*Isabela Candeloro Campoi
O tema da violência contra as mulheres sempre sensibiliza, não importa o seguimento social: os casos na vizinhança, os episódios locais ou as matérias jornalísticas de repercussão nacional, a recorrência do tema invade o nosso cotidiano, queiramos ou não. As diversas formas de violência contra as mulheres acontecem e é impossível não se dar conta desse problema. Por isso é preciso falar sobre o tema e o Conselho Municipal dos Direitos da Mulher de Paranavaí encampou o movimento internacional instituído pela ONU (Organização das Nações Unidas) de 16 dias de ativismo pelo fim da violência contra as mulheres, que no Brasil foi assumido como os 21 dias de ativismo, englobando o 20 de novembro, dia da Consciência Negra. Nosso país, herdeiro da escravidão, carrega os resquícios de uma sociedade que se valia de pessoas escravizadas como força econômica e eles estão refletidos na atualidade: mulheres negras são vitimadas pelo peso de uma herança dupla, ou seja, o patriarcado e a escravidão.
Em Paranavaí, desde 2018, foi instituída a “Semana de Conscientização e Combate ao Feminicídio e Violência contra a Mulher” através da lei 4.720/2018 assinada pelo prefeito Carlos Henrique Rossato Gomes (Podemos). Assim, na toada do movimento internacionalista, estamos localmente assimilando a tarefa de promover o debate, de indicar caminhos possíveis para sanar esse problema tão grave que assola a sociedade brasileira como um todo. Ainda que seja óbvio, precisamos mostrar aos nossos cidadãos que as mulheres são seres humanos e, portanto, iguais em direitos e dignidade.
O machismo estrutural quase sempre cega e impede que nosso olhar enxergue problemas em comentários do tipo: “Parece até que ela gosta de apanhar” e não percebe que a dependência financeira (e também psicológica) dessa mulher a faz se subjugar ao homem que a violenta. Ou ainda piores, tais como: “Também, olha o lugar onde ela estava e ainda usando a roupa que ela estava usando”, o que torna a vítima culpada pela violência sexual sofrida, denotando a falta de liberdade da mulher em ir e vir. São essas pequenas impressões cotidianas sobre as mulheres, de senso comum e tão enraizadas, que precisamos combater.
Então, nós mulheres, devidamente organizadas em âmbito municipal, estamos inseridas na campanha mundial, marcada em memória aos assassinatos das irmãs Mirabal da República Dominicana ocorridos em 1991, cuja mobilização foi assumida pela ONU em 1999. A violência contra as mulheres é uma das mais recorrentes violações dos Direitos Humanos no mundo: estima-se que uma em cada três mulheres e meninas seja vítima de algum tipo de agressão. E estamos mobilizadas para que isso pare, pois o debate é sério, a bebida é amarga, mas precisa ser explicitada e trazida à tona.
No rol das ações existentes em Paranavaí, está a Rede de Atendimento e Enfrentamento à Violência contra Mulheres, referendada pelo Conselho Municipal dos Direitos da Mulher. A rede atende mulheres em situação de violência e conta com órgãos e entidades em defesa das nossas mulheres, tais como as secretarias municipais de Saúde e de Assistência Social, a Patrulha Maria da Penha (PM), a Delegacia da Mulher (Polícia Civil), o Núcleo Maria da Penha (Numape/Unespar) e o Ministério Público. Em reuniões mensais que ocorrem atualmente de forma remota, a rede de proteção procura agir no sentido de dar acesso às políticas públicas às mulheres em situação de violência, seja através de programas sociais já existentes, seja por meio dos atendimentos jurídicos e de assistência social prestados pelo Numape, por exemplo.
A tarefa é árdua, mas precisa ser feita e nosso município não tem medido esforços para que as diversas formas de violência sejam enfrentadas. Assim, este é o momento de trazer à tona esse problema, aumentado por conta da pandemia. As relações de gênero, construídas histórica e culturalmente, colocam as mulheres como cidadãs de segunda classe e, também por isso, mais vitimadas pelas violências. O caminho até aqui foi difícil, mas com muitas conquistas. A própria existência do CMDM é prova da nossa resistência: dos 399 municípios do Paraná, em 2019, apenas 84 contavam com conselhos dos direitos da mulher. Esse número caiu para 55, ou seja, o Paraná perdeu 29 conselhos municipais dos direitos da mulher e Paranavaí não está nesta lista, já que estamos ativas e fortes.
Convidamos todos os cidadãos, todas as cidadãs de Paranavaí a refletirem sobre o problema, a repensarem suas posturas sobre o gênero feminino, a emprestarem suas vozes ao se deparar com mulheres ou meninas em situação de violência, denunciando e contribuindo para que isso acabe, definitivamente.
*Isabela Candeloro Campoi é professora da Unespar e presidenta do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher de Paranavaí