Por Chico Ramos
Isolde era linda!
Cabelos caramelados, olhos muito azuis, formas delgadas.
Assim, entontecido, a viu pela primeira vez. Na exuberância dos 15 anos, até seu caminhar era sedução.
Sofreguidão tomou conta dos sentidos. A expectativa de merecer sua atenção inundou os pensamentos, de dia e, muito mais, a noite.
E pensar que ela nem sequer notara sua presença!
Nivaldo era alto, cabelos claros e olhos, também, azuis. Filho de descendentes de alemães, apesar de seus 16 anos, mostrava forte personalidade, e seu “orgulho alemão” lhe conferia certo charme, certa altivez.
Ela, filha de um coronel do exército, na época, considerado importante autoridade.
Numa das inúmeras caminhadas pela rua que, “por coincidência”, passava pela casa de Isolde, a primeira troca de olhares e o milagre da “química” entre os dois.
Na aguardada festa no quartel, o coração em descompasso registrou o respeitoso toque em suas mãos delicadas.
Era o começo de um novo tempo. A partir daquele dia foi autorizado, uma vez durante a semana, e aos domingos, a frequentar a casa de Isolde.
Do outro lado da rua a água das chuvas formava uma tímida lagoa. Ali se encontravam, se encantavam, e, assentados sobre duas pedras negras, sob a supervisão da zelosa mãe, que da varanda “cuidava” de cada gesto, de cada detalhe, como era costume, quando muito, podiam dar-se o dedo mindinho.
Numa das últimas vezes que ali estiveram ele lhe disse: “Um dia vou ser prefeito e aqui farei um lago para que você possa espelhar-se”.
Seis meses depois o coronel foi removido e com ele, e com seus sonhos, foi-se Isolde.
Aos 18 anos, um professor lhe apresentou Abraham Lincoln, Simon Bolivar e Arthur Schopenhauer, deu-lhe exemplos, a mão da filha em casamento e mudou seu modo de pensar a vida.
Naquele mesmo ano foi eleito o vereador mais votado. Na eleição seguinte, como prefeito, lembrou-se da promessa e, num de seus primeiros atos, mandou construir um lago, com água de um arroio próximo.
Pouco tempo depois, ali brotaram duas fontes, que apesar de pequenas, passaram a manter o nível do lago, que se tornou o principal cartão de visita da cidade.
Numa tarde, em seu terceiro mandato como prefeito, recebeu um bilhete com os dizeres: “Estive aqui, visitei o lago, e nele espelhei-me. Você cumpriu sua promessa. Deus te abençoe – Isolde”.
Desta história surgiu a lenda da índia e do cacique que, apaixonados, às margens do lago, trocaram juras de amor. Um dia seu amado partiu em uma aventura e não mais voltou.
As fontes são os olhos e a água, lágrimas da índia que numa das pedras onde se assentavam passou o resto dos seus dias à espera do amado.
Dizem que, em noite de lua cheia, quem fizer um pedido e mergulhar a mão esquerda no lago terá seu pedido atendido.
PS: aconteceu em uma cidade do Paraná
Chico Ramos é presidente honorífico da Academia de Letras e Artes de Paranavaí – ALAP