a surpresa da inflação no primeiro trimestre, principalmente dos administrados. Também teve impacto maior dos alimentos, olhando para o primeiro quadrimestre do ano”, disse o subsecretário de Política Macroeconômica da SPE, Fausto Vieira.
Os valores do governo para inflação estão em linha com os números esperados pelo mercado. Mas o boletim Focus, que traz previsões feitas por analistas e reunidas pelo BC, está defasado. Devido à greve dos servidores da autarquia, a última pesquisa foi divulgada no dia 29 de abril. Nela, os economistas estimaram que o IPCA deve avançar 7,89% neste ano e 4,10% em 2023.
Para o próximo ano, a projeção de inflação do Ministério da Economia subiu de 3,25% para 3,60%. A percepção de piora do cenário inflacionário tem se difundido entre os analistas do mercado financeiro.
O Credit Suisse vê o IPCA subindo 9,8% neste ano, enquanto a XP Investimentos revisou sua projeção para 9,2%. Em um levantamento feito pela corretora, de 13 a 15 de maio, com 45 economistas e investidores, a mediana das estimativas indicava a inflação para 2022 em 8,80%.
O BC já admite alta probabilidade de novo estouro da meta de inflação. Se a projeção se confirmar, o presidente da autarquia, Roberto Campos Neto, deverá escrever uma nova carta ao ministro da Economia explicando as razões para o descumprimento do objetivo pelo segundo ano consecutivo. A inflação fechou 2021 em 10,06%.
A estimativa da pasta para o INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor) subiu de 6,7% para 8,1%. Esse índice é usado na correção do piso nacional do salário mínimo e de outros benefícios sociais. Sobre essa base de cálculo, o salário mínimo que hoje é de R$ 1.212 tende a ser corrigido em 2023 para R$ 1.310, caso não haja ganho real.
Já a projeção da SPE para o IGP-DI (Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna) saltou de 10,01% para 11,40%. Esse índice tem uma abrangência maior para medir a alta dos preços, pois engloba também o setor atacadista e a construção civil.
Como resposta à inflação em alta, a escalada dos juros no Brasil já completa mais de um ano no Brasil. No dia 4 de maio, o Copom (Comitê de Política Monetária) do BC elevou a taxa básica de juros (Selic) em 1 ponto percentual, passando de 11,75% para 12,75% ao ano. Para a próxima reunião, em junho, sinalizou uma provável alta adicional de juros de menor magnitude. Isso significa que o ciclo de aperto monetário ainda não terminou.
O aumento da Selic é um dos fatores que ajuda a frear a atividade econômica do País. Mas, apesar da inflação galopante e de uma política monetária em níveis restritivos, houve estabilidade na conta do governo para a expansão econômica em 2022.