Polícia Civil e Polícia Militar deflagram ação inovadora com mandados de busca, apreensões de motos e medidas cautelares contra envolvidos na prática do “grau”; operação pode ser replicada em outras cidades da região
Cibele Chacon e Monique Manganaro
Uma operação conjunta entre a Polícia Civil e a Polícia Militar foi deflagrada na manhã desta terça-feira (24) em Paranavaí, com o objetivo de reprimir crimes de trânsito, especialmente a prática perigosa de empinar motos, conhecida como “grau”. A ação, batizada de Operação Sem Grau, cumpre mandados de busca e apreensão e impõe medidas cautelares a investigados que promoviam e incentivavam esse tipo de conduta tanto em rodovias quanto em vias urbanas da cidade.
Foram cumpridos 10 mandados de busca e apreensão, que resultaram na apreensão de 19 motocicletas, além de celulares que serão periciados. Também foram impostas medidas cautelares como suspensão do direito de dirigir, proibição de obter a CNH, monitoramento por tornozeleira eletrônica, recolhimento noturno e suspensão das redes sociais dos alvos investigados.
Operação inédita no Paraná

Foto: Ivan Fuquini
De acordo com o comandante do 8º Batalhão da Polícia Militar, tenente-coronel Radamés Luciano Vinha, a operação foi inspirada em uma ação semelhante já aplicada em outro estado brasileiro. “O planejamento começou meses atrás. Aqui no Paraná, essa operação é inovadora, porque também atinge quem fomenta esse tipo de crime nas redes sociais e pratica essas manobras nas ruas”, explicou.
Radamés ressaltou que a proposta tem caráter preventivo, além de punitivo, com potencial para ser replicada em outras comarcas da região. “A ideia é a prevenção. Como primeira ação desse tipo no estado, a operação busca alertar sobre os riscos e coibir a prática, que coloca a vida de terceiros em perigo. Já identificamos casos similares em cidades como São Carlos do Ivaí e Nova Esperança”, destacou.
Investigação detalhada e medidas rígidas

Foto: Ivan Fuquini
O delegado-chefe da 8ª Subdivisão Policial de Paranavaí, Marcelo Luiz Trevisan, destacou que a investigação resultou na instauração de inquérito policial por diversos crimes, como associação criminosa, crimes de trânsito e adulteração de veículos. O trabalho investigativo teve como ponto de partida vídeos publicados pelos próprios infratores em redes sociais, onde exibiam as manobras arriscadas com orgulho.
“Estamos analisando os celulares apreendidos e faremos perícias nos veículos. Enquanto o inquérito estiver em andamento, os alvos seguem com tornozeleira eletrônica, restrição de circulação noturna e aos fins de semana. Em caso de descumprimento, podem até ter prisão preventiva decretada”, afirmou Trevisan.
Segundo o delegado, a exposição constante dessas práticas na internet pode configurar apologia ao crime, o que também está sendo investigado. “Publicar vídeos de forma reiterada estimulando a prática pode ser enquadrado como crime. Essa conduta fomenta que adolescentes e até crianças repitam o comportamento”, disse.
Perfil dos investigados e riscos à população
A operação revelou que muitos dos envolvidos não possuíam CNH, e mesmo assim pilotavam motocicletas, inclusive sem placas, muitas vezes emprestadas de parentes. “Alguns estão pagando consórcio, nem terminaram de quitar a moto, e mesmo assim se arriscam, colocando a própria vida e a dos outros em risco”, observou o comandante Radamés.
Os locais mais recorrentes para as manobras perigosas, segundo as autoridades, são as avenidas Paraná e Heitor Furtado, em Paranavaí, mas os encontros também ocorrem em outros bairros e, por vezes, até em frente a viaturas policiais, em atitudes de desafio às autoridades.
“Já tivemos situações em que empinaram motos na frente da viatura apenas para gravar vídeos e ganhar curtidas. Uma das redes associadas aos alvos tem mais de 200 mil seguidores”, revelou o delegado.
A operação também resultou na apreensão de outras motocicletas encontradas nas residências dos investigados, mesmo que não fossem diretamente utilizadas nas infrações, justamente para impedir que continuassem com as práticas usando veículos de terceiros.
Prevenção para evitar tragédias

Tanto a Polícia Civil quanto a Polícia Militar destacam o caráter educativo e preventivo da Operação Sem Grau, visando a segurança viária e o bem-estar coletivo. A prática de empinar motos e realizar manobras perigosas não apenas fere as normas do Código de Trânsito Brasileiro, mas representa risco iminente de acidentes, especialmente envolvendo pedestres, crianças e idosos.
“O apoio da imprensa é fundamental para conscientizar e evitar que mais jovens se envolvam nesse tipo de prática. Crianças já estão empinando bicicletas na frente das viaturas, o que mostra que esse comportamento influencia desde cedo”, alertou o comandante do 8ºBPM.
A Operação Sem Grau segue com as investigações em andamento e poderá ser estendida a outras cidades da região, conforme a realidade local. “O objetivo é tirar das ruas quem está colocando em risco a segurança da população”, finalizou o tenente-coronel.