RENATO MACHADO,
JULIA CHAIB,
MARIANNA HOLANDA
E MATEUS VARGAS
DA FOLHAPRESS
O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou que vai receber na próxima segunda-feira (5) representantes do americano Joe Biden para discutir uma data de sua viagem aos Estados Unidos.
Segundo o petista, caso a ida a Washington seja confirmada, ela deve acontecer após sua diplomação, programada para o próximo dia 12, em Brasília. O ex-ministro Fernando Haddad havia citado essa possibilidade na quarta (30).
Lula falou sobre o assunto ao conceder uma entrevista nesta sexta-feira (2) ao chegar ao Centro Cultural Banco do Brasil, sede do gabinete de transição. Ao responder sobre a viagem, adiantou que pretende discutir com Biden temas que vão do papel geopolítico do Brasil à Guerra da Ucrânia, que ele chamou de desnecessária.
“Na segunda-feira [5] vem um representante do Biden aqui ao Brasil para conversar e discutir a data [da viagem]. Eu não posso viajar antes da diplomação. Então, se eu tiver que ir e for possível, será depois do dia 12, quando eu for diplomado”, afirmou o presidente eleito.
A delegação de Washington que estará no Brasil será chefiada por Jake Sullivan, conselheiro de Segurança Nacional. Nesta sexta, ao confirmar a viagem do chefe, o porta-voz do conselho, John Kirby, disse que a Casa Branca está em negociações para receber Lula “no momento apropriado”.
O governo Biden já havia dito que o democrata tinha interesse em agilizar um encontro para um diálogo presencial entre os dois líderes -o americano foi um dos primeiros chefes de Estado internacionais a parabenizar Lula pela vitória na eleição.
Como a Folha mostrou, os planos para o envio de uma delegação de Washington ao Brasil vêm desde antes do segundo turno, também como forma de destacar a confiança numa transição de poder dentro da normalidade.
Nesta sexta, Lula apontou que Brasil e EUA vivenciaram períodos políticos semelhantes, que evidenciaram a necessidade de defender a democracia, e que esse será um dos temas a serem tratados no eventual encontro com Biden.
“Eu acho que nós temos muita coisa para conversar, porque os EUA padecem de uma necessidade democrática tanto quanto o Brasil. O estrago que o [Donald] Trump fez na democracia americana é o mesmo que o [Jair] Bolsonaro fez no Brasil”, afirmou Lula.
A fala é uma referência direta à identificação do atual presidente, Jair Bolsonaro (PL), com o antecessor de Biden. No pleito de outubro, havia em Washington um receio de tumulto no Brasil similar ao de 6 de janeiro de 2021, quando uma multidão insuflada por Trump invadiu a sede do Congresso para impedir a confirmação da vitória do democrata na eleição.
Bolsonaro sempre foi apoiador de primeira hora do político republicano, tendo manifestado torcida por ele no pleito e depois ecoado alegações de fraude -que jamais foram provadas. Desde a posse do democrata, os líderes de EUA e Brasil mantiveram uma relação fria: nunca se falaram por telefone e só se reuniram uma vez, na Cúpula das Américas.
Na entrevista desta sexta, Lula ainda elencou como tema que considera prioritário para tratar com Biden a Guerra da Ucrânia, que vive um momento de inflexão -no front, analistas veem Vladimir Putin ganhando tempo para reorganizar as forças da Rússia, enquanto na parte diplomática alguns sinais de abertura de diálogo com Moscou surgem no horizonte.
“Eu penso que vamos conversar sobre política. Quero conversar sobre a relação Brasil e EUA, sobre o papel do Brasil na nova geopolítica mundial, quero falar com ele da Guerra da Ucrânia -que não há necessidade de ter guerra”, disse. “Esses assuntos nós vamos conversar, além obviamente dos que ele [Biden] quiser conversar comigo.”
Ao longo do conflito, o petista já fez críticas ao ucraniano Volodimir Zelenski e sugeriu que daria continuidade à posição equidistante apregoada por Bolsonaro nos últimos nove meses. Dias antes do segundo turno da eleição, em Moscou, Putin disse em um evento que mantinha boas relações tanto com Lula quanto com Bolsonaro e que via o Brasil como parceiro mais importante na América Latina.