Por Edson Godinho*
(Leia em silêncio)
… Nosso último suspiro
Uma mãe procura desesperadamente sua filha, até o momento em que descobre que a filha cortou toda e qualquer relação maternal e não pretendo vê-la nunca mais. Este é o argumento de “Julieta” (2016).
Caro (a) leitor (a), os filmes de Pedro Almodóvar devem ser assistidos com a mãe ao lado. Ao longo de sua cinebiografia, é possível acompanhar o processo de amadurecimento da figura da mãe, e são tantas mães. Mães conservadoras, mães alteradas, mães apaixonadas, mães histéricas, mães dependentes químicas, mães loucas de amor, mães omissas, mães reais.
Mesmo com um cinema tão embalado no fantasioso e no absurdo, fica clara ao longo da produção de Almodóvar a necessidade de verdades e esclarecimentos. Quem matou? Por que fui abandonado? O que fiz para merecer isso? Você é minha mãe?
Em “Dor e Glória”, do ano de 2019, Pedro Almodóvar nos apresenta ao seu filme mais autobiográfico, até então. Salva (Antonio Banderas), um cineasta maduro e consagrado, volta a se encontrar com o passado – “Volver”? O longa-metragem teve como locação a casa do protagonista, o apartamento do próprio Almodóvar, nada mais íntimo.
“A voz Humana” (2020) foi um dos primeiros filmes produzidos durante a Pandemia de Covid-19, a adaptação do texto original de Jean Cocteau sempre esteve na cabeça de Pedro Almodóvar. Citações a esta obra literária nos são apresentadas em “A Lei do Desejo” (1987), “Mulheres À Beira De Um Ataque de Nervos” (1988), “Ata-me” (1990), “Má Educação” (2004), entre outras produções.
Porém é em 2020 que Almodóvar faz a adaptação em formato curta-metragem, também seu primeiro filme falado em inglês, com a atuação de Tilda Swinton, que vive uma mulher abandonada e com desejos de vingança.
Em “Dor e Glória”, Almodóvar ao que parece conta um pouco de sua própria relação com a mãe, dinâmica com grande espaço na trama. Já em 2021, também com uma produção recorde em tempos de pandemia, Pedro Almodóvar conta a história de duas mães que engravidam sem planejamento, uma mulher de meia idade e uma adolescente, que se encontram no hospital às vésperas de dar à luz. Esse encontro muda a vida das protagonistas de “Mães Paralelas”, que fez sua estreia no Festival de Cinema de Veneza, no qual Penélope Cruz ganhou o prêmio de melhor atriz por interpretar uma das mães. A produção já está em cartaz nas salas de cinema na Espanha, no Brasil ainda não tem previsão de lançamento.
Quero agradecer aos quatro encontros que tivemos neste mês de setembro, para comemorar o aniversário de 72 anos de Pedro Almodóvar – 25/09/1949. EVOÉ!
*Edson Godinho é artista visual, produtor cultural e professor de Arte e História da Arte