Aos 12 anos, o menino conclui o tratamento após longo período de luta; a felicidade alcança um novo significado; a família fica ainda mais unida; todos ganham exemplos de fé e de perseverança
ADÃO RIBEIRO
4 de fevereiro marca o Dia Mundial de Combate ao Câncer. Doença grave, mas longe de ser um diagnóstico definitivo. Na perspectiva da esperança para as pessoas que vivem a busca pela cura e utilizando a data emblemática desta semana, apresentamos a luta de Samuel, 12 anos, que concluiu o tratamento de leucemia, um dos mais de 100 tipos da doença, conforme o Ministério da Saúde.
Na última quarta-feira (5), Samuel, a mãe Cristiane dos Santos de Paula e o pai Sérgio Belarmino Santos concederam entrevista ao Diário do Noroeste detalhando o longo período entre o diagnóstico e o fim do tratamento. A solução da medicina veio através de transplante de medula óssea em Curitiba.

Já reintegrado à escola e à sua rotina anterior, Samuel só quer levar “uma vida normal”, que, como testemunha, achava “meio chata” antes da doença. Hoje, após idas e vindas ao hospital, não tem dúvidas: a sua casa é o melhor lugar do mundo (como sugere a lembrança inevitável de Dorothy em “O Mágico de Oz”).
Hoje Samuel se preocupa com os afazeres escolares (está no 7º ano do ensino fundamental), jogar videogame ou andar de skate, saborear uma pizza ou carne de panela com arroz com o tempero inconfundível de mãe. Coisas simples a fazer para quem viveu uma grande luta, iniciada em dezembro de 2019.
A HISTÓRIA – Cristiane, a mãe, comenta que até então Samuel era uma criança sem problemas de saúde. No entanto, passou a sentir cansaço, o que parecia natural já que treinava karatê. Não era natural. O cansaço evoluiu para dores que passaram a ser investigadas e então veio o diagnóstico de leucemia.
Tudo mudou na vida de todos. Entre sessões de quimioterapia em Maringá, a família se desdobrava, se dividia para se manter unida. Foram longos três anos e meio. A mãe acompanhava Samuel, enquanto o pai Sérgio Belarmino dos Santos ficava em Paranavaí para cuidar da filha caçula, a Ana Clara, 9 anos, com apoio dos avós das crianças.

NOVO DESAFIO – O que já era difícil ficou ainda mais tenso. Concluídas as sessões de quimioterapia, Samuel parecia bem, mas a doença voltou, mais severa, conforme atestado em 2024. Foi então que a médica responsável pelo tratamento indicou novo protocolo: o transplante.
Testes feitos, o pai estava apto a ser o doador, dentro dos parâmetros atuais do Ministério da Saúde que considera o procedimento a partir de 50% de compatibilidade entre o doador e o receptor.
OUTROS – Cirurgia marcada para 20 de março, surgem imprevistos por conta de restrições no pagamento de honorários médicos por parte do plano de saúde. A questão foi judicializada, mas não havia tempo a perder com o transplante já marcado.
Feito acordo com o hospital e definidos valores, começa uma pequena batalha: arrecadar R$ 42 mil, o que foi alcançado em uma vaquinha, conforme publicação feita pelo Diário do Noroeste em matérias nos dias 8 e 9 de março de 2024.
Após o procedimento cirúrgico, um longo período de recuperação. Cristiane conta que, na média, o paciente fica internado entre 30 e 40 dias. No caso de Samuel foram 56 dias hospitalizado e com uma particularidade: a mãe fica também no hospital. Conforme concorda Cristiane bem humorada, a mãe é internada junto.
Saindo do hospital em 1º de maio, mãe e filho ainda ficaram em Curitiba para acompanhamento do pós-transplante. Tanto que dois dias depois da alta hospitalar, Samuel teve febre e voltou a ser internado. Foram outros longos 77 dias até a liberação e três permanências em UTI – Unidade de Terapia Intensiva. Foram cinco meses na capital do Estado, recorda Cristiane.
NOVA FASE – Em dezembro último veio a tão esperada notícia: o menino estava com o tratamento concluído. Ainda assim, precisa de acompanhamento periódico e cumpre pequenas restrições como não tomar sol. Essa limitação o leva a praticar o seu esporte preferido à noite. Samuel brinca de skate em casa ou na pista sempre após o pôr do sol. Nada que incomode Samuel, que sonha ser skatista profissional.
Ainda tão novo e depois de tantas provações, o agora adolescente dá valor ao cotidiano como levantar cedo, tomar café com a família e ir para a escola. O simples ato de voltar da aula e saborear uma pizza ou aquela carne de panela com arroz, citada no começo da nossa história, ganharam novo significado.

A percepção de novo sentido à vida é compartilhada por Cristiane, que fala sobre a sua noção dos problemas. Mesmo com a luta intensa, teve tempo de observar no hospital as histórias de pessoas em situação ainda pior e que continuam na batalha. E define que seu aprendizado principal foi a importância da fé.
Para Sérgio, a informação de que seria o doador foi a grande notícia da sua vida e que proporcionou uma sensação única, sem preço. Ver o filho através de uma janela do andar superior do hospital durante o pós-operatório foi tenso, o oposto do que sentiu quando pode finalmente abraçá-lo. A oração se tornou o refúgio em tempos de angústia e acompanha a vida da família desde sempre.
Por fim, um pedido de Sérgio: sejam doadores de medula. Você pode fazer a diferença definitiva para um ser humano de qualquer parte do planeta.
Veja a entrevista completa no canal do YouTube do Diário do Noroeste.
COMO SER DOADOR DE MEDULA – Em Paranavaí, as pessoas podem procurar o Hemonúcleo das 7h30 às 10h30 e das 13h às 14h30, de segunda a sexta-feira (na quarta-feira o atendimento é apenas pela manhã). O voluntário deve portar um documento original de identidade com foto.
Ao se voluntariar, é feita a coleta de uma amostra que vai para o banco de informações. Quando o doador é compatível com um paciente na fila de espera, é informado oficialmente e dá início aos trâmites até o procedimento. Pessoas de qualquer parte do mundo podem ser beneficiadas. O potencial doador deve ter entre 18 e 36 anos. Os dados permanecem no banco até o voluntário completar 60 anos.
NOTA: O objetivo do Diário do Noroeste com esses depoimentos é levar palavras de conforto para as pessoas que passam ou passarão pelo tratamento. Antes de tudo, a esperança e o compromisso de tratar temas sensíveis com o devido cuidado, na perspectiva de contribuir para uma vida melhor em comunidade.