Em entrevista ao Diário do Noroeste, Fernando Braz Tangerino Hernandez apontou a necessidade de avançar nas políticas de fortalecimento do setor
REINALDO SILVA
Da Redação
Mato Grosso do Sul tem a maior projeção de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) para 2025 entre todos os estados brasileiros. Um levantamento do Banco do Brasil indica elevação de 4,2% em relação ao ano anterior, mais que o dobro da média nacional, que é de 2,2%. O agronegócio é o principal responsável pelo desempenho esperado.
De acordo com o professor Fernando Braz Tangerino Hernandez, coordenador da Área de Hidráulica e Irrigação da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e membro do conselho consultivo da Associação Brasileira de Irrigação e Drenagem (Abid), a explicação para o otimismo está na entrada da citricultura e na implantação do sistema de integração lavoura-pecuária nas propriedades rurais sul-mato-grossenses.
Fique por dentro de tudo o que acontece em Paranavaí e região! Clique aqui e entre no grupo de WhatsApp do Diário do Noroeste.
Hernandez conversou por telefone com o Diário do Noroeste e disse que os bons resultados só serão alcançados se Mato Grosso do Sul mantiver políticas eficientes de irrigação. Equipamentos adequados, técnicas profissionais e inovação garantem redução de custos, aumento de produtividade e consolidação socioeconômica.
É exatamente o que defende a Associação dos Produtores Irrigantes do Paraná (Apip), que oficializou junto ao Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional (MIDR) o pedido de reconhecimento do Noroeste como polo de agricultura irrigada. Seria a primeira região do estado inserida nas ações da Política Nacional de Irrigação.
O professor da Unesp afirmou que, independentemente do sistema adotado pelo produtor, a irrigação oportuniza transformação e tem efeitos multiplicadores: com mais qualidade nas lavouras e sem intervalos entre as safras, surgem novos empregos, a renda dos trabalhadores cresce e o dinheiro é investido nos estabelecimentos locais, inclusive gerando novas divisas para os cofres públicos.
No aspecto ambiental, a irrigação também oferece ganhos importantes. Com o controle adequado do uso da água, o solo permanece sempre úmido e fértil, o que significa mais áreas cobertas por plantações e melhores condições para manter áreas verdes. A consequência é a eficiência no processo de captura de gás carbônico, que danifica a camada de ozônio e contribui para o aquecimento global e as mudanças climáticas.
DESAFIO – Hernandez avaliou que implantar sistemas de irrigação nas propriedades rurais é um grande desafio, pois ainda há resistência de parte dos produtores. “Por mais óbvio que seja, ainda precisamos mostrar a importância da irrigação com argumentos econômicos. É uma via realista para ter resultados positivos e aumentar a produtividade.”
Um aspecto surge como entrave no processo de convencimento: os investimentos iniciais são altos, principalmente a aquisição dos equipamentos de irrigação, mas também a preparação das redes elétrica e hidráulica. Disse o professor da Unesp: “Quanto maior a capacidade de entrega, maior o investimento”. Ao mesmo tempo, “menor o custo operacional”.
POLO REGIONAL – A formalização do polo regional de agricultura irrigada facilita o acesso a projetos e programas do governo federal, importantes, pois, segundo Hernandez, apenas quatro estados brasileiros instituíram políticas de fortalecimento da irrigação: Paraná, São Paulo, Mato Grosso do Sul e Mato Grosso.
No caso do Paraná, o governador Carlos Massa Ratinho Junior lançou, em agosto de 2024, o Programa Estadual de Irrigação (Irriga Paraná), que tem como objetivo garantir produção e renda, segurança alimentar, intensificação e expansão da agropecuária e desenvolvimento sustentável.
“Independentemente do nível de operacionalidade da política [pública], ter o estado e o governo federal reconhecendo a importância da irrigação só pode trazer benefícios”, ponderou Hernandez.
Segundo ele, em cálculos aproximados, o Brasil tem 60 milhões de hectares dedicados ao plantio, mas apenas 9 milhões são irrigados, o que classificou como pouco. O crescimento também é tímido, em torno de 300 mil hectares por ano.