João Guilherme está na moda. Conhecido desde criança por atuar em novelas do SBT, ele chegou aos 21 anos com a barba cheia, desfilando com looks ousados e mostrando o peitoral malhado nas redes sociais. Virou um galã da geração Z.
Agora trabalhando como um misto de ator e influenciador digital, ele afirma querer fazer sua carreira avançar. Está tentando turbinar o currículo com personagens maduros que ainda fisguem seu público cativo.
É com isso em mente que ele protagoniza o clipe “Me Lambe”, do cantor Jão, outro queridinho da garotada. No vídeo recém-lançado, Guilherme se fantasia de gato e dá uma lambida no rosto do músico. Foi o suficiente para atiçar a internet por dias.
Além disso, ele lançou nos últimos meses os seriados “De Volta aos 15”, da Netflix, e “Vicky e a Musa”, do Globoplay. No ano que vem, vai dar rosto a um riquinho viciado em drogas na série “Da Ponte pra Lá”, da HBO Max.
Na TV aberta, tem aparecido cada vez mais na Globo e menos no SBT. Fora das telas, fechou contratos de publicidade com marcas como iFood, Volvo e O Boticário
Nunca se falou tanto em João Guilherme. Mas isso não tem a ver só com sua sensualidade ou com a ascensão profissional que tem vivido.
O que mais fez ele virar assunto, na verdade, foi ter vestido um cropped na Semana de Moda de Paris de junho. Ele escolheu um modelo off-white, de mangas compridas, fechado com botões, que deixava poucos centímetros da barriga de fora. Posou com uma bolsa no ombro esquerdo e um leque na mão direita.
Foi o suficiente para iniciar-se na internet um debate sobre moda agênero, isto é, o uso de peças de roupa sem gênero.
O ex-BBB e comediante Nego Di publicou um vídeo no Instagram debochando do look. “Que pouca vergonha. Não precisa dessa perfumaria para dar o rabo. Se veste que nem uma cachorra”, disse. O vídeo foi compartilhado pelo ator Rafael Cardoso, galã de novelas da Globo.
“É rir para não chorar. Fiquei incrédulo”, conta Guilherme, estirado numa cadeira de praia no quintal de um estúdio em São Paulo. “Nego Di se diz humorista, mas não tem graça nenhuma. Uma comédia que, Deus me livre, pode inspirar alguém.”
“Eu não ia dar palco nenhum. Mas o repost do Rafael me pegou”, ele segue. “É um colega de profissão que deveria entender sobre liberdade de expressão. Se vestir num personagem é igual a vestir um cropped. Aí decidi me posicionar”, diz.
No auge do burburinho, Guilherme publicou no seu perfil no Instagram as manchetes de quatro notícias sobre pessoas LGBTQIA+ que foram agredidas e mortas. Ele compartilhou perfis de instituições que acolhem pessoas da comunidade, como a Casa 1, de São Paulo.
“Tamanho e comprimento de roupa não dizem nada sobre minha orientação sexual nem sobre minha identificação de gênero”, afirma.
Seu interesse por moda surgiu quando ele começou a andar de skate, aos 11 anos. Na tentativa de se enturmar com os outros skatistas, aboliu as calças agarradas ao corpo e comprou camisetas folgadas.
Aos 15 anos, o ator viajou pelo país em turnê com o elenco da novela “Cúmplices de um Resgate”. Inspirado em Justin Bieber e Jaden Smith, ele usou saia em uma das apresentações. E gostou.
A partir daí virou adepto da moda agênero. “Hoje minhas camisetas são mais curtas. Não é porque parei de andar de skate ou porque gosto de beijar meninos. Moda agênero faz parte da moda como o jeans e o couro fazem. É só tua cabeça não ser do tamanho da sua bola.”
O ator diz se sentir um manequim quando seus looks causam polêmica. “Dizem caramba, essa geração está perdida, sendo que não, meu amor. Lá nos anos 1990, havia roqueiros com maquiagem e unhas pintadas”, afirma.
Vestimentas ousadas fazem parte da construção de imagem de João Guilherme, diz Rafael Nascimento, diretor da marca Another Place. Ele, que levou o ator para desfilar de cropped pela marca na São Paulo Fashion Week do ano passado, diz ver Guilherme como um bom canal para roupas sem gênero alcançarem a massa.
Guilherme, que afirma ser heterossexual, atribui sua proximidade com a comunidade LGBTQIA+ aos sets de gravações. São espaços povoados pela comunidade e onde se aprende a respeitar ao próximo, nas palavras dele.
O ator tinha sete anos quando foi convidado por um colega de família para os testes do curta-metragem “Vento”, de 2009. Foi seu primeiro trabalho como ator. Anos depois, protagonizou com José de Abreu o filme “Meu Pé de Laranja Lima” (2013).
Foi por causa de um ensaio de fotos de Dia das Crianças publicado numa revista que uma produtora de elenco do SBT encontrou Guilherme. Ela simpatizou com a imagem do menino e o convidou para os testes do folhetim infantil “Cúmplices de um Resgate”.
Deu certo. Guilherme ficou na emissora dos 13 aos 17 anos. Gravou duas temporadas de “Cúmplices” e a novela “As Aventuras de Poliana”, nas quais fazia par romântico com a atriz Larissa Manoela, que também foi sua namorada na vida real. Nesse período, ele foi escalado também para os filmes “Tudo por um Popstar” e “Fala Sério, Mãe”.
Filho do cantor sertanejo Leonardo, um dos mais famosos do Brasil, Guilherme cresceu estudando em colégio particular, fazendo inglês e praticando esporte tudo financiado pela pensão enviada pelo pai, segundo ele.
Guilherme foi criado pela mãe, a empreendedora Naira Ávila. Conviveu pouco com o pai, que costumava encontrá-lo quando fazia shows em São Paulo.
“Não fazia sentido ir morar com ele, que tinha uma vida muito mais ativa e louca, e outros filhos também”, diz. “Hoje temos que ornar as agendas. A gente faz encaixar, mas sabemos quais são nossas prioridades. Ele tem as dele pelo Brasil inteiro.”
Os dois protagonizaram uma rusga no ano passado. Guilherme criticou Leonardo na internet após o cantor visitar Jair Bolsonaro em Brasília para apoiar o ex-presidente numa coletiva de imprensa. “Esse país não pode jamais mudar as cores da bandeira”, afirmou o sertanejo, ao lado do também cantor bolsonarista Gusttavo Lima.
Guilherme diz ter se sentido enojado quando viu o vídeo. À época, o ator publicou no Twitter que o pai estava cego. “Peço desculpas pela falta de educação e de sensibilidade do meu pai”, escreveu.
Com isso, o ator decidiu usar suas próprias redes sociais para apoiar o atual presidente Lula, do PT. “A internet tem funcionalidade para trocar ideias, mudar opiniões e ter essa troca que faça diferença em alguma porra. Não é só para postar foto sem camisa. Seria desesperador ter mais quatro anos daquele governo.”
A vontade de dar pitaco em política foi fortalecida pela sua relação com o seu tio e empresário Pe Lu, da banda Restart. “Com a criação, vida e privilégios que temos, me parece natural que a gente se posicionasse contra [o governo]”, afirma o músico.
Guilherme garante que vai tudo bem na relação com Leonardo hoje em dia. O ator viajou em julho para Goiânia para celebrar os 60 anos de vida do cantor. “Não muda nada. Não tem como odiar e parar de amar a família por mais que você repugne e lute contra a opinião deles.”
GUILHERME LUIS – SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)